Televisão

Artista em evolução constante, Leandro Lima se dedica a atuação e à música

No ar em um papel icônico em Vale tudo, seu segundo remake, o ator, modelo e músico Leandro Lima esteve recentemente nos palcos como o imortal e lendário Elvis Presley

Leandro Lima é ator, dançarino e já foi até cantor de Axé. Agora, protagoniza par romântico de Odete Roitman em Vale Tudo  -  (crédito: Bruno Rangel )
Leandro Lima é ator, dançarino e já foi até cantor de Axé. Agora, protagoniza par romântico de Odete Roitman em Vale Tudo - (crédito: Bruno Rangel )

Entre os bastidores do Projac e os palcos iluminados dos musicais, há um homem que transita com elegância por linguagens e épocas. O ator Leandro Lima, 43 anos, nascido em João Pessoa, também modelo fotográfico e de passarela, desfila hoje por uma das tramas mais icônicas da teledramaturgia brasileira: Vale tudo. No remake de 2025, ele dá vida a Walter, o amante fixo da lendária vilã Odete Roitman — agora vivida por Débora Bloch. O personagem, imortalizado pela emblemática cena da maionese estragada na versão original, de 1988, ganha novos contornos sob a pele do galã que já foi cantor de axé, protagoniza musicais e, acima de tudo, é um artista em mutação constante.

A primeira vez que Leandro ouviu "Pare, não coma essa maionese" foi da boca de um amigo íntimo, seu compadre, Diego Rodrigues, muito antes de saber que um dia reviveria esse exato universo. "Ele sempre falava quando queria chamar a atenção para algo urgente. Quando recebi o convite, foi a primeira pessoa para quem liguei. Ele caiu na risada", conta, com afeto. O que era uma piada interna virou profecia. E o destino tratou de colocá-lo cara a cara com a cena que virou símbolo de uma novela que, desde os tempos da redemocratização brasileira, questiona a ética brasileira. Na trama, seu personagem envenena a refeição que será servida em massa pela protagonista Raquel (Taís Araújo) a mando da arquivilã.

Leandro Lima faz par romântico com Odete Roitman em Vale Tudo
Leandro Lima faz par romântico com Odete Roitman em Vale Tudo (foto: Reprodução Gshow)

Na releitura assinada por Manuela Dias da obra original de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, Leandro encarna, ao lado de Débora Bloch, um romance que, segundo ele, é lido com outros olhos em 2025 do que foi na época em que os personagens foram vividos pelos atores João Bourbonnais e Beatriz Segall (1926-2018). "A Odete de agora é uma mulher livre, independente. O público entende isso de outra forma. Passaram muitos anos e, hoje em dia, uma mulher com a liberdade sexual é vista de outra forma. Odete é livre para escolher seus namorados da maneira que quiser", destaca o ator.

Este é o segundo remake da carreira de Leandro, que atuou como o boiadeiro Levi na releitura de Pantanal feita pela TV Globo em 2022. Apesar da carga histórica dos projetos, Leandro recusa o peso da responsabilidade: "Não me sinto pressionado por estar em um remake. Vou lá para contar uma boa história. E ponto", avisa, sem arrogância, mas com a segurança de quem construiu uma carreira com os pés no chão. Na televisão, Lima interpretou do gigolô Patrick, em Insensato coração (2011), ao delegado Marino, de Terra e paixão (2023), passando pelo soldado Davi, que fica paraplégico em Joia rara (2013), e pelo nobre príncipe de Valedo Jacques de Alencastro Bourbon, em Belaventura (2017, na Record).

Acompanhado pela música

Antes de cruzar oceanos como modelo e estudar atuação no exigente Lee Strasberg Institute, em Nova York, a história do artista começou na música, no fervor dos carnavais nordestinos, como vocalista da Ala Ursa. "A música sempre me acompanhou", diz. E acompanhou mesmo — passando por repórter especial do extinto talent show Dancing Brasil, apresentado por Xuxa na Record, até levá-lo a um dos papéis mais importantes da carreira: Elvis Presley no musical Elvis — a musical revolution, que estreou em São Paulo no ano passado. 

