
"Dez ilhas, uma nação, um sonho". O mantra funcionou. Cabo Verde escreveu nesta segunda-feira, na capital Praia, a história mais bonita das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026. O país insular localizado a 600km da costa ocidental da África derrotou Essuatíni, ex-Suazilândia, por 3 x 0, e está classificado pela primeira vez para o principal torneio da Fifa no Canadá, nos Estados Unidos e no México. Independente há 50 anos, desde 25 de julho de 1975, quando o ex-jogador de futebol amador Amílcar Cabral virou herói da libertação, o país será o quarto de língua portuguesa a participar da fase final depois do Brasil, de Portugal e de Angola.
Os Tubarões Azuis encerraram o Grupo D na liderança, decretaram um Carnaval de Mindelo fora de época no gramado e nas ruas, e empurraram Camarões para a repescagem continental. O triunfo no Estádio Nacional da Praia, chamado informalmente de Rei Pelé em homenagem a Édson Arantes do Nascimento, foi assinado por gols de Willy Semedo, de Dalon Livramento e de Stopira, todos no segundo tempo. Escolas, serviços públicos e empresas privadas pararam para assistir ao jogo. Houve tolerância no ponto concedida pelo Governo, com o propósito de apoiar os Tubarões Azuis.
Cabo Verde é a segunda menor nação a disputar a Copa. Com 4.033 km² e 550 mil habitantes, fica atrás da Islândia — 103.000 km² e 405 mil moradores na classificação para a edição de 2018, na Rússia. Comandados pelo técnico Pedro Leitão Brito, o Bubista, os Tubarões Azuis, como são carinhosamente chamados, deixaram para trás Camarões, Líbia, Angola, Ilhas Maurício e Essuatíni no Grupo D e conquistaram o título simbólico da chave.
Cabo Verde é a terceira seleção estreante na primeira Copa com 48 seleções. Antes, classificaram-se Uzebequistão e Jordândia. Há uma curiosidade. O arquipélago africano tem mais habitantes nos Estados Unidos, uma das sedes do torneio em 2026, do que no próprio país. No total, 1,8 milhão de cabo-verdianos moram no país da América do Norte.
Mentor da classificação, o técnico Bubista falou sobre a classificação. "O jogo era de muita emoção. O objetivo e a vontade foram sempre de ganhar. Criamos oportunidades para finalizar. Na primeira parte, tivemos o controle, era apenas seguir, ter paciência e querer ganhar o jogo. Felicito a equipe, não só pelo jogo, mas pela qualificação", afirmou.
"Sentimo-nos orgulhosos daquilo que foi feito, com confiança na nossa equipe, confiança total nos nossos jogadores. Mais do que jogar, é a união que a nossa equipe tem e a certeza de que os cabo-verdianos estão orgulhosos com o que os jogadores têm feito", emendou.
Bubista comparou o feito ao 25 de julho de 1975. "A qualificação para o Mundial é também um nível de independência de Cabo Verde, mas essa felicidade é para mostrar aos países em todo mundo. Qualquer cabo-verdiano, hoje, está orgulhoso. Espero que isso traga novos investimentos e que sejamos mais decisivos naquilo que queremos fazer. Às vezes, somos um pouco tímidos no que queremos. Temos talento", exaltou o treinador.
"Cabofolia" em Brasília
Em Brasília, a torcida de Cabo Verde acompanhou o jogo na embaixada, no Lago Sul. Foram 90 minutos de ansiedade até soltar os gritos de gols e da classificação inédita. "Vamos", "chuta direito", "precisamos do gol", gritavam os mais inquietos.
A passada de mão no cabelo e a respiração funda retratavam a impaciência com o 0 x 0 no primeiro tempo em um jogo de paciência do ataque de Cabo Verde contra a defesa de Essuatíni. "Não podemos depender de Angola", afirmou ao Correio Braziliense o torcedor Jacileno Correia. Camarões e Angola empatavam. Cabo Verde dependia de si para garantir a vaga.
Os gols de Willy Semedo e de Livramento no início do segundo amenizaram a agonia. O famoso "abriu a porteira" e até gritos de "olé" foram externados na reta final. Faltando apenas 13 minutos para o encerramento, algumas oportunidades foram desperdiçadas. As mãos estavam suadas e a turma traçava planos para partir rumo à América do Norte. Nos acréscimos, para carimbar a vaga na Copa do Mundo de 2026, Stopira carimbou a vaga.
Foi impossível conter a emoção. A embaixadora, Maria Goretti Santos Lima, discursou: "O coração está mil, ele está muito ativo. É um momento histórico para Cabo Verde e essa é a alegria. Nós estamos a espelhar um pouco o que está acontecendo neste momento em Cabo Verde. É uma alegria enorme. A primeira vez é um momento histórico, sem dúvida", celebrou. Ela ainda afirmou que está na torcida para que a seleção jogue em uma sede. "Estamos aqui a torcer para que o jogo seja no México. Mas, onde for, a gente vai", projeta.
"Não tem nem como explicar. Estou até sem voz aqui", afirmou Jacileno Correia, Responsável Administrativo e Financeiro da Embaixada. No ano em que o país celebra 50 anos de independência, a vaga para a Copa do Mundo caiu como uma luva. "50 anos aguardando para a gente chegar à Copa. Então, com esse presente aqui, nós não temos nem como explicar isso, é emoção demais. É só sentir, é só sentir", emocionou-se, aliviado.
Estagiária sob a supervisão de Marcos Paulo Lima
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