PRISÃO DOMICILIAR

Exames de Bolsonaro mostram quadros de pneumonia e esofagite

Ex-presidente passou a manhã sábado (16) no hospital; saída foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na última terça-feira

Cercado por apoiadores, Bolsonaro deixou o hospital, onde fez vários exames,sem falar com a imprensa  -  (crédito:  AFP)
Cercado por apoiadores, Bolsonaro deixou o hospital, onde fez vários exames,sem falar com a imprensa - (crédito: AFP)

Pela primeira vez fora de casa após decreto de prisão domiciliar, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou por uma bateria de exames ontem no Hospital DF Star, em Brasília. A saída foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na última terça-feira, depois de um pedido da defesa do ex-presidente. "A solicitação decorre do seguimento de tratamento de medicamentos em curso, da necessidade de reavaliação dos sintomas de refluxo e soluços refratários, bem como da verificação das condições atuais de saúde", argumentou a defesa em despacho enviado ao STF.

Bolsonaro chegou às 9h e foi recebido por um grupo de apoiadores que entoou cantos religiosos, orações e palavras de incentivo. Alguns exibiam bandeiras do Brasil e, outros, dos Estados Unidos. A previsão inicial era de que Bolsonaro permanecesse no hospital por cerca de oito horas. O ex-presidente fez diversos exames, como coleta de sangue e urina, endoscopia digestiva, tomografia de tórax, abdome e pelve, além de ecocardiograma e ultrassonografia de carótidas, próstata e vias urinárias.

Segundo boletim médico divulgado no início da tarde, os exames evidenciaram "imagem residual de duas infecções pulmonares recentes relacionadas a episódios de broncoaspiração (quando alimentos, líquidos, saliva ou vômito são aspirados pelas vias aéreas)". A nota, assinada pela equipe médica do ex-presidente, também detalhou a continuidade de quadros de esofagite e gastrite.

"A endoscopia mostrou persistência da esofagite e da gastrite, agora menos intensa, porém com a necessidade de tratamento medicamentoso contínuo. Deverá seguir com o tratamento da hipertensão arterial, do quadro de refluxo e medidas preventivas de broncoaspiração", detalha o boletim médico, assinado pelo médico chefe da equipe cirúrgica, Dr. Cláudio Birolini, pelo cardiologista Dr. Leandro Echenique, pelo diretor médico do hospital, Dr. Guilherme Meyer, e pelo diretor geral, Dr. Allisson Barcelos Borges.

Bolsonaro recebeu alta às 13h58 e deixou a unidade de saúde acompanhado por médicos e foi novamente recebido por apoiadores. Sem poder dar entrevista à imprensa por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) — o tribunal o proibiu de usar redes sociais, mesmo que por meio de outras pessoas —, o ex-presidente ficou em pé parado ao lado de seus apoiadores enquanto dois de seus médicos detalhavam à imprensa os procedimentos a que Bolsonaro foi submetido.

Segundo o médico cardiologista Leandro Echenique, embora os exames tenham mostrado imagens residuais de uma pneumonia que Bolsonaro enfrentou, o ex-presidente está em "franca recuperação". "Ele também teve um quadro de esofagite que estava muito severo e com o tratamento que vem fazendo, essa esofagite teve uma boa recuperação, mas ele exige um tratamento contínuo, um tratamento permanente", afirmou a jornalistas na saída do hospital.

"Ele vai dar seguimento ao tratamento de pressão arterial, que estava alta e agora controlou, vai dar continuidade ao tratamento do refluxo também", pontuou Echenique, que detalhou que os tratamentos serão exclusivamente medicamentosos. "Não precisa de nada de cirurgia", afirmou.

Obstrução intestinal

Já o médico Cláudio Birolini disse que um dos objetivos dos exames foi avaliar os resultados de uma cirurgia realizada em abril para desobstruir o intestino de Bolsonaro. Desde a facada que sofreu em 6 de setembro de 2018, durante a campanha presidencial, o ex-presidente já foi submetido a 7 cirurgias por complicações em decorrência do ataque.

"Aparentemente está tudo em ordem, o trânsito intestinal está preservado, as hérnias estão resolvidas, mas ele persiste com esse quadro de esofagite, algum grau de refluxo, provavelmente por causa dessas pneumonias de repetição que ele tem tido", afirmou Birolini.

"O fato de ele estar em casa agora prejudica um pouco a atividade física. Então estamos sugerindo a ele que intensifique um pouco os exercícios, musculação, porque ele não pode fazer caminhada, não pode fazer nada nesse sentido", disse o especialista, que revelou que o ex-presidente não gosta de fazer exercícios em ambientes fechados. Cláudio Birolini também disse que a pressão alta de Bolsonaro pode ser potencializada pela "pressão" a que o ex-presidente tem sido submetido nas últimas semanas com a prisão domiciliar.

A equipe de Bolsonaro tem um prazo de 48 horas — que começou a contar a partir da saída do hospital — para comprovar ao Supremo Tribunal Federal a realização dos exames e detalhar respectivos encaminhamentos médicos. Essa foi uma obrigação imposta pelo ministro Alexandre de Moraes quando autorizou a bateria de exames.

Julgamento marcado

Na sexta-feira, a Primeira Turma do STF marcou para 2 de setembro o julgamento do ex-presidente, que integra o núcleo crucial da tentativa de golpe. Além de Bolsonaro, outros oito réus integram o núcleo: os ex-ministros Walter Braga Netto — que está preso e foi vice na chapa de Bolsonaro em 2022 —; Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública); Augusto Heleno (Segurança Institucional) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa); o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier; o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) e o ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, delator do caso.

Bolsonaro e os demais réus (exceto Ramagem) são acusados de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. O presidente da Primeira Turma do STF, ministro Cristiano Zanin, reservou oito sessões do colegiado para analisar o caso. As sessões ocorrerão nos dias 2, 3, 9, 10 e 12 de setembro.

Na última quarta-feira, a defesa do ex-presidente apresentou suas alegações finais no processo e pediu a absolvição de Bolsonaro. Os advogados alegaram que as acusações se referem a "atos preparatórios", sem consumação de uma tentativa de golpe.

 


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postado em 17/08/2025 04:29
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