CPI da Covid

Senadores avaliam media training de Pazuello na CPI da Covid

Parlamentares admitiram que general foi bem treinado para enfrentar a CPI, mas também criticaram as respostas evasivas do ex-ministro da Saúde de Bolsonaro. Senadores acusaram Pazuello de se aproveitar do habeas corpus concedido pelo STF para mentir na sessão

Luiz Calcagno
postado em 19/05/2021 15:40
 (crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)
(crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)

Para senadores, o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, foi muito bem treinado para comparecer à Comissão Parlamentar de Inquérito da covid-19 ao conseguiu evitar o embate com senadores e fugir de perguntas e confrontos. O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e senadores da oposição afirmaram, porém, que o militar do Exército mentiu em diversos pontos do depoimento e, com a retomada dos trabalhos do colegiado, após o intervalo, será confrontado sobre o que disse.

Randolfe afirmou que a articulação de Pazuello com os senadores é resultado de um conjunto de fatores. Além de ter passado por um intensivo media training, ele também tem, a favor de si, o habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e, na visão do senador, como recompensa por blindar Jair Bolsonaro, a proteção da tropa de choque do presidente da República. Após o término da primeira parte da audiência, o ex-ministro se reuniu com os governistas Marcos Rogério (DEM-RO) e Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

“Tem uma mistura de media training, tentativa de blindar o presidente, não chegar nada ao presidente, com mentiras e omissões. Ele foi treinado aqui para blindar o presidente. Vamos confrontá-lo com os fatos”, afirmou Randolfe. O vice-presidente destacou que Pazuello se contradisse a respeito do aplicativo TratCov, sobre a articulação para conseguir aviões para transportar oxigênios para Manaus e quando falou sobre cloroquina.

No depoimento, o ministro demonstrou, inclusive, não saber que a Venezuela tinha prestado socorro ao Brasil no caso do colapso da Saúde em Manaus. “Vamos tentar fazer perguntas diretas. Ficou claro omissões e mentiras em relação à vacina. O protocolo do Covax Facility foi subescrito em setembro. Somente em setembro, cinco meses depois, o Brasil subscreveu o relatório. A questão da Pfizer, ele tenta distorcer os fatos. Mesmo que na versão dele fosse verdade que era 1,5 milhão de doses, isso seria em dezembro. Há um esforço em distorcer a verdade”, argumentou Randolfe.

O senador considerou o depoimento mais grave que o do ex-secretário de comunicação de Bolsonaro, Fabio Wajngarten. “Entendo porque ele buscou o habeas corpus. Era para ele ficar protegido de uma medida mais dura”, disse Randolfe. Questionado se seria para ele não ser preso, o parlamentar disse que sim. “Vamos buscar os fatos, apresentar os fatos e confrontá-lo com os fatos. Ele está protegido para se comportar como quer na CPI por um habeas corpus. Mas as incoerências, impropriedades do depoimento dele são muito mais graves que as do Fabio Wajngarten”.

Na terça-feira (18), Randolfe afirmou que Pazuello seria abandonado pelo governo. Hoje, porém, disse que o que aparenta é que o governo abandonou Ernesto Araújo. “Tem um pacto estabelecido. Eu saí de lá, tem uma reunião ocorrendo entre senador Marcos Rogério, Flávio Bolsonaro, com Pazuello. Tem uma ação de coordenação muito clara para proteger o presidente da República e a tropa de choque o protege (Pazuello). Por que essa tropa de choque não veio armada para o Ernesto Araújo? Porque o jogaram as feras. Há um pacto do silêncio, de blindagem, que passa pelo habeas corpus. A articulação de conseguir o habeas corpus está clara. Não era para silenciar. Era para falar e no que falar não responsabilizar o presidente, em contrapartida, se criava a proteção necessária”, conjecturou.

Fábula

Suplente, o líder do PT, senador Rogério Carvalho (SE), afirmou que a primeira parte do depoimento foi “uma fábula”, mas que Pazuello será confrontado sobre possíveis incoerências. Na primeira parte, somente o relator, Renan Calheiro (MDB-AL) inquiriu o ex-ministro. “Pazuello não está respondendo nada. Foi treinado para não responder e não incriminar o presidente. Mas, contra fatos objetivos, não tem treinamento que resista. Tudo que ele está falando é conversa. Bolsonaro mandou ele rasgar o acordo da CoronaVac, da Butantan. Ele fez o acordo de manhã e desfez a tarde”, criticou.

“Renan está fazendo as perguntas e ele está respondendo com técnicas de media training para não responder as questões. Funcionou bastante. Ele está muito bem treinado e está só dando voltas. Ele sai, responde outra coisa, vem, nega, cria história e dissimula. Mas contra fatos não tem como fugir. Ele teve momentos de confronto com relação ao oxigênio de Manaus, e não teve como se sustentar. Mas, mesmo assim, tentou prolongar a conversa. Ficou claro que ele sabia e não tomou providência. Ele preferiu insistir com o software da Capitã Cloroquina (Mayra Pinheiro, que deve depor nesta quinta-feira), de prescrever para todo o povo de Manaus, cloroquina e ivermectina”, criticou.

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