
O ano de 2025 deve ser lembrado como um período especialmente favorável aos investidores de perfil conservador no Brasil. Com a taxa básica de juros (Selic) mantida em patamar elevado ao longo de praticamente todo o ano — em 15% desde junho —, os ativos de renda fixa apresentaram retornos expressivos, frequentemente superando alternativas de maior risco, como ações e outros instrumentos da renda variável.
A combinação de juros elevados com uma inflação em desaceleração colocou o país entre os mercados com maior juro real do mundo, fortalecendo a preferência por investimentos voltados à segurança, à previsibilidade e à preservação do patrimônio.
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Segundo o economista Otto Nogami, professor do Insper, este ano reforçou uma lição clássica do mercado financeiro: não existe investimento universalmente bom, mas aquele adequado ao perfil do investidor e ao momento econômico.
"O ano de 2025 foi marcado por um ambiente financeiro relativamente mais favorável ao investidor conservador. Com a taxa Selic elevada durante boa parte do período, aplicações de renda fixa entregaram retornos expressivos, muitas vezes superiores aos obtidos por ativos de maior risco", afirmou.
Para 2026, ele avalia que o cenário começa a se desenhar de forma distinta. "A expectativa de início do ciclo de redução dos juros, sinalizada pelo Banco Central, tende a alterar o equilíbrio entre risco e retorno, exigindo mais planejamento e diversificação, sobretudo para quem está começando a investir agora", pontuou Nogami.
Esse movimento também é apontado pelo economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) César Bergo. Segundo ele, a política monetária restritiva adotada pelo Banco Central foi decisiva para o desempenho do mercado. "Foi um ano muito positivo para a renda fixa, com menos risco e mais rentabilidade, favorecida pela Selic em torno de 15% e por uma inflação em desaceleração. Esse cenário colocou o juro real brasileiro entre os maiores do mundo", disse.
Entre as alternativas mais indicadas para o próximo ano, Bergo aponta os títulos isentos de Imposto de Renda, como as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), que permanecem atrativas apesar do período de carência. Para quem prioriza liquidez imediata, a poupança pode cumprir um papel pontual, embora ofereça rentabilidade inferior a outras opções disponíveis, como o Tesouro Direto.
"O caminho natural é começar pelo Tesouro Direto, avançar para fundos de investimento atrelados ao CDI e CDBs de grandes bancos, sempre observando a garantia do Fundo Garantidor de Créditos, que cobre até R$ 250 mil por CPF", orientou. Ele também ressaltou a importância de evitar instituições mais arriscadas e de não concentrar recursos sem avaliar a solidez do emissor.
Os fundos imobiliários também entram no radar para 2026, especialmente em um ambiente de queda de juros. "Com juros menores, há uma tendência de valorização dos imóveis. Comprar um imóvel diretamente é pesado e tem baixa liquidez, mas os fundos imobiliários oferecem liquidez diária", disse Bergo, ressaltando a necessidade de analisar com cuidado a carteira de cada fundo.
Na prática, títulos atrelados ao CDI, Tesouro Selic, CDBs, LCIs e LCAs concentraram grande parte dos aportes ao longo do ano. O economista Leonardo Baldez resume o período como "o ano dos juros". "O melhor investimento em 2025 foi o mercado de renda fixa. Estamos com a Selic mais alta do mundo, e é um recurso que paga mais de 15% ao ano, com risco muito baixo", frisou.
Patrimônio
Além da renda fixa tradicional, 2025 também evidenciou um movimento mais estrutural de busca por organização financeira e preservação patrimonial. Para o tributarista Leonardo Briganti, sócio do escritório Briganti Advogados, cresceu de forma relevante a procura por consultorias financeiras, family offices e estruturas especializadas em gestão de patrimônio. "As famílias passaram a se preocupar mais com manutenção de legados e preservação do patrimônio no tempo. Isso ditou tendências claras ao longo do ano", observou.
