Eu, Estudante

ENEM 2025

Enem teve provas dentro do esperado; redação seguiu tendência de tema social

Participantes consideraram exame cansativo. Professores ouvidos pelo Correio avaliaram que o tema da redação, o envelhecimento, seguiu a tendência de foco social. Houve mudanças em língua portuguesa e inglês e aumento do grau de dificuldade em história

Por Ana Carolina Alves, Eduardo Fernandes, Lara Costa — especial para o Correio e Mila Ferreira — Estudantes de todo o Brasil fizeram ontem a primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No Distrito Federal, 82.975 candidatos se inscreveram — 11,58% a mais do que no ano passado, quando foram 74.336 cadastrados. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) só irá divulgar a abstenção e o número de candidatos eliminados por unidade da Federação ao longo da semana. No Brasil, o índice de ausências ficou em 27% e 3.240 candidatos foram eliminados.

A reportagem do Correio percorreu pontos onde o exame foi aplicado: Centro Universitário Distrito Federal (UDF), na Asa Sul; na Universidade Paulista (Unip), Asa Sul; no Centro Universitário de Brasília (Ceub), na Asa Norte; e na Universidade de Brasília (UnB), Asa Norte. 

Na saída, o clima era de alívio e cansaço entre os participantes. Grupos se reuniam em frente aos portões comentando as questões e a redação, enquanto outros preferiam checar o gabarito no celular ou simplesmente ir embora em silêncio. O céu nublado e o movimento intenso de familiares e vendedores ambulantes davam ritmo ao fim da maratona de cinco horas e meia de prova.  

O aluno da terceira série do ensino médio João Vitor Palomba, de 18 anos, fez a prova pela terceira vez, agora na Unip. "Fiz como treineiro nos dois últimos anos e hoje foi pra valer. Eu achei a prova um pouco mais difícil do que nos outros anos, mas nada longe do padrão do Enem. Eu estudei fazendo vários simulados, então, não achei nada fora do comum", descreveu. "Quero cursar direito e gosto de ciências humanas. Mas o tema da redação me surpreendeu um pouco. Tendo em vista que a COP30 está sendo sediada no Brasil, achei que o tema teria mais a ver com meio ambiente. Mas achei um tema tranquilo", destacou.

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - João Vitor fez a prova pela terceira vez e se surpreendeu com o tema da redação

Lavínia Poubel, 18, quer ser veterinária e, para testar os conhecimentos, também fez Enem como treineira nos dois últimos anos. "Minha estratégia foi estudar basicamente resolvendo questões, fiz prova atrás de prova", explicou. A estudante considerou a prova cansativa, mas está confiante. "Foi bem cansativo. O tema da redação foi complicado, acredito que muitos acharam que seria sobre educação. Terminei a prova faltando cinco minutos. Foi estressante mas no final deu tudo certo", relatou a jovem, que fez o exame no Ceub. 

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - Lavinía (D) quer ser veterinária e considerou a prova exaustiva

Apoio familiar

Desde cedo, familiares acompanharam os candidatos às portas dos locais de prova, carregando garrafas de água, lanches e muita torcida. Entre olhares atentos e palavras de incentivo, pais e responsáveis tentavam transmitir calma, enquanto os estudantes revisavam conteúdos.

Israel Ribeiro, 41, emocionou-se ao falar sobre o filho, de mesmo nome, que tem 18 anos, sonha em ser médico e prestou o exame na Universidade de Brasília (UnB). "É um sentimento de gratificação enorme. Vemos toda a dedicação dele aos estudos, ainda mais porque não temos uma boa condição financeira ", disse.

Eduardo Fernades/CB DA Press - Israel (C) foi acompanhado dos pais para fazer a prova na UnB

Na saída, o cenário se invertia: os candidatos retornaram exaustos, mas aliviados. Muitos foram recebidos com abraços, perguntas e comemorações discretas. Leandro e Vanessa Siqueira, servidores públicos, estavam à espera do filho, Marco Antônio, 17, que está indeciso quanto ao curso, mas pretende se especializar na área de tecnologia. "Ele já está nessa sequência, estudando desde o começo do ano, prestando alguns vestibulares há algum tempo. O colégio está preparando bem, ajudando com atividades extracurriculares, orientando para saber qual curso mais se adéqua aos interesses e na realização de simulado", explicou a mãe.

Lara Costa/CB - Leandro e Vanessa esperaram o filho, Marco Antônio

Mesmo assim, ambos se sentem ansiosos com o desempenho dele. "Procuramos ficar o menos ansiosos possível para evitar passar esse sentimento pra ele também", finalizou Leandro.

Minorias

Os candidatos tiveram que desenvolver uma redação dissertativa argumentativa sobre Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira. Marcus Barcelos, coordenador de linguagens e professor de redação do Bernoulli Educação, avaliou que o tema seguiu a tendência das últimas edições. "A proposta de redação mantém-se firmemente atrelada ao debate relacionado à exclusão de grupos minoritários na sociedade brasileira. O tema está em plena consonância com as últimas divulgações de informes do IBGE, segundo as quais aponta-se para a ocorrência de uma 'onda prateada' entre a população brasileira, o que constitui uma alusão aos cabelos grisalhos que, ao modo de uma metonímia, representam os idosos", enfatizou.

