MEGAOPERAÇÃO NO RIO

Após operação mais letal do Rio, especialistas defendem ações conjuntas no combate ao crime organizado

Na avaliação de especialistas, o debate passa por punição e estrangulamento financeiro das facções criminosas

 EDITORS NOTE: Graphic content / Residents stand next to lined-up bodies in front of a morgue truck on Sao Lucas Square of the Vila Cruzeiro favela at the Penha complex in Rio de Janeiro, Brazil, on October 29, 2025, in the aftermath of Operacao Contencao (Operation Containment). Residents of a favela in Rio de Janeiro lined up more than 50 bodies at a plaza in their low-income neighborhood on Ocotber 29, a day after the bloodiest police operation in the city's history, AFP reported. (Photo by Pablo PORCIUNCULA / AFP)
       -  (crédito:  AFP)
EDITORS NOTE: Graphic content / Residents stand next to lined-up bodies in front of a morgue truck on Sao Lucas Square of the Vila Cruzeiro favela at the Penha complex in Rio de Janeiro, Brazil, on October 29, 2025, in the aftermath of Operacao Contencao (Operation Containment). Residents of a favela in Rio de Janeiro lined up more than 50 bodies at a plaza in their low-income neighborhood on Ocotber 29, a day after the bloodiest police operation in the city's history, AFP reported. (Photo by Pablo PORCIUNCULA / AFP) - (crédito: AFP)

Com 121 mortos e 113 prisões, apreensões em massa, além da população em meio ao fogo cruzado, a operação das polícias civil e militar contra o Comando Vermelho, no Rio de Janeiro, se consagra como a mais letal da história. O caos expõe a fragilidade da segurança pública no RJ e o crescimento desordenado do crime organizado.

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Na avaliação de especialistas ouvidos pelo Correio, a solução é multifacetada, com debates sobre a punibilidade e as medidas sobre o chamado estrangulamento financeiro. 

Para o especialista em segurança pública Fagner Dias, professor do Ibmec, o aumento de penas não é o suficiente para o combate às facções. "É importante, claro, porém se você somente aumenta as penas e as ações policiais —para que exista a sensação de punibilidade — é necessário discutir para onde essas pessoas vão. Se forem para um sistema prisional dominado por facção, acaba virando uma escola do crime. Assim, teremos outro problema", destacou.

Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o crime organizado atuante no Brasil teve um faturamento de R$ 146 bilhões em produtos explorados em 2022. Na avaliação de Fagner Dias, é necessário elaborar estratégias que cortem as fontes de financiamento das facções para desarticulá-las.

"É preciso que o sistema público invista no estrangulamento financeiro dessas facções porque ela gira em torno do lucro. Só a punibilidade, então, não é o suficiente porque é um negócio muito rentável para os criminosos", argumenta Dias.

O professor de estudos brasileiros da Universidade de Oklahoma (EUA) Fabio de Sá e Silva aponta que as facções estão expandindo, inclusive, para fora do país. "No Rio, a atuação dessas organizações acaba tendo mais visibilidade porque gera disputas territoriais com muitas mortes e dinâmicas de opressão a comunidades. Mas a criminalidade organizada se espalhou pelo Brasil; as organizações inicialmente baseadas no Rio e São Paulo hoje têm presença em outros estados e regiões como a Amazônia também passaram a ser foco de atividades criminosas estruturadas", diz.

Segundo ele, é importante lembrar como essas organizações surgiram: no caso do Rio de Janeiro, pela repressão da ditadura, em São Paulo, por um massacre em presídio. "Essa repressão que sai nos jornais, baseada em ação policial violenta em territórios, é insuficiente, porque ela ataca apenas a linha de frente dessas organizações, em geral, formada por pessoas jovens, facilmente substituíveis, que fazem atividades mais simples como guarda e transporte de drogas. O planejamento e a gestão do lucro não serão interrompidos por tiros. Precisa de inteligência e investigação, inclusive, porque há uma intersecção cada vez maior entre crime organizado e economia formal", ressalta.

Violência

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública também ganhou força por conta do caos no Rio. O projeto, apresentado pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, prevê a integração das forças policiais e o fortalecimento do controle civil e democrático das instituições. 

Também está em discussão o projeto que enquadra as facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e  Comando Vermelho (CV) e milícias como terroristas. O professor Fábio Sá e Silva é contra a denominação das facções como crimes de terrorismo. "Chamar de terrorismo é ainda pior, além de um erro conceitual, fragiliza a soberania do Brasil", defende.

Mas há quem discorde. Para o presidente do Conselho Empresarial de Segurança da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Vinicius Cavalcante, a atuação dos integrantes das facções se encaixam, sim, como terrorismo. "Eles usam o mesmo modus operandi guerrilheiro e terrorista. Isso a gente não vai combater com o policiamento ordinário e com as leis frouxas do Brasil", disse. 

"A definição de terrorismo é o uso ilegal da violência contra pessoas, comunidades, grupos, para influenciar a vontade dessas pessoas. Essa é a ideia, essa é a definição mais básica, mais simples do terrorismo. Quando um criminoso dá uma rajada de metralhadoras para o alto, é para que saibam que ele manda", acrescenta Cavalcante.

O brasilianista James Green, professor emérito de história do Brasil na Brown University em Providence, Rhode Island, nos Estados Unidos, destacou que a escalada da violência no Rio de Janeiro reforça o imaginário entre os norte-americanos de que o país é violento. Na avaliação dele, há outras implicações para o país, porque a campanha do presidente dos EUA, Donald Trump, de combate ao narcotráfico na Venezuela pode reverberar no Brasil.

Green destacou que esse episódio poderá ser utilizado na campanha eleitoral, a exemplo da interferência de Trump nas eleições argentinas. "É possível que isso possa fazer parte de uma campanha da extrema-direita, quando ficar mais claro quem será o candidato no ano que vem", acrescentou. (Colaborou Rosana Hessel)

 


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postado em 30/10/2025 03:42
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