Moda

De amuleto a acessório: como a cruz se tornou um símbolo na moda?

Para além da religião, a cruz virou um elemento muito utilizado no mundo fashion. Agora, retorna com a nostalgia de outras décadas, embalada por uma nova linguagem visual

Designers estão combinando cruzes com símbolos místicos -  (crédito: Reprodução/ Pinterest)
Designers estão combinando cruzes com símbolos místicos - (crédito: Reprodução/ Pinterest)

A cruz sempre foi um símbolo poderoso e popular no mundo fashion, sobretudo por questões religiosas e estéticas. Mais do que isso, carrega a força das tendências cíclicas, já que é um elemento que, vez ou outra, reaparece em novos formatos e estilos. Desta vez, retorna com a cara e a coragem de uma geração que não tem medo de incorporar diferentes acessórios. Agora, ressurge embalada pela nostalgia e a busca por significado em tempos de incerteza.

Em todos os cantos, é comum encontrar aqueles que, em nome da proteção divina, amam utilizar objetos religiosos em colares ou acessórios diversos. Contudo, seu conceito na moda sempre esteve enraizado, também, em outras terras. Fernanda Juma, designer de moda e consultora de imagem, afirma que a cruz volta os holofotes como um elemento de estilo com múltiplas interpretações. 

Todavia, vários são os fatores que norteiam a popularização desses símbolos no mundo contemporâneo, especialmente entre os mais jovens. A busca por espiritualidade, melancolia e o uso da moda como forma de questionamento são algumas das causas descritas por Fernanda. "Em um contexto mundial polarizado, a cruz é comumente utilizada para representar oposição, contraste que fica evidenciado na relação entre o sagrado e o profano", acrescenta.

De acordo com a profissional, a moda é inerentemente cíclica, exemplo disso são os anos 1980 e 1990, que são revisitados de forma recorrente. "Essas décadas foram marcadas pelo estilo gótico, o punk e outras subculturas, que tinham a cruz como um elemento estético muito forte, por isso ela, naturalmente, faz parte desse ciclo de nostalgia e reinterpretação", destaca Fernanda. Entretanto, a nova geração, tão conectada e apaixonada por inúmeros artistas, inspira-se em seus ídolos na hora de se vestir.

Por isso que, de certa forma, esse acessório renasce com ainda mais peso, uma vez que as gerações Z e Alpha costumam se espelhar em tendências que nascem nos solos da internet.  "A exposição do símbolo por artistas como Camila Cabello, Chappell Roan e Lady Gaga, a exemplo do seu último álbum, Mayhem, e influenciadores digitais acelera a sua popularização e a glamourização", completa a consultora de imagem. 

Uma nova linguagem

Atualmente, a cruz aparece tanto em peças de luxo quanto no streetwear, o que amplia muito a cartela de materiais. Para o stylist Fernando Lackman, o ouro amarelo e o ouro vintage têm voltado com força, especialmente com acabamento fosco ou envelhecido, trazendo aquele ar de relíquia de família. A prata, na visão do especialista, continua soberana em propostas mais urbanas e minimalistas — e aparece muito com acabamento oxidado, criando um contraste dramático com a pele.

"Vemos muita resina, pérolas, madrepérola, cristais e zircônias em designs maximalistas e irreverentes — sobretudo em coleções genderless. Pedras naturais (ônix, turquesa, ametista) também surgem como uma forma de imprimir personalidade à peça. É como se a cruz estivesse sendo curada como uma obra de arte pessoal", complementa Fernando. Outro ponto importante é o novo design desses símbolos e a maneira como os profissionais da área estão inovando em relação à produção dessas peças.

Isso, de alguma maneira, corrobora para que a utilização da cruz se mantenha integrada a outras linguagens visuais. "Designers estão combinando cruzes com símbolos místicos, como olhos, serpentes e signos do zodíaco, criando um mix entre fé, espiritualidade e ocultismo pop. Mas tem, ainda, uma vertente conceitual ligada ao estilo de cantores e músicos populares com a ideia de subverter a cruz clássica sem perder sua força como ícone, mas mostrar que há fé onde a maioria das pessoas dizem não existir."

Como combinar? 

A cruz, hoje, pode ser encarada como um elemento coringa. Segundo Fernando Lackman, tudo depende do styling e da mensagem. Em looks casuais, ela entra como ponto de impacto — um colar sobre camiseta branca ou uma gargantilha com cruz em um visual minimalista, por exemplo, faz toda a diferença. “No streetwear, mistura-se com correntes grossas, peças oversized e estética clubber”, descreve. Nas passarelas recentes, viu-se cruzes compondo com alfaiataria, vestidos pretos clássicos e até moda festa. “É um acessório bastante versátil”, completa.

Religião ou estilo? 

Para Fernando, essa é uma das questões mais delicadas — e fascinantes. A cruz, por mais estilizada que seja, carrega um peso simbólico muito forte, então os designers andam em uma corda bamba entre respeito e subversão. “Alguns assumem uma postura reverente, tratando o símbolo como joia de devoção. Outros abraçam o caráter transgressor, como uma provocação estética e cultural. A chave está na intenção do design. Muitos criadores contemporâneos buscam neutralizar o aspecto religioso da cruz, deslocando-a para um campo de expressão pessoal. A cruz vira símbolo de proteção, de identidade, de estilo. Há até quem a use como forma de crítica ou ressignificação”.

  • A cruz, para muitos, 
é o acessório da vez
    A cruz, para muitos, é o acessório da vez Foto: Reprodução/ Pinterest
  • A cruz, hoje, pode ser encarada como um elemento coringa
    A cruz, hoje, pode ser encarada como um elemento coringa Foto: Fotos: Reprodução/ Pinterest
  • A cruz tem feito muito 
sucesso na moda streetwear
    A cruz tem feito muito sucesso na moda streetwear Foto: Reprodução/ Pinterest
  • O rapper Matuê é um dos responsáveis por popularizar o colar com cruz no Brasil
    O rapper Matuê é um dos responsáveis por popularizar o colar com cruz no Brasil Foto: Reprodução/ Instagram
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postado em 20/07/2025 06:00
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