Por outro lado, ele avalia que 2025 também marcou, ainda que de forma tímida em comparação a outros mercados, um avanço no amadurecimento dos investidores. "É interessante, por exemplo, observar o crescimento da procura e dos investimentos em ETFs (Exchange-Traded Funds), ou mesmo em criptoativos, também como estratégia de diversificação."
"Julgo ainda ser pouco, mas é um comportamento interessante do ponto de vista da maturidade do investidor, que se anima com regulamentações e novas regras que tornam esses ativos mais atrativos", esclareceu o tributarista.
Briganti também explicou que outro comportamento que ganhou destaque em 2025 — e que tende a se intensificar, inclusive em razão da legislação tributária local — está relacionado à alocação em ativos em moeda estrangeira. "O brasileiro está se conscientizando de que estar totalmente exposto em reais e ao risco Brasil não cumpre com a máxima patrimonial, preservação e perpetuidade", destacou.
Ao mesmo tempo, o ano deixou alertas importantes. Para Milene Dellatore, especialista em investimentos e diretora da MIDE Mesa Proprietária, muitos investidores registraram prejuízos não por golpes, mas por falta de conhecimento. "O ano de 2025 deixou um aprendizado muito claro: não adianta investir no que você não entende. Muita gente entrou em ações, derivativos e produtos complexos sem compreender o risco e o momento de mercado", afirmou.
Perspectivas
Se 2025 premiou a cautela, 2026 tende a exigir mais planejamento dos investidores. A projeção de início de um ciclo gradual de queda da Selic, possivelmente a partir do segundo trimestre, deve mudar a relação entre risco e retorno, impulsionando uma reorganização das carteiras e a busca por novas estratégias de alocação.
Na avaliação de Otto Nogami, o novo cenário exigirá mais método, especialmente para quem está começando a investir. "A queda dos juros deve mudar o equilíbrio entre risco e retorno, tornando essencial um planejamento mais cuidadoso e maior diversificação das carteiras", disse.
César Bergo reforçou que a transição deve ser feita com cuidado. "Esse interruptor vai começar a mudar: do pós-fixado para o pré-fixado, para garantir as taxas atuais. Mas o investidor precisa ficar atento ao IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), ao imposto de renda e aos seus objetivos. Em alguns casos, a migração pode não valer a pena", alertou.
Ele também destacou que, com juros em queda, a renda variável tende a ganhar espaço gradualmente. "O mercado de ações não se valoriza de uma hora para outra. É preciso entrar aos poucos."
Entre os investimentos que devem ganhar destaque em 2026 estão os títulos prefixados e atrelados à inflação, os fundos imobiliários, ações e ETFs, além da diversificação internacional. "Quem trava taxas elevadas antes da queda dos juros pode obter ganhos relevantes no médio e longo prazo", explicou Nogami. No caso dos fundos imobiliários, a expectativa é de recuperação após anos pressionados pelo elevado custo do capital.
A exposição ao exterior também deve continuar crescendo. Briganti chama atenção para dados do Banco Central que mostram aumento superior a 150% nos recursos enviados por brasileiros ao exterior até outubro deste ano, na comparação anual. "O investidor está se conscientizando de que ficar totalmente exposto ao risco Brasil e ao real não atende à lógica de preservação patrimonial", avaliou.
Para investidores iniciantes, a recomendação dos especialistas converge para o básico: compreender o próprio perfil, começar por produtos simples e evitar promessas de ganhos fáceis. "A regra número um do investimento é não perder dinheiro. E, para isso, conhecimento é fundamental", resume Milene Dellatore. Baldez complementa: "O mais importante é aprender a poupar, conhecer seu perfil e montar uma carteira balanceada de acordo com o risco que você quer correr."
O desempenho dos investimentos em 2025 evidenciou que disciplina e prudência foram recompensadas em um cenário de juros elevados. Para 2026, porém, o horizonte aponta para um ano de transição, com a perspectiva de juros mais baixos, maior volatilidade e decisões mais complexas. Nesse ambiente, a busca por rentabilidade isolada tende a perder espaço para uma estratégia mais ampla, baseada em diversificação, alinhamento ao perfil do investidor e foco na construção de patrimônio no longo prazo.

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