
A queda de um avião de pequeno porte, em Aquidauana (MS), matou na noite de terça-feira o renomado arquiteto chinês Kongjian Yu e o documentarista brasileiro Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz, que esteve à frente do direção da série Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia, indicada para o Emmy Internacional. O acidente matou outro documentarista, Rubens Crispim Jr., e Marcelo Pereira de Barros, piloto e proprietário da aeronave.
O aparelho explodiu depois de atingir o solo ao tentar pousar na região da Fazenda Barra Mansa, uma área turística do Pantanal conhecida por receber visitantes do Brasil e do exterior. Consulta feita pelo Correio no site da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostra que o avião de matrícula PT-BAN não tinha autorização para operação de táxi aéreo. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) investiga a causa da tragédia.
Ferraz, Kongjian Yu e Crispim Jr. estavam gravando um documentário sobre o conceito de "cidades-esponja". O urbanista estava no Brasil por causa da Bienal de Arquitetura. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manifestou, em postagem no X (antigo Twitter), sobre o legado do arquiteto chinês: "Em tempos de mudança climática, Kongjian Yu se tornou uma referência mundial com as 'cidades-esponja', que unem qualidade de vida e proteção ambiental: algo que queremos — e precisamos — para o futuro", frisou.
O vice-presidente Geraldo Alckmin registrou, também, que "o professor Yu se notabilizou pela criação do conceito de 'cidades-esponjas', com contribuições notáveis para o urbanismo sustentável, a preservação da biodiversidade e a proteção do planeta. Seu legado continuará inspirando todos que se dedicam à causa ecológica".
A ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) postou no Instagram que "é consenso que enfrentar as consequências das mudanças climáticas passa também por adotar soluções baseadas na natureza, especialmente nas cidades. Nesse tema, Kongjian Yu era especialista". A conta do BRICS no X observou que Kongjian Yu "deixa um legado inestimável para a sustentabilidade do mundo e sua morte é uma enorme perda para o planeta".
Legado
Kongjian Yu era considerado um dos principais arquitetos da atualidade — da envergadura de Zaya Hadid, Santiago Calatrava ou Bernard Tschumi — e tornou-se reconhecido mundialmente por desenvolver o conceito das "cidades-esponja". Nos projetos de sua autoria, parques e áreas verdes funcionam como esponjas, absorvendo o excesso de chuva e reduzindo enchentes. O conceito é referência para mais de 250 cidades no mundo e virou política nacional na China, transformando cidades antes caóticas do ponto de vista do saneamento em exemplos de reaproveitamento das águas.
A empresa que fundou, a Turenscape, tem sede no distrito de Haidian, dentro do Parque Científico da Universidade de Pequim, e realizou mais de 600 projetos. Na Tailândia, Kongjian Yu trabalhou no Benjakitti Forest Park, em Bancoc, além de ter desenvolvido projetos na Rússia e nos Estados Unidos.
Ferraz tem entre seus principais trabalhos, além do documentário Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia — que aborda o acidente aéreo em Cerro Gordo (hoje Cerro Chapecoense), próximo à cidade de La Unión, na Colômbia, que vitimou jogadores e comissão técnica da Chapecoense, em 2016 —, o documentário Um Par Pra Chamar de Meu, vencedor do 50º Festival de Cinema de Gramado. Conta a história de um casal de idosos que vive de maneira simples, mas em harmonia, em um sítio no interior de Minas Gerais.
Outro trabalho de destaque de Ferraz é o documentário Tudo é Projeto, sobre a vida e a obra do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, eleito pelo público o melhor da Mostra de São Paulo de 2017. Já o longa-metragem O Bixiga é Nosso! foi premiado na Mostra Ecofalante.
Crispin Jr. trabalhou com Ferraz em O Bixiga é Nosso!, com o qual mantinha longa parceria. Ele ganhou o prêmio de Melhor Filme pelo público na Mostra Competitiva "Territórios e Memórias", na Mostra Ecofalante de 2024.
Saiba Mais
Fabio Grecchi
Sub-editor de Política-Brasil-EconomiaEx-repórter da extinta revista Placar e de O Globo, no Rio de Janeiro. Ex-diretor de redação da extinta Tribuna da Imprensa, ex-editor executivo do Jornal de Brasília e ex-diretor da Entrelinhas Comunicação e Publicidade.
Aline Gouveia
RepórterJornalista formada pelo Centro Universitário IESB. Apaixonada por boas histórias e interessada em pautas sobre saúde mental e direitos humanos.
Victor Correia
RepórterFormado jornalista pela UnB. Estagiou no Correio de 2016 a 2018 em Ciência, Saúde e Tecnologia. Atuou em assessoria até 2022, quando voltou ao Correio. Repórter de Política, Brasil e Economia.
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