Mundial de Marcha Atlética

Caio Bonfim conta os meses para marchar na Esplanada

Ao podcast CB Esportes do Correio, o medalhista de prata em Paris-2024 fala sobre os planos para o ouro no Mundial de Marcha Atlética por Equipes em abril de 2026 em Brasília, o primeiro realizado no hemisfério sul

Caio Bonfim, e o presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), Wlamir Campos, são os convidados do Correio Braziliense no Podcast CB Esportes -  (crédito:  CB/Reprodução)
Caio Bonfim, e o presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), Wlamir Campos, são os convidados do Correio Braziliense no Podcast CB Esportes - (crédito: CB/Reprodução)

A oito meses do Mundial de Marcha Atlética por Equipes, em 12 de abril de 2026, na Esplanada dos Ministérios, o medalhista brasiliense nos Jogos de Paris-2024, Caio Bonfim, e o presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), Wlamir Campos, são os convidados do Correio Braziliense no Podcast CB Esportes. Em pouco mais de uma hora de entrevista, ambos falaram sobre a expectativa para o evento no centro da capital. Emocionado, Caio Bonfim diz que a competição "é a medalha que não está na prateleira" depois de anos de xingamentos e preconceito com a modalidade. "O som da buzina e os gritos mudaram". Wlamir Campos reforça. "É o primeiro no hemisfério sul. Nós precisávamos jogar luz na marcha atlética".

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Há um ano você conquistava prata em Paris-2024. Agora, faltam oito meses para o Mundial de Marcha Atlética por Equipes em Brasília. Qual é o sentimento?

Um misto do que a gente fez e ainda pode fazer. O Mundial de Marcha por Equipes é um presente depois de conquistar uma medalha olímpica. Evento muito grande porque os países podem levar até cinco atletas. Nos Jogos Olímpicos, são três. A China vem com time muito forte, Japão, Espanha, Itália. A nossa delegação é muito boa, de qualidade. A Viviane, Gabi, Erika, eu, Max, o Matheus. É muito bacana o que a gente está vivendo.

Brasília competiu com três países por esse direito...

Não é só mandar um email. Tem um monte de pré-requisitos. Tinha Espanha, Polônia e Equador concorrendo. A primeira vez no hemisfério sul. O Brasil foi ganhando corpo e, de repente, vem a grande notícia. A galera está com os olhos voltados para a marcha atlética. Está com saudade da Olimpíada e Brasília vai nos receber.

Os atletas já perguntam por Brasília?

Por enquanto, eles estão mais concentrados no Mundial de Atletismo, no Japão. A marcha atlética vai ter mudanças. É de 20km e vai passar a ser meia-maratona, 21km. E vai ter a estreia da Maratona de Marcha Atlética. Querem saber o local, o clima. Falei para ficarem tranquilos porque não tem seca em abril. Vai virar a chave quando passar o Mundial.

O seu desafio aumenta como anfitrião?

Tenho que chegar em forma. Como atleta, tenho que me blindar um pouco desse peso. Do contrário, eu não darei duas passadas.

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Ainda tem o fato de a sua mãe, Gianetti, jamais ter competido em Brasília. Você terá esse privilégio.

Cresci no ambiente do atletismo. Minha mãe foi a três Copas do Mundo. Isso sempre fez parte da nossa vida. Não tinha internet nem streaming. A gente esperava uma ligação para saber o resultado (risos). Fico feliz e emocionado porque é um privilégio. Participar já é legal, mas é em Brasília, no meu quintal.

Favorece?

Estou estudando o percurso com antecedência. Isso é um privilégio. A medalha olímpica trouxe esse poder e o prazer de competir em casa. Doze de abril de 2026 vai ser a realização de um sonho. O logo está lindo, com toda a beleza da arquitetura da cidade. O cenário ajuda.

A sua medalha abriu as portas do Mundial?

Se o Mundial de Marcha fosse daqui a quatro anos, nós perderíamos o "time".

O Mundial também é uma vitória contra o preconceito?

O dia em que eu escolhi ser marchador, eu escolhi ser xingado. Em Brasília, o xingamento era sempre com buzina e o grito. Assustava. No Rio, era na cara, o pedestre. Isso me deu mais combustível. A gente já chegou a ter 35 marchadores treinando. O teste de fogo era na rua.

O que mudou?

O som da buzina! Essa é medalha que não está nas prateleiras. O som da buzina mudou. Eu treino ali no Parque Jequitibá. Eu entendo que a marcha atlética não chama tanto a atenção, mas nós queríamos respeito. Fui assistir a um jogo do Brasília Basquete, no Nilson Nelson (pelo Novo Basquete Brasil), e a torcida me aplaudiu. O poder da medalha gera reconhecimento. Eles pensam diferente: "esse cara não está brincando de rebolar. O Mundial em Brasília é o símbolo disso tudo.

A procura pela modalidade aumentou?

Ainda é cedo. Essa medalha encorajou de alguma forma a prática de marcha atlética. Tivemos muitos inscritos no Troféu Brasil. Temos matéria-prima na marcha atlética e vai surgir oportunidade para eles. Vão ter que suportar a marcha atlética por um bom tempo (risos). Os Jogos da Juventude, em João Pessoa, foram um marco. Houve duas largadas na marcha atlética. Essa medalha encorajou essa molecada de alguma forma. Já vi esse interesse. Está tendo crescimento, principalmente, nas categorias de base.

Como estão as reformas no Augustinho Lima?

O atletismo é um esporte barato de fazer. Fazer uma pista de atletismo é caro. A gestão atual pegou a pista em 2022. Não dá para achar dinheiro rápido e fazer a pista. É preciso ter um edital. A nossa ideia é lutar pelo esporte. Queremos pista, campo de futebol e o estádio. Hoje, não está legal. O atleta pode torcer o pé, mas há uma fase final de edital para a reforma. O recurso já tem.

Como tem sido o seu pós-medalha?

Conseguimos o índice para os 35km do Mundial de Tóquio. Quebrei recorde brasileiro em 1h1737min. Fui para a China e fiz 1h18. Ganhei uma etapa muito difícil na Europa, em Portugal. Derrotamos um sueco. Tive influenza em uma etapa na Polônia, mas ficou em segundo lugar. A última etapa aqui foi o Troféu Brasil, em São Paulo. Fui campeão brasileiro na pista. O trabalho está sempre benfeito. Agora, é trabalhar na altitude antes do Mundial de Tóquio.

Agosto é o mês do Dia dos Pais. O que João Sena significa para você?

Meu pai sempre foi esse apaixonado por atletismo. Eu me apaixonei por esse trabalho. A pista de atletismo é a minha segunda casa. A dele é a primeira. Gostei de atletismo indo lá visitá-lo. Hoje, eu sendo pai, reconheço que, quando nasce um filho, nasce um pai. Vários amigos disseram que eu deveria ser treinado por outros técnicos, mas eu disse que, se não fosse com ele e a minha mãe, não seria com mais ninguém. Eu caí de paraquedas na vida dele e Deus quis que eu fosse o primeiro medalhista olímpico no projeto dele. Já choramos muito nos fracassos, mas também nos sucessos. Estamos realizando um sonho que é ter um Mundial em casa. Às vezes, nós nos sentíamos como um músico tocando sem plateia. Agora, teremos público lotado na Esplanada.

 


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MP
postado em 12/08/2025 00:01 / atualizado em 12/08/2025 08:50
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