
A moda é mais do que uma profissão, é uma expressão e extensão de quem a cria ou produz. Isso, sobretudo, quando passatempos de infância, como desenhar roupas e fazer colagens, viram uma espécie de propósito dentro da arte. Em uma entrevista exclusiva, a designer Marcela Bacelo contou um pouco sobre suas passagens profissionais fora do país, especialmente quando trabalhou como diretora de arte na Everlast, em Nova York.
Essa jornada artística, de acordo com ela, existe desde que nasceu. Apesar do caminho não ter sido linear, já que os altos e baixos sempre aparecem, se sente, agora, na fase de plantar e colher frutos — assim como tem feito. “A transição de criativo para empreendedor aconteceu com a compreensão de que a veia artística deveria se tornar fonte de renda.”, ressaltou.
A mudança para Nova York, dentro deste contexto, foi um marco crucial para que se encontrasse ainda mais nesse universo. "Lá, mesmo sendo um bom criativo, você é apenas mais um, todo mundo é genial e inspirador”, destacou. Essa competitividade a impulsionou a buscar seu "potencial máximo", expandindo repertório e desenvolvendo um processo mais coeso de sua criatividade.
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Uma das tantas vivências importantes que teve foi na Roc Nation — empresa fundada pelo rapper Jay Z — onde o ambiente corporativo americano foi fundamental para que ela mudasse algumas perspectivas. Lá, atuou no papel de design e marketing artístico. “Entendi a competitividade do meio artístico e do mercado de trabalho. Essa experiência hoje me dá confiança para lidar com qualquer projeto ou oportunidade, saber me impor e continuar crescendo”, acrescentou.
Valorização no cenário global
Sobre o que viveu no exterior, a seriedade e comprometimento vistos no dia a dia são características que a marcaram profundamente. A exigência, justamente pela consciência do quão importante esse trabalho é, faz com que o impacto seja considerado extremamente essencial. Neste quesito, uma das principais diferenças apontadas é a estrutura.
"Acredito que, nos Estados Unidos, existe mais estrutura nos departamentos criativos e, consequentemente, mais responsabilidade e valorização dos profissionais da área”, completou. Para Marcela, ter um repertório em expansão e autenticidade é essencial para se destacar, algo que aplicou ao se tornar diretora de arte da Everlast, buscando construir algo autêntico à marca, que é pioneira desde 1910.
Quando o assunto é a moda brasileira, Marcela acredita que o cenário nacional ainda é muito inspirado pelo que vem de fora. E isso ocorre, em sua visão, não por falta de criativos ou de conceitos, mas por falta de valorização interna do que é original. Apesar de se declarar apaixonada pela cultura de rua de São Paulo — que é extremamente multicultural e expressiva — ela enxerga a falta de oportunidades para criativos autênticos.
Isso porque grande parte da audiência tende a se vestir de forma mais conservadora e menos ousada. "A moda, muitas vezes, é vista como supérflua ou associada ao status social, e não como uma expressão verdadeira de identidade," lamentou.
Moda e o futuro digital
Formada em Design pela School of Visual Arts (SVA), em Nova York, e vencedora da Sillas Rhode Scholarship, uma das bolsas mais prestigiadas da instituição, a designer começou sua trajetória trabalhando em agências brasileiras até conquistar espaço no mercado norte-americano. Muito além da Roc Nation, também participou de campanhas e produções para artistas como Alicia Keys e Megan Thee Stallion.
Depois de absorver tanto e preservar a essência que lhe fez chegar nestes lugares, Marcela descreveu sua estética como prática e urbana, inspirada no "brutalismo de São Paulo" com um "toque de surpresa". Segundo ela, esse senso estético é levado para seus projetos, sempre coerente com a essência da marca. Olhando para o futuro, Marcela Bacelo expressa um desejo inovador, impulsionado pela produção em massa e pela expansão da inteligência artificial.
"Tenho o desejo de usar essas ferramentas a meu favor e criar uma marca 100% digital — uma moda que existe na minha cabeça e que não precisa ser utilitária de forma material, mas funcional no universo virtual." Ela acredita que essa moda futurista viverá em plataformas que ainda serão criadas e poderá expressar uma estética que ultrapassa os limites físicos.

Revista do Correio
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