
ISRAEL MATOS BATISTA, conselheiro da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, ex-deputado federal e distrital
O término da vigência do atual Plano Nacional de Educação (PNE) impõe a redefinição do futuro educacional brasileiro. É crucial agir com urgência para impulsionar o ensino e enfrentar os desafios diários da escola, reafirmando o compromisso com uma educação conectada às vivências dos estudantes e ao mundo contemporâneo, integrando a dimensão socioemocional.
A educação do século 21 exige um diálogo com as dimensões emocionais e sociais humanas. A inclusão estruturada de competências como empatia, resiliência, escuta ativa e cooperação representa um avanço significativo. Inovação não se restringe a tecnologias, manifestando-se primordialmente na qualidade das relações e na forma como nos conectamos com a realidade. Nesse sentido, o desenvolvimento socioemocional é decisivo.
O novo PNE é uma oportunidade estratégica para consolidar essa visão. A integração de competências socioemocionais não deve ser um adendo, mas parte fundamental da aprendizagem integral, coexistindo com os conteúdos acadêmicos e ampliando o alcance do ensino sem desviar seu foco. Matemática e empatia, história e autoconhecimento podem, e devem, enriquecer mutuamente a experiência educacional.
Para materializar essa abordagem, ela deve permear toda a trajetória escolar, da primeira infância ao ensino médio, integrando-se aos componentes curriculares, projetos de vida e itinerários formativos, fortalecendo o planejamento pedagógico tradicional com maior propósito e conexão com a realidade dos estudantes.
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Os professores são os protagonistas nesse processo, identificando contextos, construindo estratégias e transformando conteúdos em experiências significativas. Reconhecer e valorizar esse papel é indispensável para a eficácia de qualquer política educacional.
Quando os estudantes desenvolvem habilidades socioemocionais, como lidar com frustrações, comunicar-se claramente, trabalhar em equipe e exercitar a empatia, eles não só adquirem competências pessoais, mas também uma postura mais aberta ao conhecimento. O ambiente de sala de aula melhora em clima, engajamento e significado, tornando o aprendizado mais profundo, contextualizado e duradouro.
Muitas escolas e educadores já incorporam práticas socioemocionais intuitivamente. O desafio é construir políticas públicas que legitimem, orientem e sustentem essas ações, exigindo investimento em formação continuada, produção de materiais de apoio, estímulo à escuta da comunidade escolar e criação de espaços institucionais que favoreçam essa integração.
Nesse contexto, torna-se imprescindível que o relator, deputado Moses Rodrigues (União/CE), bem como os demais membros da Comissão Especial do Novo Plano Nacional de Educação (PNE) na Câmara dos Deputados, considerem a inserção explícita, no relatório final, do compromisso com a promoção do desenvolvimento socioemocional das crianças desde a etapa da educação infantil.
Como contribuição concreta, propõe-se a reformulação da Estratégia 2.4, no eixo de Qualidade da Educação Infantil, para: "Garantir o acesso a uma diversidade de recursos que favoreçam a ampla participação das crianças, tais como brinquedos, livros, materiais pedagógicos, jogos de raciocínio, áreas de contato com a natureza e espaços internos e externos devidamente organizados, assegurando a adoção de metodologias que promovam o desenvolvimento cognitivo, socioemocional e a capacidade de resolução de problemas".
A escola contemporânea deve enxergar o ser humano em sua complexidade. Um estudante que compreende o contexto histórico de um conflito e, ao mesmo tempo, ouve e acolhe o outro, terá uma visão de mundo mais crítica, sensível e propositiva.
Temos a chance de consolidar uma concepção mais integrada de educação, que dialogue com a Base Nacional Comum Curricular e promova, concretamente, a formação de cidadãos plenos e emocionalmente saudáveis. A inovação necessária exige reconhecer a educação como um processo profundamente humano, onde conhecimento e emoção se entrelaçam. Ensinar é, antes de tudo, ajudar o outro a se tornar mais completo, e isso, sem dúvida, começa pela escola.
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