CB.DEBATE - DESAFIOS 2026

Brasil precisa aprender com povos tradicionais para avançar, diz reitor da UFPA

Em debate do Correio Braziliense, Gilmar Pereira defende integração entre ciência e saberes ancestrais e critica modelo de desenvolvimento baseado em crescimento ilimitado

Gilmar Pereira:
Gilmar Pereira: "Se a gente quiser avançar, inclusive no desenvolvimento e na justiça social, temos que aprender muito com os povos tradicionais" - (crédito: Minervino Júnior/ CB)

O Brasil não avançará rumo a um modelo sustentável de desenvolvimento sem aprender com os povos tradicionais. A avaliação é do reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Gilmar Pereira, que participou, nesta quarta-feira (10/12), do debate Desafios 2026: democracia, desenvolvimento e justiça social no Brasil contemporâneo, promovido pelo Correio Braziliense.

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“Se a gente quiser avançar, inclusive no desenvolvimento e na justiça social, temos que aprender muito com os povos tradicionais”, afirmou. O encontro reuniu especialistas, autoridades, empresários e representantes da sociedade civil para discutir caminhos para um país mais sólido, inclusivo e sustentável.

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Pereira integrou o painel "Entre a preservação e a corrida pelo progresso", dedicado a debater limites ao desenvolvimento, desafios da preservação e o papel das instituições democráticas.

Logo no início, disse que o país vive um momento de transição. “Nossa tarefa de desafiar cotidianamente precisa ter essa compreensão histórica de onde a gente está vindo”, comentou. Ele comparou gerações formadas “na máquina de escrever” com a juventude atual, destacando como isso produz visões distintas de mundo e trabalho.

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O reitor também citou o avanço do ceticismo social como barreira ao debate público. “Vivemos em um mundo em que há coisas sobre as quais eu não consigo convencer as pessoas. É assustador. E é aí que o papel da ciência se torna fundamental”, afirmou. Para ele, a difusão de negacionismos nasce da “impossibilidade de ouvir o outro”.

Pereira criticou ainda a lógica de crescimento econômico infinito. “Os animais são finitos, o planeta é finito, mas nossa leitura de desenvolvimento é infinita. Pensamos em crescer todo dia. Vai ter limite”, disse. Segundo ele, a discussão econômica ignora questões essenciais. “Não estamos preocupados se as pessoas vão comer ou não. Mentira. Estamos preocupados com o crescimento da indústria e do agro. E mesmo assim tem gente passando fome.”

Ao tratar do avanço da inteligência artificial nas universidades, defendeu a definição de valores que orientem seu uso. “Quase todos nós estamos criando cursos de inteligência artificial. Mas é preciso saber que função queremos para essa tecnologia. Que princípios éticos vamos estabelecer? Vamos ensinar algoritmo, técnica, filosofia e antropologia?”, indagou.

Saberes tradicionais

Pereira ressaltou que as universidades federais se tornaram mais inclusivas. “Hoje você tem pelo menos 50% na universidade pública de pretos, pardos, indígenas e alunos de escola pública”, afirmou. Para ele, essa mudança amplia a responsabilidade das instituições na construção de modelos sustentáveis.

Defendeu a “horizontalização dos saberes”, unindo conhecimento científico e ancestral. “Nós, acadêmicos, precisamos aprender com os ribeirinhos. Eles defendem a floresta há séculos, cuidam dos rios e dos peixes. É um exercício de sabedoria que precisamos incorporar”, disse.

Ele citou transformações na Amazônia, como o uso sustentável do açaí e da castanha-do-pará. “Antes se derrubava a palmeira para tirar um palmito de 200 gramas. Hoje se sabe que é muito melhor manter a palmeira e produzir o açaí”, afirmou. “Uma castanheira leva mais de 50 anos para produzir. Derrubá-la para fazer móveis é impensável.”

Segundo o reitor, essas mudanças rompem com a lógica da ditadura militar. “Estamos rompendo com a ideia de ‘terra sem homem para homem sem terra’, que foi aplicada muito fortemente na Amazônia”, disse.

Para além do meio ambiente, Pereira destacou a necessidade de vigilância permanente sobre as instituições. “Manter a democracia exige uma predisposição constante para lutar por ela. Não há uma decisão ou um marco que encerre o processo democrático”, afirmou. Ele concluiu reforçando que o futuro do país depende da integração entre conhecimento acadêmico, ciência e saberes tradicionais.

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postado em 10/12/2025 13:55
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