Turismo

Jardins, museus e história: os pontos turísticos imperdíveis de Curitiba

Gastronomia, cultura, turismo e estilo de vida são projetados em muitos sotaques na capital paranaense e em outras cidades do estado

Curitiba é a mais completa cidade brasileira, daí ter-se posicionado entre as 10 melhores do planeta para se visitar em 2025. Já ganhou o título de "a mais inteligente do mundo" pelo Instituto Smart City de Barcelona. Mas o que mais diferencia a capital do Paraná é a sua gente, que faz da cidade um exemplo de mobilidade, sustentabilidade, inovação e diversidade cultural.

Com 35 mil metros quadrados, o maior museu de arte da América Latina, cujo projeto foi desenhado pelo próprio Oscar Niemeyer, tornou-se símbolo de Curitiba, onde é visto popularmente como o "Museu do Olho". Diversas exposições simultâneas, além de café e loja, povoam o Museu Oscar Niemeyer (MON), que foi o lugar escolhido para sediar, no último fim de semana de setembro, o Festival Tutano Gastronomia — um movimento que conecta chefs, produtores, empresários e apaixonados por comida.

Idealizado pelo chef curitibano Beto Madalosso, descendente de uma família pioneira na gastronomia da cidade, o evento nasceu em 2018 com o propósito de reunir profissionais e amantes da boa mesa, mediante a promoção de debates, troca de experiência e valorização da cadeia alimentar. Com o apoio de uma dupla de especialistas em evento — Daniele Volcov e Alessandra Vianna — evoluiu em 2023 e ganhou formato de festival, consolidando-se como um dos principais encontros gastronômicos do país.

"A ideia é aproximar a cultura e a culinária local do grande público", afirma o idealizador do evento, que durante três dias promoveu palestras, painéis e aulas show para que os participantes tivessem "uma imersão completa no futuro da gastronomia brasileira".

A origem

Há 140 anos, na região noroeste, instalaram-se as primeiras famílias italianas vindas principalmente de Vêneto e Trento, em uma área conhecida como Taquaral, mais tarde batizada de Santa Felicidade. Entre elas, vieram os Madalosso, que se dedicaram a atividades agrícolas. Em 1963, Antônio Domingos Madalosso comprou um pequeno restaurante de apenas quatro mesas, em Santa Felicidade, onde servia polenta e frango. Dois dos três filhos passaram a trabalhar com o pai: Carlos atuava como garçom e Flora era a cozinheira.

Logo depois, entrou o primogênito, Severino Madalosso, e os três irmãos são sócios até hoje. "O tio Severino já é falecido e seus descendentes representam a parte dele", conta Beto Madalosso, filho de Carlos. Atualmente o "Velho Madalosso", que abriu na década de 1960 na Avenida Manoel Ribas 5852, conta com 400 lugares, enquanto o novo Madalosso, aberto do outro lado da rua e que foi inaugurado em 1970, com 4.600 lugares, é capaz de servir todos os clientes simultaneamente. No cardápio, pratos clássicos da cozinha tradicional italiana oferecidos em sistema de rodízio.

Criado dentro do maior restaurante da América Latina, o inquieto e criativo Beto Madalosso é formado em administração e gastronomia, fez estágios em cozinhas de Nova York e da Itália e, aos 32 anos, abriu seu primeiro restaurante em Curitiba. Atualmente, mantém a pizzaria Madá, o bar Sbagliato, o empório/adega Tutano e o recém-inaugurado restaurante de frutos do mar, chamado Uma Ova. Funcionam todos os quatro no mesmo complexo gastronômico situado na Rua Saldanha Marinho 1230.

Mercado e chefs

Há um ditado que diz se você quer saber como vive o povo de uma cidade, visite o mercado público para ver o que consomem. Mais do que um polo de compras, o de Curitiba é um local para rever amigos. Todo mundo vai lá, e o espaço se mantém limpíssimo. Não há um papel ou fruta no chão. Funciona desde 1958 e, em 2002, o prédio sofreu uma grande reforma e recebeu uma nova praça de alimentação, local para exposição e shows. Tem hortigranjeiros, delicatessens, setor de orgânicos e grande seleção de café, queijo e embutidos. Funciona de terça a domingo.

Uma das bancas mais visitadas é a SN Comércio de Frutas e Verduras dos irmãos sanseis Sidneia e Nelson. "Aqui temos produtos diferenciados, como flores comestíveis (amor-perfeito, minirrosas, margaridas, cravinas e capuchinhos), microverdes (folhinhas de beterraba, rabanete, amaranto, ervilhas, coentro e outras), cenouras coloridas e minimorangas muito usados na gastronomia", resume Sidneia. Alguns chefs vêm pessoalmente buscar, como a Manu Buffara, que leva as folhinhas verdes pra finalizar os pratos, conta.

