Milhares de gestantes percorrem longos caminhos para conseguir realizar um parto digno, e esse deslocamento coloca em risco a saúde de mãe e bebê
No Brasil, muitas mulheres percorrem quilômetros de ônibus, carros, trens, barcos ou aviões para garantir que os filhos venham ao mundo em ambiente minimamente adequado
Clarisse Cunha Linke, diretora-executiva do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento, ressalta que o acesso ao transporte e à saúde são direitos sociais previstos na Constituição. 'Não tem como assegurar o acesso à saúde sem garantir o acesso ao transporte', afirma
Segundo Clarisse, o sistema de transporte foi pensado para atender à lógica do trabalho produtivo, especialmente os deslocamentos entre casa e emprego, nos horários de pico. Mas o trabalho reprodutivo — como gestar, cuidar, acompanhar filhos — também precisa ser reconhecido e priorizado
Dados do Centro de Estudos Empíricos em Economia da Fundação Getulio Vargas indicam que 31% das mulheres precisam viajar, em média, 59km para realizar o parto. Esse deslocamento eleva em 0,5 ponto percentual a probabilidade de mortalidade neonatal
Bruna Fonseca, pesquisadora do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fiocruz, destaca que 'há uma distribuição desigual dos serviços de maternidade, com maior concentração no Sul e Sudeste, agravando os deslocamentos nas regiões Norte e Nordeste'
Em localidades remotas, o parto seguro só ocorre graças ao esforço de servidores públicos. Forças Armadas, policiais e bombeiros garantem o acesso de gestantes aos hospitais por vias terrestres, aéreas ou fluviais
Ricardo Stuckert/PREm Fernando de Noronha,desde 2004, gestantes são obrigadas a deixar a ilha no sétimo mês de gravidez e seguir para o Recife. Em 2020, a empresária Alyne Dias Luna se recusou a deixar a ilha, temendo a covid-19. A Justiça ordenou a remoção forçada
Arquivo pessoalO Brasil foi o primeiro país condenado por morte materna evitável. O caso de Alyne da Silva Pimentel Teixeira, ocorrido em 2002, tornou-se símbolo da negligência institucional
Reprodução/Centro Brasileiro de Estudos da SaúdeTornar-se cidadão reconhecido pelo Estado ainda é, para muitos, uma conquista tardia. Situação que se agrava entre povos tradicionais, ribeirinhos, indígenas, pessoas em situação de rua e populações de fronteira
Marcello Casal Jr/Agência BrasilEm 10 matérias, o Correio conta a história de mulheres do DF e de várias partes do Brasil que enfrentaram uma verdadeira saga para dar à luz. Acesse o linl abaixo e confira:
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