Políticas públicas

O cuidado da primeira infância vale para toda a vida

Novo programa une os governos federais, estaduais e municipais em ações conjuntas focadas nos primeiros seis anos da criança, começando ainda na gestação. Objetivo é combater desigualdades nesse período

Governo federal instituiu, nesta terça-feira, oficialmente, a Política Nacional Integrada da Primeira Infância (Pnipi), -  (crédito:  Michal Jarmoluk por Pixabay)
Governo federal instituiu, nesta terça-feira, oficialmente, a Política Nacional Integrada da Primeira Infância (Pnipi), - (crédito: Michal Jarmoluk por Pixabay)

O governo federal instituiu, nesta terça-feira, oficialmente, a Política Nacional Integrada da Primeira Infância (Pnipi), com a publicação do decreto que estabelece um novo marco para a proteção e o desenvolvimento de crianças de 0 a 6 anos no Brasil. Coordenada pelo Ministério da Educação, a Pnipi propõe uma articulação intersetorial entre União, estados e municípios para garantir os direitos da primeira infância de forma integrada e com foco na equidade.

A iniciativa surge com o objetivo de fortalecer e coordenar ações nas áreas de saúde, educação, assistência social, cultura, direitos humanos, justiça, habitação, igualdade racial e outras, considerando as múltiplas dimensões que impactam o desenvolvimento infantil.

Entre os princípios da Pnipi, estão o respeito à diversidade, a promoção da equidade, a redução de desigualdades no acesso a serviços públicos e a priorização de crianças em situação de vulnerabilidade. A política também reconhece a interdependência entre o bem-estar da criança e de seus cuidadores, incentivando a oferta simultânea de serviços para ambos.

O decreto também institui uma Estratégia de Monitoramento e Avaliação da política, com indicadores que permitirão acompanhar os avanços no desenvolvimento infantil e identificar desafios. Esses dados serão desagregados por região, raça, deficiência e condição socioeconômica e deverão respeitar as normas de proteção de dados pessoais.

Outro ponto importante da nova política é a criação de um indicador nacional sintético, que permitirá mensurar, periodicamente, a evolução do desenvolvimento integral da primeira infância, levando em conta aspectos como nutrição, saúde, educação e proteção social.

A implementação da Pnipi seguirá um plano de ação estratégico quadrienal, a ser elaborado em conjunto pelos ministérios responsáveis pelos eixos da política. Excepcionalmente, o primeiro plano terá validade de dois anos. O Ministério do Planejamento e Orçamento deverá divulgar, anualmente, a execução financeira das ações voltadas à primeira infância.

Nova fase

A Pnipi substitui decretos anteriores (Nº 10.770/2021 e nº 12.083/2024) e estabelece um novo patamar de integração e eficiência nas políticas públicas para a infância. Ao promover uma abordagem transversal e centrada na criança, o governo busca garantir o direito ao desenvolvimento pleno já nos primeiros anos de vida.

Especialistas e organizações da sociedade civil têm avaliado o decreto como um avanço fundamental para o país, destacando que investir na primeira infância é essencial para o futuro do Brasil.

A nova política já está em vigor e será acompanhada por ações contínuas de monitoramento, cooperação federativa e mobilização social para assegurar sua efetividade em todo o território nacional.

Segundo Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, a medida representa um "marco histórico" para o país. "Ao adotar e lançar a política nacional integrada pela primeira infância, o Brasil escolhe combater as desigualdades desde a sua causa raiz. Escolhe o investimento mais eficiente que existe, que tem o potencial de quebrar os ciclos de pobreza: o investimento no início da vida", afirmou.

A política passa a ser coordenada pelo Ministério da Educação (MEC), o que também foi considerado um avanço importante. Mariana destacou a liderança do ministro Camilo Santana, que já possui experiência na implementação de programas voltados à infância durante seus dois mandatos como governador do Ceará. "Isso é muito animador, porque é preciso tanto vontade política como experiência para implementar", pontuou.

O documento estabelece diretrizes que vêm sendo construídas desde a criação do Grupo de Trabalho da Primeira Infância no Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o Conselhão. Essas diretrizes foram formalizadas em um relatório e, posteriormente, em um primeiro decreto, no ano passado, culminando agora na consolidação da política integrada.

Além de priorizar ações intersetoriais — envolvendo saúde, educação, assistência social e direitos humanos —, a política tem foco especial nas crianças em situação de vulnerabilidade, especialmente aquelas pertencentes a famílias de baixa renda inscritas no Cadastro Único (CadÚnico). Para Mariana Luz, é essencial que essa agenda contemple as mães que vivem sob estresse e ansiedade provocados pela pobreza, fatores que impactam diretamente o desenvolvimento das crianças.

"O mais importante vai ser manter esse compromisso como valor permanente do governo federal: trazer o Legislativo, o Judiciário, os órgãos de controle e toda a sociedade para garantir que a política seja, de fato, de todos", enfatizou.

Ela também defendeu a necessidade de um pacto federativo efetivo, que una esforços dos governos estaduais e municipais na implementação das ações previstas. "A gente celebra esse dia, mas começa amanhã já cobrando que essa agenda da primeira infância se mantenha no topo das prioridades."

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postado em 06/08/2025 03:49
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