Dona do restaurante homônimo, a chef é conhecida por ter tornado Curitiba um destino da alta gastronomia brasileira. Eleita em 2022 a melhor chef da América Latina pelo ranking 50 Best's Restaurant Latin America, Manu serve menu degustação focado na gastronomia sustentável. Aberto em 2011, o Manu fica na Alameda Dom Pedro II, 317. 

Num dos pontos mais charmosos do bairro Batel, está o K.sa, da chef Claudia Krauspenhar, que pratica culinária contemporânea com respeito às bases clássicas da gastronomia. No banquete de encerramento do Fórum Tutano, coube a ela apresentar a entrada de lula e acelga na brasa, molho à base de castanha, leite de coco, manteiga defumada, coentro e raspas de cítricos. Harmonização foi feita com vinhos locais e importados pela Porto a Porto, empresa nascida em Curitiba em 1998.

Conhecido dos brasilienses por responder há um ano pela cozinha do B Hotel, o chef paranaense Lênin Palhano é dono em Curitiba de dois endereços: Féer (o nome vem da palavra feérico), de cozinha contemporânea com influência italiana e criatividade brasileira, que fica na Avenida Manoel Ribas 540, e Trama, que funciona na Alameda Prudente de Morais 1118, de terça a sábado, somente à noite. Lá, você vai encontrar "uma gastronomia criativa e de produto", define o chef.

O Paraná foi formado por diversas etnias. Além de italianos, ucranianos e poloneses, há alemães, árabes e orientais, como japoneses. No hotel Grand Mercure Curitiba Rayon, funciona o Hai yo, onde o chef Lucas Coelho executa cardápio oriental, incluindo omakase, cujos pratos são escolhas dele, como ostras de Floripa, que podem vir frescas com bluefin e flor-de-sal ou com ovas de salmão e massago com yuzu.

Divulgação - A premiada chef paranaense Manu Buffara

Atrações da serra e do mar

Vale a pena se aventurar fora da capital paranaense para visitar os pontos turísticos do estado. São 399 municípios com santuários ecológicos, biodiversidade, destinos e programas bem estruturados, como
o do trem entre Curitiba e Morretes, em uma ferrovia centenária pelo meio da Serra do Mar, que foi eleito um dos 15 passeios ferroviários mais incríveis do mundo pelo guia britânico Best in Travel 2025. E no fim da linha, depois de se encantar com a Mata Atlântica intocada, o programa obrigatório é saborear o barreado. Todos os restaurantes oferecem o prato ícone do Paraná.

Outra atração é a cidade de Ponta Grossa, com o Parque Estadual de Vila Velha, distante 90 quilômetros de Curitiba, para ver os imponentes arenitos de 300 milhões de anos, que criam cenários surreais, com
formações rochosas esculpidas pelo vento e a erosão, das quais a mais conhecida é “A Taça”. Ao redor, há trilhas e cachoeiras com destaque para o Buraco do Padre, uma queda de 30 metros que despenca em uma piscina natural da cor esmeralda.

Gruta das Encantadas, Farol das Conchas e Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres são três praias paradisíacas da Ilha do Mel, um dos mais belos atrativos do Paraná, que tem mais de 100 praias e ilhas maravilhosas. Na do Mel, há dezenas de pousadas para todos os gostos e bolsos. E também uma gastronomia de primeira com frutos do mar fresquinhos pescados no dia.

Na outra ponta do Estado, distante 630 quilômetros de Curitiba, já na fronteira com a Argentina, está o fabuloso conjunto de 275 quedas d´água — maior em todo o planeta — que fica dentro do Parque Nacional do Iguaçu, desde 1984 considerado Patrimônio da Humanidade. Em 2024, as Cataratas foram eleitas o principal atrativo do Brasil e da América do Sul, segundo Trip Adviser, e receberam 1,8 milhão de visitantes. Outra atração é o Aquafoz, novo aquário que oferece experiência imersiva conectando turismo, educação e conservação ambiental. Em 2026, está prevista a inauguração do Museu Internacional de Arte, construído em parceria com o Centro Georges Pompidou, de Paris.

