
Conhecido pela luta incansável em defesa de justiça social, morreu, na noite de quarta-feira (1/10), o advogado e militante sindical José Oscar Pelucio Pereira, aos 96 anos. Nascido em Baependi, sul de Minas Gerais, em 30 de agosto de 1929, Pelucio construiu uma trajetória marcada pela defesa dos trabalhadores, pela resistência política e pelo compromisso com a democracia.
Morando em Brasília desde 1960, ao lado da esposa, Eva Wairos, Pelucio fez da capital o centro de sua vida profissional, familiar e política. Juntos, criaram quatro filhos — Paulo, Denise, Marina e Cláudia — além dos netos, e partilharam décadas de convivência. Emocionada, Eva destacou o legado deixado pelo companheiro. "A dignidade e a transparência que sempre marcaram sua vida profissional, como advogado dos trabalhadores, e sua militância política coerente por uma sociedade mais justa, sempre mereceram minha admiração e respeito. Foi perseguido injustamente pela ditadura, sofreu torturas e prisão, mas enfrentou tudo com grandeza, sem jamais perder a ternura. Fica para nós o exemplo de um homem íntegro, que praticava o que acreditava, com sinceridade e convicção", afirmou.
Para os filhos, José Oscar foi não apenas uma figura pública de coragem, mas também o afeto presente no dia a dia. Paulo Guilherme, o primogênito, relembra o pai como referência de amor e firmeza. "Ele foi um pai amoroso e atencioso, um amigo de todas as horas e um verdadeiro herói pela vida de luta pelos seus ideais. Foi embora, mas deixou um legado que orgulha a família e, certamente, os muitos amigos que fez ao longo da caminhada", disse.
Entre familiares, a lembrança que fica é também da personalidade espirituosa e generosa. O sobrinho, Mauro Calichman, destacou o lado irreverente e solidário do tio. "Bom de prosa, bom de copo e um grande parceiro, sempre disposto a ajudar quem quer que fosse. Gostava de fechar o bar. Combateu firmemente a ditadura, foi torturado, perseguido e saiu mais forte e mais solidário. Era a reserva moral do país. Dizia sempre com orgulho: nunca advoguei para patrão, sempre privilegiei a classe trabalhadora. É um exemplo de vida", afirmou.
Ao longo de décadas, Zé Oscar tornou-se um dos mais importantes advogados trabalhistas do país. Atuou como representante de sindicatos e teve papel relevante nos governos de Juscelino Kubitschek e João Goulart, quando ocupou os cargos de procurador do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários (IAPC) e da Superintendência da Reforma Agrária.
O golpe de 1964 mudou radicalmente sua trajetória. Por seu posicionamento político e atividades sindicais, sofreu perseguições durante os 21 anos da ditadura militar. Seu escritório foi depredado, ele perdeu cargos e contratos, foi preso arbitrariamente e submetido à tortura. Carregou, desde então, sequelas físicas e emocionais que nunca o impediram de seguir militando em defesa da democracia.
O deputado distrital Chico Vigilante (PT) ressaltou o simbolismo da trajetória de Zé Oscar. "Em função de suas atividades sindicais e de seu posicionamento político, José Oscar foi perseguido durante 21 anos, processado, preso e barbaramente torturado", afirmou.
Democracia
Para a deputada Erika Kokay (PT), o advogado faz parte da construção e da resistência de uma Brasília viva. "Não há ninguém que esteja na luta pela democracia, pela justiça social e pelos direitos que não tenha aprendido com Zé Oscar, com seus ensinamentos, sua postura e sua sabedoria", lamentou.
Ele foi lembrado pelo advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, como um homem de resistência, inteligência e bom humor. "Ele foi uma das pessoas mais interessantes que já conheci. Resistiu à ditadura de forma digna, foi preso, torturado, mas nunca perdeu a leveza de contar histórias e de ouvir os outros", recorda. O advogado relembra o hábito de José Oscar de compartilhar casos, sempre com espírito acolhedor e solidário. "Ele fará falta em vida e continuará fazendo falta para a democracia, para os amigos e, sobretudo, para a família que tanto o amava", completou.
José Oscar seguiu sendo uma voz firme em defesa dos direitos sociais e foi homenageado pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, em 2022, além das diversas condecorações ao longo da vida, entre elas a Ordem do Mérito de Dom Bosco, a Ordem do Mérito de Brasília, a Ordem do Mérito do Trabalho Getúlio Vargas, a Medalha do Mérito Eleitoral e a Medalha de Honra Presidente Juscelino Kubitschek.
O velório será nesta sexta-feira (3/10), das 9h às 11h, na Capela 7 do Cemitério Campo da Esperança, da Asa Sul. Em seguida, ele será cremado.
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