RESGATE

Conheça o mergulhador que "caça tesouros" no fundo do Lago Paranoá

Com 26 anos de experiência em resgates subaquáticos, Edivilson Magalhães viralizou nas redes ao realizar buscas em lagos, rios e cachoeiras

Mergulhador resgata itens pessoais de pessoas que deixaram objetos cair em lagos -  (crédito: Material cedido ao Correio)
Mergulhador resgata itens pessoais de pessoas que deixaram objetos cair em lagos - (crédito: Material cedido ao Correio)

Com 31 anos de serviço no Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), o subtenente Edivilson Magalhães, de 51 anos, dedica parte da vida a um trabalho muito valorizado por quem já deixou cair algum objeto no fundo de um lago. Formado em 1999 como mergulhador de resgate pela corporação, ele atua oficialmente em missões de busca de afogados e prevenções aquáticas. Mas fora das missões militares, dedica-se a recuperar itens pessoais como celulares, alianças, óculos, joias e até barcos afundados.

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A ideia nasceu de forma espontânea, a partir dos próprios mergulhos técnicos que realizava. "Comecei a mergulhar por conta própria, em pontos com muitas lanchas e banhistas. Tinha curiosidade de ver o que havia no fundo. Às vezes, encontrava um óculos, um relógio… percebi que existia uma demanda ali", conta.

No início, os serviços eram informais. Ele mergulhava por prazer e encontrava objetos que as pessoas nem sabiam ter perdido. Mas logo começaram os pedidos. "Alguém perdia um celular ou um motor de barco, e alguém dizia: 'Chama o Magalhães que ele acha'. Aí o serviço começou a crescer no boca a boca e foi se espalhando por grupos de WhatsApp da região", lembra.

Redes sociais

A virada veio quando o mergulhador decidiu gravar os resgates, e um vídeo em que encontra um Apple Watch no fundo do lago alcançou milhares de visualizações. "Foi quando percebi o poder da divulgação. Comecei a filmar e postar quase todos os mergulhos no Instagram e no Tiktok, mostrando como era o resgate, sempre com imagens subaquáticas dos objetos sendo encontrados no fundo do lago. Isso me deu muita visibilidade."

Com o tempo, os pedidos se tornaram mais frequentes. As pessoas entravam em contato quando perdiam objetos valiosos, como celulares e alianças, especialmente em feriados e fins de semana. "Tem gente que me liga logo após o aparelho cair. Manda a localização e pede para eu ir atrás. Quando a área é bem marcada, a chance de encontrar é grande. E às vezes, o celular ainda está ligado", diz.

Os equipamentos usados variam conforme a complexidade da missão. Em mergulhos mais rasos ou de fácil acesso, é possível fazer tudo com máscara e nadadeiras, em apneia. Mas há casos em que utiliza o cilindro de mergulhos, roupas de neoprene, computador de mergulho, bússola, cinto de lastro e até sonar de varredura lateral — que permite a leitura do fundo do lago para localizar grandes estruturas, como barcos ou motores.

Para objetos pequenos, como alianças ou brincos, Magalhães recorre ao detector de metais subaquático. "É preciso ter técnica, paciência e saber interpretar bem as pistas. Cada resgate é um desafio diferente", explica.

Desafios

Alguns mergulhos exigem preparo técnico e atenção redobrada. Um dos locais mais desafiadores é a barragem do Lago Paranoá, onde a profundidade pode chegar a 38m. A Ponte JK também é uma área crítica, por conta de ferragens e entulho da construção. Mas nenhum mergulho foi tão exigente quanto o feito no Lago das Brisas, em Goiás, onde tentou localizar um helicóptero que teria caído. 

"Chegamos a 51m de profundidade. Era tudo escuro, cheio de galhos no fundo, com visibilidade muito ruim. Fizemos o planejamento certinho, mas os riscos eram altos demais e não conseguimos concluir a busca", relata.

Entre os itens mais comuns resgatados, os celulares lideram a lista. Só de iPhones, ele encontra de 10 a 15 por mês. Em seguida, vêm os óculos, que ele estima ter acumulado de 300 a 500 em casa, muitos sem dono identificado. Já alianças, relógios e joias são menos frequentes, mas sempre exigem atenção redobrada por serem pequenos e mais difíceis de localizar. 

Mesmo com a rotina, ele reforça que o que o move vai além da recompensa financeira ou da repercussão nas redes. "Teve uma vez que recuperei um celular com vídeos de uma criança que havia falecido. Aquilo não tem preço. Ás vezes, você não está devolvendo só um objeto, mas algo que tem muito valor emocional. E isso é o mais gratificante."

Sobre o valor do serviço, o mergulhador explica que depende de vários fatores, como deslocamento, profundidade, visibilidade e tipo do objeto perdido. A média gira em torno de 30% do valor do item a ser resgatado, com um valor mínimo de R$ 500 por mergulho.

 

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postado em 07/07/2025 18:06 / atualizado em 07/07/2025 18:17
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