
Enquanto a economia do Brasil acompanha com apreensão a guerra tarifária declarada pelo presidente dos Estados Unidos ao Brasil, Donald Trump relaxava no MetLife Stadium na final da Copa do Mundo de Clubes da Fifa, no domingo passado, fazendo juras de amor ao maior craque da história do futebol e ensaiava fazer média com a Fifa. Ele pretende abolir a expressão "soccer" para se referir ao esporte mais popular do mundo no país do futebol americano, do basquete, do beisebol e do hóquei sobre o gelo. A Major League Soccer (MLS), por exemplo, passaria a se chamar Major League Football.
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Anfitrião da recém-encerrada Copa do Mundo de Clubes e da Copa do Mundo de seleções em 2026, numa parceria com o Canadá e o México, Trump, de bobo não, tem nada. Ele olha para trás, reconhece a força política do futebol no comportamento de outros chefes de Estado de diferentes continentes e nações, e não pode contrariá-la.
Angela Merkel usou a Copa para mudar a imagem da Alemanha em 2006. Jacob Zuma e Nelson Mandela trabalharam pela inclusão da África do Sul na rota do megaevento em 2010. Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff investiram pesado para abrir a "Copa das Copas" em 2014.
Vladimir Putin simulou simpatia ao escancarar as portas da Rússia em 2018. Hoje, os clubes e a seleção do país estão banidos das competições devido à guerra contra a Ucrânia. O emir Tamim bin Hamad al-Thani quebrou o gelo em 2022, ao apresentar o Catar, o pequenino país do Oriente Médio, ao planeta em uma Copa marcada pela excelência. O xeque Mohammad bin Salman bin Abdulaziz Al Saud morreu de inveja e garantiu a realização do principal torneio do mundo na Arábia Saudita em 2034. Antes, Espanha, Portugal, Marrocos, Argentina e Paraguai hospedarão a edição centenária em 2030.
Portanto, não basta ser o anfitrião. Tem que participar. Trump foi ao MetLife, assistiu à vitória do Chelsea por 3 x 0 contra Paris Saint-Germain, entregou as premiações individuais e depois o troféu ao capitão do Chelsea, Reece James, não arrastou os pés da festa como se fizesse parte do elenco, deu de ombros para as vais de parte dos 81.118 presentes e marcou posição ao afagar o Brasil e o soccer em uma entrevista à DAZN dos EUA após o jogo.
Ao falar sobre a relação com o futebol, Trump citou o nome de um rei precursor do soccer nos Estados Unidos. "Muitos anos atrás, quando eu era jovem, eles trouxeram um jogador chamado Pelé e ele jogou por um time chamado New York Cosmos", recordou, referindo-se aos anos 1970. Naquela época, o MetLife Stadium chama-se Giants Stadium. Não havia naming rights. "Este lugar estava lotado, era uma versão anterior deste estádio e era Pelé", reforçou.
Trump lembrou do papel de torcedor à época. "Isso foi há muito tempo e eu era um cara jovem. Vim assistir Pelé e ele era fantástico. Não quero ser antiquado e dizer o óbvio, ou seja, dizer que Pelé foi tão bom", elogiou Trump, na raríssima declaração sobre futebol.
O presidente dos EUA esforça-se para massagear o ego da Família Fifa ao tentar abolir o uso da palavra "soccer" para se referir a "futebol" nos EUA. "Eles chamam de football, nós, de soccer. Mas essa mudança poderia ser feita com muita facilidade. Acho que podemos fazer isso".
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Durante a Copa do Mundo de Clubes, os EUA atacaram o Irã, um país-membro da Fifa. Isso jamais havia acontecido durante a realização de uma Copa da Fifa. Em tempo de guerra, Trump falou contraditoriamente no futebol como instrumento de paz. Pediu até a Gianni Infantino a liberação da Rússia, do amigo Putin, para a Copa de 2026.
"O jogo é sobre união, é sobre todos se unirem. É sobre muito amor entre diferentes países internacionais. Este é o esporte mais internacional do planeta, então ele pode realmente unir o mundo", discursou em entrevista à DAZN.
Pode unir, mas, hoje, separa. Uma das principais questões para a Copa de 2026 é o acesso dos torcedores, principalmente aos EUA, diante da caça aos imigrantes ilegais. Em vez de atrair apaixonados pelo soccer — prestes a virar football — a competição provoca temor, medo, repulsa pelo desejo de curti-la intensamente no próximo ano. O passatempo de Trump tem mais 10 meses pela frente. Até o início da Copa, outras mordidas e assopradas virão...
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