Turismo de aventura

A corrida para salvar a brasileira presa em vulcão na Indonésia

Família aposta no sucesso da operação de resgate. Pai da publicitária tenta chegar à Indonésia, mas guerra dificulta viagem

 Segundo o Parque Nacional do Monte Rinjani, Juliana Marins foi avistada com o auxílio de um drone presa em um penhasco -  (crédito:  Reprodução/rede sociais)
Segundo o Parque Nacional do Monte Rinjani, Juliana Marins foi avistada com o auxílio de um drone presa em um penhasco - (crédito: Reprodução/rede sociais)

O drama da brasileira Juliana Marins ganha cada vez mais intensidade. Enquanto o pai da jovem tenta chegar à Indonésia, há um esforço para tentar resgatar a publicitária de 26 anos. Uma dupla de alpinistas indonésios experientes chegou ontem à cidade de Rinjan — o fuso horário local está 11 horas à frente em relação a Brasília —, para ajudar no resgate. Ontem à noite, a família comunicou que a operação havia sido retomada às 6h, horário local. A jovem está presa na encosta do vulcão Rinjani desde sexta-feira (20/6), sem água e comida, sob condições climáticas extremas.

A família criou um perfil no Instagram — que já conta com mais de 800 mil seguidores — para cumprir o papel de fonte oficial sobre todas as informações relacionadas a Juliana, e ao longo do dia, criticou fortemente os socorristas  da região e a operação da publicitária. Nas primeiras postagens, a irmã da jovem, Mariana Marins, criticou os poucos avanços no salvamento de Juliana.

"Um dia inteiro e eles avançaram apenas 250m abaixo, faltavam 350m para chegar na Juliana e eles recuaram mais uma vez! Mais um dia!", publicou a página administrada pela família Marins. "O Parque (Nacional do Monte Rinjani) segue com suas atividades normalmente, turistas continuam fazendo a trilha, enquanto Juliana está precisando de socorro", continuou a página, em outro post.

O perfil oficial do Parque, por sua vez, publicou uma nota — às 8h no horário de Brasília —, dizendo que a equipe conjunta de busca e salvamento continua o processo de evacuação da brasileira. Na nota, eles confirmam o avistamento de Juliana, localizada por um drone, por volta das 6h30 (horário local), mas que a jovem estava "visualmente imóvel".

"Duas equipes de resgate foram mobilizadas para chegar ao local da vítima e verificar o segundo ponto de ancoragem a uma profundidade de ± 350 metros. No entanto, após observação, duas grandes saliências foram encontradas antes de alcançar a vítima, impossibilitando a instalação da ancoragem", afirmou o Parque.

O pai de Juliana, Manoel Marins Filho, em um vídeo postado em seu Instagram, estava em Lisboa, ontem, seguindo rumo à Indonésia. Ele disse, porém, que não conseguiria seguir para o país, pois precisaria fazer escala em Doha, no Qatar, mas o espaço aéreo do país está fechado, por conta do conflito que acontece no Oriente Médio.

Ele aproveitou para agradecer toda a ajuda do governo federal, através do Itamaraty e da Embaixada do Brasil em Jacarta, e o apoio recebido pelos internautas nas redes sociais. O pai de Juliana também agradeceu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em postagem feita pelo presidente, e disse que está "a caminho daquele país" e que espera "voltar com a minha filha viva".

"Obrigado a todos que estão se mobilizando, obrigado ao governo brasileiro, obrigado aos amigos e pessoas que eu nem conhecia e nem esperava, mas estão se mobilizando e fazendo o que é possível, nos apontando caminhos para que nós possamos trazer a Juliana sã e salva, que é o que nós esperamos. Obrigada pelo esforço de todos", exaltou Manoel.

No Brasil, diversos famosos fizeram campanha para pressionar as autoridades para trazer celeridade ao resgate de Juliana. Personalidades como Tatá Werneck, Babu Santana e Douglas Silva fizeram publicações em suas redes sociais, exigindo respostas imediatas e ações do governo brasileiro, para garantir o retorno seguro e efetivo da jovem.

Além destes, a primeira-dama Rosângela "Janja" Lula da Silva utilizou de suas redes para dizer que acompanha "com preocupação" o caso da brasileira. Em nota, Janja diz ter conversado com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e afirmou que ele "se manteve empenhado em auxiliar, de todas as formas possíveis, para que o resgate seja feito com urgência e que Juliana retorne ao Brasil o mais breve".

O Itamaraty publicou, também, uma nota, no domingo (22), afirmando que, desde o acionamento da família, a embaixada brasileira em Jacarta (capital da Indonésia), "mobilizou autoridades locais, no mais alto nível, o que permitiu o envio de equipes de resgate para a área do vulcão onde ocorreu a queda, em região remota, a cerca de quatro horas de distância do centro urbano mais próximo".

"O embaixador do Brasil em Jacarta entrou pessoalmente em contato com Diretor Internacional da Agência de Busca e Salvamento e com o Diretor da Agência Nacional de Combate a Desastres da Indonésia, e tem recebido das autoridades locais os relatos sobre o andamento dos trabalhos", completou a pasta, confirmando a ida de dois funcionários da embaixada para acompanhar pessoalmente a operação.

Chances

O médico especialista em resgates e primeiros socorros, Paulo Guimarães, destaca, porém, que Juliana se encontra a 3.000 metros de altitude, onde as condições climáticas são inóspitas, com temperaturas que podem cair abaixo de zero à noite, o que torna o risco de hipotermia "muito alto". Além disso, ela está há cerca de quatro dias sem água e comida, o que gera grande preocupação com desidratação e esgotamento de energia.

"O quadro é extremamente delicado. Esse socorro precisa chegar logo, mas a gente também entende que o resgate é muito complicado. É um terreno muito perigoso e o risco, na tentativa de alcançá-la e não conseguir, é também muito alto", comentou.

 

Ele lamenta, também, que a situação de Juliana é, tecnicamente, muito crítica, que reduz drasticamente as chances de sobrevivência. No entanto, o corpo humano, segundo o médico, possui uma impressionante capacidade de resistência, especialmente em jovens e pessoas saudáveis como Juliana.

Guimarães lembra que existem muitos relatos de sobreviventes que suportaram dias em condições extremamente inóspitas, muitas vezes devido a pequenos detalhes como um abrigo improvisado, uma fonte de água oculta ou uma força interior inexplicável. O especialista exalta que, para os familiares e para todos que acompanham o caso, a mensagem é clara, "enquanto há possibilidade de vida, há esperança".

"O papel dos especialistas, dos socorristas, é lutar contra o tempo, contra o clima, contra a geografia. É fazer isso com técnica e coragem. E o nosso papel aqui fora é continuar acreditando, porque em situações como essa, a esperança não é um sentimento, ela é um combustível para quem resiste e força para quem resgata", completou.

*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza

 


postado em 24/06/2025 05:01 / atualizado em 24/06/2025 07:33
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