Leandro é uma pessoa que vive a música o tempo todo, com playlists para qualquer momento. "Eu gosto de fazer playlists, gosto de pesquisar músicas, de ouvir discos, pegar nos discos. A minha relação com Elvis era superficial, eu sabia o que todo mundo sabe dele, mas, agora, as 27 canções que estavam no espetáculo fazem parte das minhas playlists e da minha memória afetiva, com certeza. Foram 64 dias de preparação. Um mergulho intenso", admitiu o artista, que viajou para Memphis, nos Estados Unidos, para fazer pesquisas que o ajudassem a humanizar o mito.

Leandro Lima, ator
Leandro Lima, ator (foto: Brunno Rangel)

Curiosamente, não foi a primeira vez que Leandro deu voz a personagens apaixonados por música. Na série Coisa mais linda, da Netflix, ele foi Chico, um músico romântico na era da bossa nova. "Foi uma realização. Um projeto que eu adoraria que tivesse continuado", confessa, deixando escapar uma ponta de saudade da série que retratava, de forma feminista, os anos 1950 no Rio de Janeiro.

O pisciano é também um observador atento das mudanças sociais — e das masculinidades em transição. "O Leandro de ontem não é o Leandro de hoje. A sociedade está se repensando, e a gente tem que acompanhar esse movimento. A gente precisa evoluir, não por modismo, mas por consciência coletiva."

Pai, galã e nordestino

Sem discursos prontos, o artista fala com genuinidade sobre machismo, representatividade e as novas paternidades. Pai de Giulia, nascida quando ele tinha apenas 18 anos, e de Toni, que chegou quando ele já passava dos 40, ele compara as duas experiências com delicadeza. "Antes, era sobre sobrevivência. Agora, é sobre presença. Sobre escuta." Entre fraldas e roteiros, ele encontra tempo para refletir sobre o que significa educar em tempos de mudanças aceleradas — e para rever seus próprios caminhos. 

"Tem muito material que a gente tem que ir absorvendo e tentando melhorar. Tem muitas coisas que eu já melhorei bastante, como certas condutas que são muito mais maduras e tranquilas. Naquela época, eu tinha que trabalhar para sobreviver, estudava, tinha uma banda e queria curtir também um pouco a vida. Era tudo muito ao mesmo tempo. Agora, as coisas estão mais calmas, vamos dizer assim", defendeu Lima, que é casado — mantém com mãe do filho caçula um relacionamento de mais de 10 anos.

E o galã? O símbolo sexual? Ele sorri. "Não me incomoda. Só espero que enxerguem o trabalho para além disso. Porque quando a carinha não for mais bonita, eu quero que o trabalho permaneça." Frase de quem sabe que beleza é passageira, mas talento, quando bem cuidado, amadurece como bom vinho.

Vaidoso, sim — com a vaidade de quem já desfilou para Versace, Calvin Klein e Christian Dior, mas que hoje prefere cuidar da pele pela saúde, não pela obsessão. "Envelhecer me assusta menos do que ver gente muito nova fazendo procedimentos para parecer mais velha. Eu quero envelhecer com dignidade", reflete o ator que recentemente protagonizou o thriller erótico da Netflix O lado bom de ser traída.

Paraibano com orgulho, Leandro é enfático sobre a representação nordestina na mídia. "Está melhorando. E tem que melhorar mesmo. Chega de sudestino fazendo nordestino caricato. Agora é a gente, com nossa prosódia, nosso corpo, nosso tempo", conclui o ator, que está previsto no elenco de Três graças, a sucessora de Vale tudo no horário. 

Com o mesmo corpo que suou sobre o trios elétricos do axé, vestiu o rhinestone de Elvis e encarna personagens diversos, entre um extremo e outro, Leandro Lima não se transformou: multiplicou-se. É ator, cantor, modelo, galã, pai e, não por acaso, escolheu para si um ofício que exige o corpo inteiro: o de contar histórias.


  • Leandro Lima, ator
    Leandro Lima, ator Foto: Brunno Rangel
  • Leandro Lima faz par romântico com Odete Roitman em Vale Tudo
    Leandro Lima faz par romântico com Odete Roitman em Vale Tudo Foto: Reprodução Gshow
PP
postado em 06/07/2025 00:01 / atualizado em 11/07/2025 08:12
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