CB.PODER | Aécio Neves | presidente do PSDB

Aécio aposta na "Avenida do Centro" para as eleições de 2026

Deputado federal dispara críticas à polarização e diz que PSDB — partido ainda na busca pela reestruturação — tem "autoridade moral e política" para reconstruir uma opção a eleitores avessos tanto ao petismo quanto ao bolsonarismo

 09/12/.2025 - Ed Alves CB/DA Press. Politica. CB Poder recebe Aecio Neves - Deputado Federal e Presidente Nacional do PSDB. -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
09/12/.2025 - Ed Alves CB/DA Press. Politica. CB Poder recebe Aecio Neves - Deputado Federal e Presidente Nacional do PSDB. - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

O presidente nacional do PSDB, o deputado federal Aécio Neves (MG), afirmou que o partido foi o único que não se curvou ao petismo nem ao bolsonarismo e, por isso, "tem autoridade moral e política para reconstruir o caminho do centro". "Acredito que a 'Avenida do Centro' vai se reabrir", enfatizou, em entrevista aos jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Denise Rothenburg, no programa CB.Poder, parceria entre o Correio e a TV Brasília.

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O parlamentar ressaltou que uma parcela do país não se identifica com nenhum dos lados da polarização. "Vamos dar a essas pessoas a oportunidade de votar 'sim' a um projeto. Venho para tentar ajudar a reconstruir esse projeto ao centro", destacou, ao comentar sobre os planos para a reestruturação do PSDB.

Aécio também criticou o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que, segundo ele, não sabe a dimensão do cargo que ocupa. "Figuras como o governador de Minas ou de São Paulo têm que participar das grandes questões nacionais, e não há participação dele. Estamos terminando o segundo mandato dele sem nenhum legado importante", disse. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como será a reestruturação do PSDB, que já foi o partido mais importante do país?

Assumo a presidência nacional do PSDB — cargo que já ocupei por cinco anos quando construímos uma candidatura presidencial — com a convicção de que essa polarização na qual estamos mergulhados hoje — tão rasa, grosseira e radical — não é definitiva. O PSDB se fortaleceu e foi importante para o Brasil como um partido de oposição conceitual ao PT: oposição à forma de governar, à gastança desenfreada e a essa visão antiga e ideológica na política externa. É um governo sem resultados objetivos que, a meu ver, não se preocupa efetivamente com a superação da pobreza. O PT se faz com a administração da pobreza. Nós sempre fizemos oposição a esse governo, só que não nos identificamos com a pauta atrasada do bolsonarismo mais radical. Reassumo a presidência para recolocar o PSDB no protagonismo da política nacional. Vamos reocupar o nosso espaço de oposição que tem um projeto para o Brasil: ousado e liberal do ponto de vista da economia, e inclusivo do ponto de vista social. Acredito que a "Avenida do Centro" vai se reabrir. O PSDB, por ter sido o único partido que não se curvou ao bolsonarismo lá atrás e nem se curva hoje ao lulopetismo, tem autoridade moral e política para reconstruir o caminho do centro.

Qual vai ser a estratégia do partido para ganhar mais musculatura? A sigla sofreu várias baixas ao longo dos últimos anos, com a diminuição de governadores, bancadas e prefeitos.

Eu diria que nós passamos por uma "lipoaspiração" para retornarmos um pouco mais esbeltos e fortalecidos no nosso propósito. O PSDB é um partido que não pode ser medido apenas pela quantidade de prefeitos e governadores, por mais que isso seja importante. Nós somos um partido que tem um projeto para o Brasil. Estamos reorganizando as direções estaduais no país inteiro para dar ao PSDB o que é essencial: unidade para projetar o futuro, independente tanto do lulopetismo quanto do bolsonarismo. Temos o desafio de fazer uma boa bancada no ano que vem; acredito que ultrapassaremos os 30 parlamentares e vamos ajudar a construir um caminho do centro numa candidatura presidencial. É um desafio enorme, não será fácil, mas é factível. Uma parcela do Brasil que não se identifica com esses dois polos está precisando de um campo para votar a favor. Hoje, temos brasileiros que votam no Lula porque dizem não ao bolsonarismo, ou votam no candidato do bolsonarismo porque negam o PT. Vamos dar a essas pessoas a oportunidade de votar "sim" a um projeto. Venho para tentar ajudar a reconstruir esse projeto ao centro.

Até agora, há candidatura de Ronaldo Caiado (União Brasil) e Flávio Bolsonaro (PL); Tarcísio recolheu os flaps. Como avalia esse cenário com o presidente Lula ainda como favorito no meio desses nomes?

Temos de ser realistas: temos um quadro hoje em que o PT é um player viável e terá uma candidatura com possibilidades reais de vitória, porque tem o governo na mão. Há uma divisão muito grande na direita hoje. Eu não acredito na candidatura de alguns desses governadores, nem acho que um membro da família Bolsonaro seja capaz de reunir o centro. Tenho a noção clara de que nós não temos hoje a musculatura necessária para liderar, agora, um projeto nacional. Mas, se as alternativas se limitarem a um representante da família Bolsonaro e ao presidente Lula, temos de admitir a possibilidade de construir um nome do próprio PSDB para qualificar o debate e dizer que existe vida inteligente entre os extremos. O Brasil está carente da oportunidade de votar "sim" a um projeto inclusivo socialmente, liberal economicamente, que garanta a responsabilidade fiscal e preze por portas de saída para os programas sociais. São nomes que terão de pedalar muito ainda para se transformarem em nomes nacionais. Claro que temos de estar abertos a conversar com quem se disponha a apresentar um projeto para o país, e não apenas um projeto de continuidade de uma dessas figuras que hoje polariza a política nacional.

