
A linha de produção de medalhas da fábrica chamada Brasil no Mundial de Taekwondo em Wuxi, na China, foi aberta com o ouro de Maria Clara Pacheco na sexta-feira, mantida ativa pelo título inédito de Henrique Marques três dias depois e ampliada com a prata de Milena Titoneli, na terça-feira (28/10). Restam dois dias de competição, mas a campanha é considerada a melhor do país devido ao peso das conquistas. E elas não são por acaso. Há uma mescla entre geração talentosa, trabalho sério nos bastidores e incentivo milionário.
Segundo a previsão de arrecadação do Comitê Olímpico do Brasil, a Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD) teve direito a R$ 7.228.159,99 dos mais de R$ 468 milhões. O recurso é transferido via Lei das Loterias e coloca a modalidade como a 14ª com maior arrecadação entre 37. O pódio tem ginástica (R$ 15,2 milhões), vôlei (R$ 14,1 milhões) e esportes aquáticos (R$ 11,07 mi). Os menores repasses são ao beisebol, ao críquete, ao futebol americano, ao lacrosse e ao squash (R$ 3,5 milhões), disciplinas que entrarão nos Jogos de Los Angeles-2028.
Há critérios para a distribuição de recursos, como boas práticas de governança, trabalhos com as categorias de base e, claro, resultados. O sistema Gestão, Ética e Transparência auxilia o COB a manter a excelência das Confederações em diferentes níveis e ranqueia cada entidade e define o investimento que receberão.
O dispositivo destina parte do valor em loterias federais ao COB como fomento ao esporte. O número supera os dos últimos quatro anos, entre os ciclos dos Jogos de Tóquio-2020 — disputados em 2021 devido à pandemia de covid-19 — e Paris-2024.
O ano pós-Olimpíada do Japão teve aporte de R$ 5.129.519,45 via Lei das Loterias. Em 2023, o incentivo saltou 23%, para R$ 6.357.155,11. Naquela temporada, foi disputada a última edição do Mundial, no Azerbaijão, com duas medalhas brasileiras: o bronze de Maria Clara Pacheco e prata de Caroline Santos. Em 2024, R$ 6.228.973,89 foram transferidos para a CBTKD. Outra fonte de renda é a taxa de registro dos atletas, mas nada expressivo como o recurso das Loterias. Empresa sul-coreana, a KPNP entra como fornecedora de materiais. O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) repassou R$ 3.083.437,50, mas, claro, com foco no paradesporto.
Presidente da CBTKD, Rivanaldo Freitas considera o valor pouco para o tamanho do desafio. "Suprimos as necessidades, mas o recurso para a execução está no limite. Não há verba própria, pois a Confederação não tem um patrocínio", explica, ao Correio, direto da China.
Campeão nos Jogos Pan-Americanos do Rio-2007, bronze em Santo Domingo-2003 e semifinalista nas Olimpíadas de Atenas-2004 e Londres-2012, Diogo Silva compartilha a opinião. "Ainda é insuficiente para o planejamento, no meu ponto de vista. É uma modalidade na qual os atletas precisam fazer muitos torneios por ano e cada competição dá pontuações para o ranking, como no futebol. Têm muitas na Oceania, caras para o brasileiro. Isso dificulta. Nesse aspecto, entendo que o orçamento precisa ser maior", analisa.
A campanha no Mundial de Wuxi é considerada pela CBTKD a melhor do país no evento de alto calibre. Até segunda-feira, o Brasil jamais havia conquistado mais de uma medalha de ouro. Talento descoberto no Rio de Janeiro, Henriques Marques se tornou o primeiro homem campeão depois do sucesso de Maria Clara Pacheco na sexta-feira. Maria encerrou 20 anos de jejum sem títulos, que perdurava desde Natália Falavigna, em 2005. "É uma campanha histórica da modalidade, nunca conquistamos duas medalhas de ouro em uma edição. E podemos ter mais medalhas. Isso eleva o nível da modalidade", comenta Diogo Silva.
Geração
O trabalho para o ciclo de LA-2028 é intenso. Uma das iniciativas da Confederação é o programa Radar 2028, que acompanha transição de jovens talentos com potencial para a próxima edição do megaevento. O requisito estabelecido foi ter entre 18 e 22 anos e possuir medalha no Grand Slam de 2022. O projeto inclui trainings camps e competições no Brasil e no exterior.
Projetos como o Radar ajudam lapidar diamantes como Maria Clara Pacheco. A paulista de 22 anos é considerada um fenômeno. Está no segundo ano como profissional e ostenta duas medalhas em Mundiais. É grande aposta para a sequência do ciclo e para medalhar em Los Angeles. O campeão no masculino, Henrique Marques, 21 anos, iniciou em um projeto social em Itaboraí (RJ), superou uma arritmia cardíaca e está no panteão dos grandes da modalidade do país. Mais experiente, Milena Titoneli, 27 anos, apagou a eliminação na seletiva para Paris-2024 ao faturar a prata na terça-feira. Tem idade para mais uma Olimpíada.
O Brasil desembarcou em Wuxi com cinco medalhistas em Mundiais: os vice-campeões Netinho, prata em Guadalajara (2022), e Icaro Miguel, prata em Manchester (2019), além de Paulo Ricardo Melo, Milena Titoneli e Maria Clara Pacheco, donos de um bronze cada, em Manchester (2019), Guadalajara (2022) e Baku (2023), respectivamente.
Wuxi-2025 ainda não terminou para o Brasil. Quatro atletas seguirão em disputas até o encerramento na quinta-feira (30/10): Paulo Ricardo Souza de Melo (categoria até 58kg), Celydiene Kristina Carneiro (62kg), Edival Marques Quirino Pontes, o Netinho (74kg) e Nívea Maria Barros da Silva (53 kg). Bronze na Olimpíada da França, Netinho é uma das esperanças para atualizar o número de conquistas. A missão é tentar igualar os cinco pódios da edição de Manchester, Inglaterra, em 2019.
O presidente Rivanaldo acredita em mais conquistas. "Essa geração é fruto do trabalho dos treinadores e da relevação dos talentos. É um trabalho árduo com equipe de bastidores, de importância fundamental", discursa.

Esportes
Esportes
Esportes