
Após quase duas décadas fechada, a Casa de Chá voltou a ganhar vida no coração de Brasília. Projetada por Oscar Niemeyer e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a joia modernista acaba de completar um ano de reabertura ao público. Em 12 meses, mais de 150 mil pessoas visitaram o espaço, que hoje resgata, não só a paisagem da Praça dos Três Poderes, mas também o símbolo da arquitetura modernista e da história de Brasília.
Projetada entre 1965 e 1966, o local foi feito para ser um ponto de encontro e de descanso dos brasilienses. A arquitetura semienterrada se integra ao traçado da praça, posicionada atrás do Panteão da Pátria e próxima à bandeira nacional, além de refletir o desejo de criar um espaço cultural que incentivasse a ocupação do espaço público.
O local ficou pronto em 1967, mas começou a ser usado apenas em 1975, como um restaurante de comida chinesa. Em 1979, o estabelecimento fechou e a Casa de Chá passou a ser usada casualmente, para locação de eventos. Desde 2019, funcionava como Centro de Atendimento ao Turista, mas há um ano voltou a ser um ponto de encontro que oferece descanso para quem visita a praça.
Em 2024, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-DF) inaugurou uma cafeteria na Casa de Chá e também um espaço para alunos de gastronomia da instituição. Estudantes do Senac têm a oportunidade de atuar diretamente nas operações do local, vivenciando, na prática, os desafios de uma cozinha profissional e do atendimento ao público.
Para Vitor Corrêa, diretor regional do Senac, a reabertura da Casa de Chá representa mais do que a retomada de um espaço arquitetônico simbólico, resgata a função original idealizada por Oscar Niemeyer. "É uma homenagem aos fundadores da cidade, um respeito ao patrimônio de Brasília. A Casa de Chá nunca tinha cumprido seu papel de ser um restaurante, um local de descanso e de encontro na Praça dos Três Poderes", afirma.
Segundo ele, a escolha do espaço para receber o projeto pedagógico se deu tanto por seu valor simbólico quanto pela demanda crescente no setor gastronômico da capital. "Brasília é o terceiro maior polo gastronômico do país. Ter um local como esse para formar profissionais e atender turistas é vital", explica. Após um ano de funcionamento, o impacto é visível. "São mais de 150 mil pessoas que passaram por aqui. A gastronomia que oferecemos dialoga com o Cerrado e com o brasiliense, que é a síntese do Brasil. A Casa de Chá existe por amor ao brasiliense", destaca.
Vivência na Casa
Ex-aluno do Senac, Vando Silva, de 27 anos, é um dos funcionários que atuam na Casa de Chá. Ele conta que fez diversos cursos pela instituição, como os de garçom, maitre, gestão e capacitações que os levaram a trabalhar na casa. "Crescia em mim a vontade de estar nesse cenário. Me apaixonei pelo Senac e hoje estou aqui, nesse edifício projetado pelo Oscar Niemeyer, que é maravilhoso", celebra.
Vando está há cinco meses no local e destaca a emoção de participar da comemoração de um ano de reabertura do espaço. "É incrível. A gente está participando da história de Brasília. Mesmo não estando desde o início, sinto como se fizesse parte disso desde sempre. O envolvimento é tão grande que vira uma família. É algo que não tem como explicar", diz.
Assim como ele, o barista Henrique Paragua também vive de perto a retomada da Casa de Chá. Com oito anos de experiência na área, ele participou do processo seletivo promovido pelo Senac, que incluiu um treinamento sobre a história e a cultura de Brasília. "A gente passou 10 dias conhecendo os monumentos e entendendo a importância que o Senac dá à cidade", conta.
Ver o espaço reabrir foi, para ele, uma surpresa. "Superou minhas expectativas. Muita gente trouxe vida para cá, foi mais especial do que eu imaginava", afirma. Henrique acredita no potencial do projeto: "A Casa de Chá é um sucesso e acredito que ainda vai crescer muito e abrilhantar ainda mais Brasília nos próximos anos", acredita.
Cardápio de chef
Para quem visita, a Casa de Chá oferece não apenas a oportunidade de explorar um marco arquitetônico, mas também de desfrutar de uma experiência gastronômica brasileira. O cardápio, assinado pelo chef Gil Guimarães, traz ingredientes e referências dos diversos biomas do país. As receitas, formuladas especialmente com ingredientes do Cerrado, buscam atrair todos os gostos.
A reportagem encontrou no local a família Sales de Fortaleza, que uniu um passeio turístico a uma paixão por cafeterias. "A gente tem um amor por cafeterias, é sempre o nosso rolê", conta Talytha Sales, 36, empreendedora que mora em Brasília, mas nasceu na capital cearense. Ela visitou o espaço ao lado da irmã, Thayna Sales, 31, que vive em Fortaleza, que estavam com as filhas Maria Fernanda e Anna Júlia. Embora morando no DF há oito anos, Talytha conta que ainda não conhecia a Casa de Chá. "Quando inaugurou, a gente queria vir, mas não deu tempo. Quando a Thayna marcou a viagem, nós reservamos nosso lugar aqui", lembra. Para as irmãs, o ambiente surpreendeu pela beleza, arquitetura e acessibilidade. No cardápio, os salgados e os combos chamaram a atenção da família, que pretende voltar em breve.
Quem aproveitou uma data especial para conhecer o espaço foi Cristiano Amorim, cirurgião-dentista de 50 anos, que levou a mãe, Neide Amorim, 81. Moradora de Salvador, Neide veio a Brasília para visitar o filho e disse estar encantada com o lugar. "Gostei muito. É bem descontraído e aconchegante", diz. Cristiano, morador da capital há 19 anos, conhecia a construção por fora, conta que se surpreendeu com a transformação do local. "Isso aqui era um espaço vazio, abandonado. A gente sempre passava e ficava curioso, pensando o que poderia ser. O Senac soube aproveitar da melhor forma possível e agregou muito", afirma.
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Programação especial
Como parte da comemoração do primeiro ano de reabertura, a Casa de Chá promoverá a pré-estréia nacional do filme Brasília 65 anos — Do sonho ao concreto: Heróis anônimos. O evento está marcado para sábado (28/6), com sessão às 16h30 e 18h. Para participar, barta retirar o ingresso gratuito no Sympla.
Além disso, em parceria com o Arquivo Público do DF, a exposição gratuita Entre o traço e o tempo ocupa a Praça dos Três Poderes até 10 de julho. A mostra traz fotografias e documentos inéditos com bastidores da criação de Brasília e da Casa de Chá, com desenhos e fotos inéditas de Oscar Niemeyer.
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