O senador Alessandro Vieira (MDB-SE), relator da CPI do Crime Organizado, afirmou nesta terça-feira que a infiltração de organizações criminosas nos Poderes da República ocorre em "gabinetes e escritórios de Brasília".
— O crime organizado não é o preto pobre armado na favela, isso é o sintoma. O crime organizado é aquilo que a gente vê aqui em Brasília infiltrado em gabinetes, escritórios e várias atuações — disse o senador durante audiência com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.
Ao falar sobre as conexões do crime com autoridades, Vieira fez uma crítica indireta à postura do ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli de pegar carona em um jatinho acompanhado de um advogado do caso Master, do qual ele virou relator na Corte. O caso foi revelado pela coluna de Lauro Jardim, do GLOBO, no último fim de semana.
--- Temos ministros que acham normal, cotiano, caronas em jatinhos pagos pelo crime organizado. Não é surpresa. Gente investigada pelo crime organizado. O cara entra no jatinho, vai para uma viagem paga pelo crime organizado. Acessa a um evento de luxo pago pelo crime organizado. E retorna a Brasília para julgar um caso na Corte Superior --- afirmou ele, sem citar nominalmente Dias Toffoli.
No último mês, Toffoli viajou em uma aeronave particular do empresário e ex-senador Luiz Oswaldo Pastore para assistir à final da Libertadores, em Lima, no Peru. No avião, estava presente o advogado Augusto Arruda Botelho, que atua no processo do Banco Master, defendendo o diretor de compliance do Banco, Luiz Antônio Bull.
De acordo com o senador, há um "ponto de infiltração muito claro e estabelecidos do crime organizado em relação aos Poderes brasileiros".
--- E se dá por meio do lobby e da advocacia que se sustenta em parte da venda de acesso a gabinetes. Eu citei um exemplo da Suprema Corte, mas poderia usar um exemplo do Senado da República. Tem campanhas financiadas pelo crime organizado. Esse é um país que já teve presidente, governador, senador, deputado, governador, prefeito, vereador presos. Mas não tivemos nenhum ministro das instâncias superiores preso. Me parece que esse momento se avizinha --- disse Vieira, perguntando a Lewandowski "quais soluções nós teríamos para esse cenário".
Lewandowski evitou tratar de um caso específico, disse condenar "qualquer desvio ético" por parte do Poder Judiciário e defendeu que seja "aperfeiçoado" o financiamento de campanha eleitoral.
— É preciso um controle maior dessas verbas, desses fundos bilionários eleitorais. Eu cheguei a aventar até a ideia de um tribunal de contas para fazer o controle dessas verbas — sugeriu Lewandowski.
Diante da declaração contundente do relator sobre o envolvimento de senadores com o crime, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) questionou Vieira se ele não gostaria de retificar a fala para não generalizar os atos de 81 senadores. Vieira manteve a sua posição, dizendo que ela se direcionava a parlamentares que fazem lobby para bets e bancos envolvidos em investigações criminais.
— Quem trabalha para bet é financiado pelo crime organizado. Quem trabalha para lobby de banco que rouba aposentado é financiado pelo crime organizado — disparou o parlamentar.


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