Ser impactada por notícias de repercussão local e nacional sobre casos de violência contra a mulher aumenta o sentimento de revolta. Sinto que falhamos como sociedade a cada soco ou facada desferidos no elevador de um condomínio em Natal e num estacionamento público aqui em Brasília. Não nos resta outra opção se não agir para educar meninos e meninas, desde a primeira infância, para o respeito e a igualdade.
A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie escreveu, em 2017, o manifesto Para educar crianças feministas. O texto surgiu quando uma amiga de infância perguntou-lhe o que deveria fazer para criar a filha como uma feminista, que respeitasse e lutasse pelos direitos de outras mulheres. A ativista aceitou o desafio e reuniu numa carta 15 sugestões para ajudá-la a cumprir a tarefa.
"Penso que é moralmente urgente termos conversas honestas sobre outras maneiras de criar nossos filhos, na tentativa de preparar um mundo mais justo para mulheres e homens", escreveu Chimamanda na abertura do que depois se tornou um de seus livros. O texto é conciso e vale muito a leitura. Destaco parte de duas delas que achei especialmente importantes:
"Seja uma pessoa completa. A maternidade é uma dádiva maravilhosa, mas que não seja definida apenas pela maternidade. Seja uma pessoa completa. Vai ser bom para sua filha. Marlene Sanders, a pioneira jornalista americana, a primeira mulher a ser correspondente na Guerra do Vietnã (e ela mesma mãe de um menino), uma vez deu este conselho a uma jornalista mais jovem: 'Nunca se desculpe por trabalhar. Você gosta do que faz, e gostar do que faz é um grande presente que você dá à sua filha'", escreve ela. "Acho isso sábio e comovente. Nem precisa gostar do seu trabalho. Você pode apenas gostar do que seu emprego faz por você — a confiança e o sentimento de realização que acompanham o ato de fazer e de e de receber por isso", continua.
A outra sugestão que penso ser especialmente relevante é a última do livro de bolso: "Ensine-lhe sobre a diferença. Torne a diferença algo comum. Torne a diferença normal. Ensine-a a não atribuir valor à diferença. E isso não para ser justa ou boazinha, mas simplesmente para ser humana e prática. Porque a diferença é a realidade de nosso mundo. E, ao lhe ensinar sobre a diferença, você a prepara para sobreviver num mundo diversificado. Ela precisa saber e entender que as pessoas percorrem caminhos diferentes no mundo e que esses caminhos, desde que não prejudiquem as outras pessoas, são válidos e ela deve respeitá-los."
- Leia também: DF contra feminicídio: denúncia no enfrentamento à violência contra a mulher é essencial
"Ensine-lhe que não sabemos — não podemos saber tudo sobre a vida. A religião e a ciência têm espaços para as coisas que não sabemos, e isso basta para nos reconciliarmos com esse fato. Ensine-lhe a nunca universalizar seus critérios ou experiências pessoais. Ensine-lhe que seus critérios valem apenas para ela e não para as outras pessoas. Essa é a única forma necessária de humildade: a percepção de que a diferença é normal."
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