
O bolsonarismo caminha para ficar isolado na extrema direita. Essa é a avaliação do ministro dos Transportes, Renan Filho, após o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) articular contra o Brasil nos Estados Unidos. Na avaliação do ministro, inclusive, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem condições de discutir uma nova frente ampla para as eleições de 2026, se aproximando mais do centro.
“Acho que o presidente Lula tem muita condição de fazer esse debate, reconstruindo uma frente ampla, apresentando um projeto para o país que agregue, além da centro-esquerda, uma parte maior do próprio centro, porque a meu ver, há muita possibilidade de isolar o bolsonarismo na extrema-direita, porque, a cada dia, eles caminham nessa direção”, afirmou o ministro, nesta sexta-feira, a jornalistas, após participar de um painel no Expert XP, maior festival de investimentos do planeta, em São Paulo.
Após o tarifaço de Trump, as pesquisas eleitorais mostraram melhora na aprovação do presidente Lula, refletindo o desgaste dos bolsonaristas em tentar fazer os EUA retaliarem o Brasil. Ao ver do emedebista, o filho número 03 do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) “está atacando a própria democracia”. “O bolsonarismo caminha para a extrema-direita. E o que o governo do presidente Lula, a meu ver, deveria fazer? Ocupar o centro, dialogando mais com os setores produtivos, garantindo condições para a gente negociar essas tarifas e, se não conseguir baixar na totalidade, ajudar os setores que forem mais afetados”, avaliou.
Em relação da possibilidade de o MDB pleitear um vice na chapa de 2026, Renan Filho evitou comentar o assunto. “Agora, os partidos não estão pleiteando indicação de vice. Não é o debate do momento. No momento, a gente tem que discutir o campo no MDB, que é mais próximo do presidente Lula, como o partido ficará com ele. Contudo, ele admitiu que a decisão sobre isso será na convenção do partido.
Segundo o ministro, se o presidente Lula conseguir ganhar mais espaço no centro, “o MDB é um partido que vai certamente discutir isso”. “Tem muita gente no partido que defende o governo do presidente Lula. O partido tem três ministérios importantes”, afirmou. Além dele, no no Ministério dos Transportes, ele lembrou que a legenda tem a ministra Simone Tebet, e o ministro Jader Barbalho, respectivamente, no Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO) e no Ministério das Cidades.
“O MDB é um partido democrático, como o próprio nome diz. Nós vamos fazer uma convenção para decidir o caminho. Lá, no MDB, não tem um dono do partido, como tem outros. Por exemplo, O PL mesmo, o dono é o Valdemar Costa Neto e o Bolsonaro”, afirmou. “O MDB é na convenção, é no voto. O partido vai pra onde a maioria decidir. E acho que são coisas importantes dentro do meu partido, por isso eu tenho conforto de estar no MDB, porque a decisão que o partido vai seguir é uma decisão coletiva. Nunca o projeto individual de alguém”, alfinetou.
Tarifaço
Para o ministro, a atuação do presidente Lula é em defesa da soberania do país ao negociar sobre o tarifaço aplicado pelos Estados Unidos, e, para isso, designou o vice-presidente Geraldo Alckmin para essa função e tem se dedicado “20 horas por dia falando com todos os envolvidos.
“Mas parece que quem não quer negociar é os Estados Unidos. Essa avaliação é que nós temos que fazer também, porque a negociação é um entendimento entre duas partes. O governo tem que tentar se esforçar, eu até usei a palavra, tem que ter até humildade, porque nós somos pequenos”, afirmou. “Tem gente que acha que o presidente não quer negociar, ao contrário. Ele, hoje, fez um apelo ao governo norte-americano, aqui, em Osasco (SP), eu até citei isso, com o vice-presidente Alckmin do lado, dizendo, olha, esse aqui é o Alckmin, não há ninguém que possa negociar mais que ele, porque ele é experiente, calmo”, adicionou.
De acordo com dados do governo, segundo o ministro, os impactos do tarifaço na economia ainda está sendo difícil de ser delineado. Mas, em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB), o comércio Brasil-Estados Unidos com o Brasil representa aproximadamente 1,4% do PIB do país. “Parte disso vai ser vendido para outro local se tiver a manutenção dessa tarifa de 50%. Mas uma outra parte, especialmente onde os Estados Unidos tem um peso relativo muito grande, tem um pouco mais de dificuldade”, reconheceu. Ele destacou que o governo seguirá tentando negociar para os Estados Unidos retirarem essa sobretaxa dos produtos brasileiros, mas se elas forem mantidas a partir de 1º de agosto, o jeito “vai ser resolver setor por setor”.
Renan Filho reforçou o discurso do governo de que o Brasil não gera prejuízo para os Estados Unidos, porque o saldo da balança comercial é positivo para os norte-americanos. Ao ver dele, nem o Trump vai conseguir manter o dólar como moeda predominante no comércio internacional se o dólar perder a confiança. “O que o governo do presidente Lula tem feito é tentar negociar o máximo, com os setores produtivos, com o governo norte-americano, enquanto outras forças da política nacional se mudaram para os Estados Unidos para atacar o país de lá para cá”, afirmou. E alfinetou novamente ao questionar se o público do evento teria coragem de votar em Eduardo Bolsonaro. “Será que essa plateia vota? Eu acho que não totalitariamente, certamente porque o ataque que ele tem feito ao Brasil é uma coisa que não tem sentido”, emendou.
Ao ser questionado sobre a resposta via assessora da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, sobre uma postagem que ele fez rebatendo uma crítica dela ao governo Lula, Renan Filho, ironizou sobre o fato de assessora dizendo que ela não tinha tempo pra falar com o senhor. Eu pensei que ela tivesse respondido, mas não foi ela. Eu, inclusive, recebi o posicionamento e reafirmei o que eu disse. É que para cada profissional em fake news, o remédio é a verdade”, afirmou.
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Críticas aplaudidas
Em relação aos aplausos da plateia do evento da XP sobre críticas ao governo Lula, Renan Filho minimizou. “A plateia se manifestou com relação ao dólar, eu até fiz uma fala dizendo que ninguém vai substituir o dólar em negociação comercial, porque o dólar só é usado por um motivo, não é porque o Trump é presidente dos Estados Unidos, é porque o dólar sempre ensejou nos agentes financeiros confiança. Agora, se o governo norte-americano gera deficit sucessivo, na balança comercial e isso desvalorizar o dólar, gera uma insegurança institucional mundialmente, isso vai levar gradualmente à substituição da moeda”, justificou. “Foi assim em outros momentos, quando a gente mudou do padrão ouro, por exemplo, para o dólar. Foi exatamente isso. Foi o ganho de confiança da economia dos EUA que levou o dólar a substituir o ouro”, acrescentou.
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