Na mesma linha, a professora de língua portuguesa e redação da instituição Sidnéia Azevedo lembrou que o Inep sempre trabalha com temas relacionados a minorias e o deste ano foi trabalhado pelo Bernoulli em sala de aula. Sidnéia destacou que há vários ganchos para escrever sobre o tema. "Primeiro, o etarismo, preconceito etário. A expectativa de vida do brasileiro é de 87 anos. A longevidade está aí. É preciso viver mais e com qualidade. É preciso criar medidas e mecanismos capazes de dar qualidade de vida a esse grupo", detalhou. "O problema também pode ser pensado para além do etarismo. O segundo problema é o abandono. É preciso que a família abrace esse idoso como alguém que ainda produz, que enriquece o convívio em família e em sociedade", acrescentou.

Além da redação, o primeiro dia de prova incluiu Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias. As questões envolveram conteúdos de português, literatura, história, geografia, sociologia e filosofia.

Conteúdos

Os professores do Bernoulli Educação avaliaram outros conteúdos exigidos este ano. De forma geral, para os educadores, as questões foram bem desenvolvidas e com a cobrança dentro do esperado, com pequenas mudanças na área de língua portuguesa e inglês, e questões mais exigentes em história. 

Para Pedro Mol, a prova de linguagens foi uma avaliação muito bem-feita. "É uma prova que cobra muitos gêneros textuais diferentes, então exige do candidato que de uma questão pra outra ele vire a 'chave' muito fácil e rapidamente para poder entender as novas exigências estruturais e objetivos comunicativos do gênero", comentou. "Foi uma prova bem típica do Enem, com algumas inovações, textos maiores que serviram para várias questões, valorizando muito a riqueza e a diversidade cultural, linguística, artística, de minorias e de povos originários. Foi uma prova moderna, com textos atuais e é uma prova que representa muito bem o que o Enem se propõe a fazer", concluiu.

Caíque Alves, que leciona geografia, considerou a prova dessa área bem tranquila. "Foram muitas questões interpretativas, algumas exigindo o domínio de alguns conceitos por parte dos alunos para conseguirem resolvê-las. Mais geografia humana do que geografia física. A parte de geografia física exigiu dos alunos fazer alguma conexão com a parte da geografia humana. Outra questão interessante é que a prova teve um mapa e uma charge na parte de geografia e na parte de mapa, exigia uma análise de alguns fenômenos espaciais", detalhou o docente. Ele observou que o estudante precisava fazer uma pequena análise do mapa para conseguir resolvê-lo. "No geral, tinham muitas questões falando sobre impactos ambientais, relacionadas a mudanças climáticas, assim como recursos energéticos e, sobretudo, energias renováveis", completou.

Em inglês, a prova manteve o padrão das edições anteriores, mas apresentou características que indicam uma certa mudança, na análise do professor Sergio d'Assumpção. "Neste ano, tivemos uma prova que, embora equilibrada, trouxe desafios adicionais. Uma das questões que associava linguagem verbal e não verbal, era de nível fácil. E algumas questões com um nível de complexidade maior por conta de detalhes mais técnicos", afirmou. "Todos os textos da prova, com exceção de uma questão, exigiam domínio de elementos de coesão e coerência, além de um conhecimento mais aprofundado de conjunções e estruturas gramaticais fundamentais para a interpretação. De modo geral, a prova apresentou um caráter mais técnico do que em anos anteriores", assinalou. "Do ponto de vista temático, tivemos uma questão sobre o papel da filosofia, outra com um poema de origem indígena, que abordava a relação entre o ser humano e a natureza, e uma última que explorava o uso de elementos culturais com fins comerciais. Nessas questões, continham distratores que eram muito próximos da resposta correta, o que pode ter levado alguns alunos ao erro", assinalou.

Em espanhol, no geral, a prova, de acordo com o professor Martin Vitolo, "foi como a do ano passado e com um nível de cobrança alto. Teve questões que foram sobre um poema com eu lírico, vocabulário específico e teve questão de gramática, que cobrou sobre o tempo verbal", resumiu o docente.

As questões de história exigiram um pouco mais do conteúdo do aluno quando comparado com as edições anteriores. A opinião é do professor Edriano Abreu. "Exigia também interpretação, mas a dose de conteúdo este ano se mostrou um pouco mais elevada. Quanto à distribuição no tempo histórico, tivemos questões de idade antiga, de idade média, de idade moderna, de idade contemporânea. Ou seja, houve uma boa distribuição num período histórico das questões. Também uma boa distribuição da história geral e da história do Brasil, tendo a mesma situação da história do Brasil, tendo questões do período colonial, questões do período monárquico e também do período republicano", explicou. Abreu acrescentou que houve temas bem recorrentes, como o Brasil Império e a Era Vargas. "A prova, em dada medida, mostrou-se bem interessante e bem-feita com questões que eram a tendência que seria demanda dentro dessa área de história", finalizou.

Segunda fase

No próximo domingo (16/11), os estudantes terão de responder a 90 questões objetivas de ciências da natureza, que contam com as disciplinas de química, física e biologia, além de matemática. Os candidatos terão cinco horas de prova, que será iniciada às 13h30.

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Quem foi afetado por problemas logísticos durante a aplicação das provas ou faltou devido a doenças infectocontagiosas poderá solicitar a reaplicação do exame entre os dias 17 a 21 de novembro. Os pedidos serão analisados, individualmente, pelo Inep com a reaplicação marcada para 16 e 17 de dezembro. O resultado oficial sairá em janeiro de 2026, sem data definida até o momento.