Viaje Paraná - Foz do Iguaçu e seu fabuloso conjunto de 275 quedas d'água

Pratos típicos

Barreado — O mais famoso prato típico paranaense é o barreado, originário do litoral do estado. O preparo foi herdado da região de Açores (Portugal), mas acabou adaptado à realidade local com o uso de ingredientes regionais. Consiste em carne bovina ensopada cozida por no mínimo 12 horas, em uma panela fechada, com goma de farinha de mandioca. Após o cozimento a carne desmanchando é servida com farinha
de mandioca fina, arroz, pirão e banana. A cidade de Morretes, a apenas 40 minutos de Curitiba, é famosa pela iguaria, que também é servida em restaurantes de Antonina e Paranaguá. 

Carne de onça — Quando lhe oferecerem carne de onça não se assuste com o nome. Trata-se apenas da versão local do steak tartare e é muito difundido nos bares da capital paranaense. O prato, considerado
Patrimônio Cultural de Curitiba, é feito com carne bovina moída, crua e temperada, servida com cebola, cebolinha, azeite e mostarda sobre uma fatia de pão de centeio.

Pão no bafo — Trazido por imigrantes alemães no fim do século 19, que se estabeleceram na região de Campos Gerais, município de Palmeira, a iguaria é feita à base de carne suína, repolho azedo (chucrute) e pãezinhos cozidos no vapor. Tudo preparado e servido na mesma panela.

Pierogui — Receita dos imigrantes poloneses e ucranianos que se assentaram na Região Metropolitana de Curitiba no início do século 20. São pasteizinhos de farinha de trigo cozida tradicionalmente e recheados
com batata, ricota e repolho. O molho costuma ser à base de bacon e cebola fritos, mas também à base de nata ou tomate. Servido nas feiras gastronômicas de rua e no centro histórico da capital.

Bala de banana — A cidade de Antonina se encheu de orgulho quando a típica bala de banana, deliciosamente macia feita de banana nanica, cuja origem vem dos pequenos produtores de Guarequeçaba, no litoral paranaense, ganhou o selo IG (Indicação Geográfica), que protege o nome
da região onde o produto se tornou notório, concedido pelo Instituto
Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).

Divulgação/Fernando Ogura/ANPr - Barreado, prato típico do Paraná

Vinho nos pinheirais

No entorno da Serra do Mar, a 40 quilômetros de Curitiba, deu muito certo o plantio de vinhas pelos irmãos Adolar e Renato Adur numa propriedade onde teve início projeto de reflorestamento de araucárias — a árvore símbolo do Paraná, cujo nome batiza a vinícola pioneira no município de São José dos Pinhais. Em contraponto com as montadoras brasileiras lá instaladas, como a Renault, Volkswagen e Audi, a região extremamente privilegiada pela natureza e clima encerra alguns projetos enoturísticos, dos quais a
Vinícola Araucária é o mais importante.

Funciona anexo restaurante e hotel, cuja operação está a cargo do grupo hoteleiro Slaviero. “Por aqui já havia uvas americanas como a Bordô, usada em sucos, mas eu sonhava em produzir vinhos finos, daí fui buscar consultoria no Rio Grande do Sul”, relata Adolar, engenheiro-agrônomo. Os irmãos Adur, além do sócio Pedro Gallina, contrataram os enólogos gaúchos Marcos Vian e Anderson Schmitz, os mesmos que assinam os vinhos produzidos na área do PAD-DF pela Vinícola Brasília. A dupla se tornou sócia do
projeto vitivinícola no Paraná.

Com sete variedade de uvas europeias — seis francesas e uma italiana —, a Araucária contempla quatro linhas de produtos com 15 rótulos. Entre eles, o tinto, que leva o nome científico do pinheiro Angustifólia Cabernet Sauvignon, safra 2020, ganhou a medalha de melhor vinho do Paraná na Grande Prova Vinhos do Brasil 2025. Já o branco Angustifólia Chardonnay Reserva obteve medalha de ouro no mesmo certame. O tinto custa R$ 125 e o branco, R$ 219.

A Vinícola Araucária está aberta diariamente das 9h às 16h para visitação à loja de vinhos. Aos sábados, domingos e feriados há visitas guiadas, a partir das 9h, para conhecer o vinhedo e o processo de
elaboração da bebida, além da degustação de alguns produtos. Basta agendar as visitas pelo telefone (41) 99173-5742 ou pelo site www.vinicolaaraucaria.com.br.

Liana Sabo/CB/D.A.Press - Adolar Adur é sócio da vinícola Araucária

A jornalista viajou a convite do Festival Tutano

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Liana Sabo/CB/D.A.Press - Adolar Adur é sócio da vinícola Araucária
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Divulgação - Um dos pratos do menu degustação da chef Manu Buffara
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