
A família de Juliana Marins anunciou na redes sociais que buscará alguma espécie de responsabilização, por conta do desfecho trágico que levou à morte da brasileira na tentativa de subir o Monte Rinjani, na Indonésia. Isso porque, segundo a família, são vários os indícios de negligência das autoridades do país asiático, seja por conta da demora em fazer o resgate, ou porque o governo de Jacarta passou informações desencontradas à Embaixada brasileira, retransmitidas aos parentes da jovem.
"Juliana sofreu uma grande negligência por parte da equipe de resgate", critica a família de Juliana, no perfil que mantém no Instagram. O argumento é que se os socorristas tivessem chegado dentro do prazo de sete horas depois da ocorrência — considerado ideal para que a operação de salvamento aconteça sem um dano mais severo à saúde da vítima —, a brasileira teria maiores condições de estar viva. "Juliana merecia muito mais! Agora, nós vamos atrás de justiça por ela, porque é o que ela merece. Não desistam de Juliana!", arremata o anúncio da família.
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Já a Agência Nacional de Busca e Resgate da Indonésia (Basarnas) publicou, em seu perfil oficial no Instagram, imagens da ação de içamento do corpo de Juliana, que ocorreu na madrugada de ontem e durou aproximadamente 10 horas — por conta da dificuldade de chegar ao local em função do solo vulcânico, que tem pouca firmeza. Numa postagem, diz que "fazer trilha até o Monte Rinjani é um esporte de turismo extremo" e que "quando acontecer um acidente, não culpe os socorristas sem entender o que eles passam".
Elisa de Sousa, integrante da Academia Brasileira de Direito Internacional e doutora em Ciências Sociais, explica que caso seja confirmado que houve negligência das autoridades indonésias, a família de Juliana pode mover uma ação contra o governo de Jacarta no próprio Judiciário daquele país. A advogada destaca que o Consulado brasileiro pode orientar os parentes sobre como funciona o sistema judicial indonésio, além de prestar suporte logístico e de informações. Afirmou, ainda, que é possível questionar se o próprio governo do Brasil atuou corretamente no episódio.
"O Estado brasileiro pode prestar apoio. A repartição consular em Jacarta pode fornecer informações sobre como funciona o sistema de justiça local e indicar advogados, sempre dentro dos limites legais. A repartição pode, sim, dar esse apoio, e a família pode buscar indenização por danos morais e outros prejuízos", explicou Elisa.
Ela frisa, porém, que a política de relações exteriores entre os países é sensível e insere-se em uma agenda internacional, que é tanto bilateral quanto multilateral. Segundo a advogada, isso pode impactar alguma possibilidade de responsabilização de autoridades e serviços indonésios no caso de Juliana.
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"Pode acontecer, e não estou dizendo que é o caso, de o Brasil não querer tensionar a relação com a Indonésia por causa de outro tema mais estratégico na agenda bilateral. Isso é muito comum: o país precisa priorizar assuntos e escolher aonde vai investir energia diplomática, pensando em estratégias de longo prazo", advertiu.
Translado
Uma das principais críticas que o governo federal tem recebido é por não custear o translado do corpo de Juliana. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, conforme o Decreto 9.199/2017, "a assistência consular não compreende o custeio de despesas com sepultamento e traslado de corpos de nacionais que tenham falecido no exterior, nem despesas com hospitalização, excetuados os itens médicos e o atendimento emergencial em situações de caráter humanitário". O MRE afirma que, em caso de falecimento de cidadão brasileiro no exterior, as embaixadas e consulados brasileiros podem "prestar orientações aos familiares, apoiar seus contatos com o governo local e cuidar da expedição de documentos, como o atestado consular de óbito, tão logo terminem os trâmites obrigatórios realizados pelas autoridades locais".
O caso da brasileira, porém, levou o Itamaraty a anunciar que estuda alterações nas recomendações àqueles que pretendam fazer turismo de aventura no exterior. A ideia é elaborar um guia, ainda mais completo, sobre locais de extremo perigo, com recomendações para que o turista possa ir e voltar deles em total segurança.
Por conta desse impedimento legal, a oposição ao governo federal no Congresso decidiu entrar no assunto. Prometeu enviar ao Plenário da Câmara dos Deputados um projeto de lei para obrigar a União a custear a repatriação de corpos de brasileiros mortos no exterior, caso a família da vítima não tenha condições financeiras para fazê-lo. Estima-se que o translado do corpo de Juliana (que inclui trâmites burocráticos, embalsamamento, esquife e transporte aéreo) levaria seus parentes e a desembolsarem mais de R$ 50 mil. Porém, o ex-jogador de futebol Alexandre Pato — que teve passagens pelo Corinthians e pelo São Paulo, no Brasil, e pelo Milan (Itália) e pelo Chelsea (Inglaterra) — se dispôs a arcar com os custos do retorno dos restos mortais da jovem ao Brasil. (Com Agência Estado)
*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi
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