O senhor disputou a eleição de 2014 e perdeu por 3,5 milhões de votos, foi muito apertado. Quando diz que o PSDB quer ser independente dos polos, podemos dizer que esses polos estão, de certa forma, ligados, considerando o que aconteceu de 2014 em diante?

Concordo, até porque eles se retroalimentam. O PT surfa muito na radicalização do que o bolsonarismo representa. Trago uma lição antiga do meu avô, o presidente Tancredo, que dizia: "Na política, a arte não é escolher o aliado, é escolher o adversário". Se o PT pudesse escolher um adversário para a eternidade, escolheria o bolsonarismo. Temos uma parcela expressiva de eleitores que votaram no PT não por serem petistas, mas porque rejeitavam mais fortemente o que o bolsonarismo representava. É para esses que temos que falar. Os polos vivem do oxigênio que o outro dá. Com o advento das redes sociais, o discurso radical sempre tem mais likes. O plenário do Congresso, hoje, é um local quase insalubre, onde só tem espaço para a pancadaria e para os likes. Não existe mais espaço para o debate e a construção suprapartidária. Se o projeto é do governo, a direita é contra; se vem da direita, o governo é contra, independentemente do mérito. Isso me angustia. Talvez, eu tenha aceitado voltar à presidência do PSDB por ainda acreditar na política do diálogo e do entendimento, não nas "dinamites" jogadas diariamente. É preciso deixar para nossos filhos um país menos raso, inculto e agressivo, onde adversário político não é inimigo. Assumo o PSDB achando que ainda existe espaço para um partido que proponha um projeto, seja oposição, mas não aceite flertar com o autoritarismo ou a ditadura.

Como avalia o projeto da dosimetria?

Tenho uma posição muito clara: sou filho e neto da democracia. Crimes contra o Estado Democrático de Direito não são passíveis de anistia; isso é uma definição constitucional e política. A democracia é o melhor dos sistemas, e não há espaço no Brasil de hoje para discutir anistia. Porém, vejo que muitas penas foram exageradas para aqueles que tiveram uma participação lateral no processo — não me refiro aos que organizaram, financiaram ou planejaram a tentativa de golpe. Tivemos centenas de pessoas que participaram daquela balbúrdia, algumas sem tanta quebradeira, que levaram penas muito altas, de 12 a 16 anos.

O senhor teve participação no projeto?

Ajudei a construir o texto do PL da dosimetria das penas, que permitirá que não haja cumulatividade entre crimes semelhantes, como golpe de Estado e extinção do Estado Democrático de Direito. Com isso, há um alívio da pena, permitindo que essas pessoas retomem suas vidas sem serem anistiadas ou inocentadas; elas terão sido condenadas e pagarão pelo crime. Se esse PL da dosimetria passar e servir para tirar da pauta definitivamente a discussão sobre anistia — que só interessa aos polos — permitindo retomar a agenda da educação, segurança pública e reforma tributária, acho aceitável. Por sugestão minha, o projeto deixou de ser de anistia e passou a ser chamado de dosimetria.

Como avalia a polarização entre Judiciário e Congresso, com a discussão da lei de impeachment de ministros do Supremo?

É uma questão preocupante. Toda vez que um poder invade as prerrogativas de outro, a consequência é atrito e reação. Temos uma lei de 1950 que vigorou bem por mais de 60 anos. Não vejo como recomendável essa discussão agora e da forma como se colocou. A consequência pode ser uma reação com projetos ainda mais gravosos no Congresso. Acredito no bom senso e que o Supremo compreenderá que esse não é o tema do momento. Quando o Poder Judiciário, em especial o Supremo Tribunal Federal, deixar de ter um ativismo tão grande como vem tendo hoje, o país ganhará. Toda ação gera uma reação.

Concorda com a leitura de que esse movimento do STF está se antecipando ao que pode acontecer em 2026, com uma possível maioria conservadora no Senado?

Essa é uma leitura superficial, mas não acho que um ministro do Supremo deva ser suscetível a pressões; se for, não deveria estar lá. Quem vai eleger o Senado é a população brasileira. Se a população eleger uma maioria com prioridade de afastar ministro, é decisão dela, embora eu espere que não aconteça. Não acredito que a resposta adequada seja o Supremo criar regras preventivas ou blindagens. Regras duradouras sinalizam que esse tipo de mudança ao sabor das circunstâncias não é recomendável. Essa proposta parece muito mais uma reação ao que pode vir a acontecer, o que pode gerar uma contrarreação do Congresso que piore as coisas.

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Como ficará Minas Gerais, sua terra, para a eleição do ano que vem?

Em Minas, as coisas também não vão bem. Tivemos três governos do PSDB muito exitosos, referência em educação e segurança, seguidos por um governo traumático do PT e, depois, o governo Zema. O governador Zema não é uma má figura, mas não compreendeu a dimensão do que é ser governador de um estado como Minas Gerais. Figuras como o governador de Minas ou de São Paulo têm que participar das grandes questões nacionais, e não há participação dele. Estamos terminando o segundo mandato dele sem nenhum legado importante. A sucessão ainda é muito embrionária. Claro que há movimentos para que eu volte ao governo de Minas ou ao Senado, mas minha missão hoje é a reconstrução do PSDB e do projeto nacional do partido. Quanto a Minas, sigo outra máxima "tancrediana": é preciso deixar a onda bater na areia para ver como fica a espuma. Estou na fase de observar. Minha dedicação agora é reconstruir o PSDB nos estados e viabilizar uma bancada expressiva no Congresso. Cumprindo essa missão, verei qual o melhor papel que posso desempenhar em Minas para ajudar nesse projeto.

*Estagiário sob a supervisão de Cida Barbosa

 

 

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postado em 10/12/2025 03:59
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