PODCAST DO CORREIO

'A gente só preserva aquilo que conhece', destaca presidente do Iphan

O presidente do Iphan, Leandro Grass, falou sobre a nova plataforma Bem Brasileiro, que reúne informações sobre o patrimônio imaterial do país e incentiva a educação patrimonial nas escolas

O presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Leandro Grass, foi o convidado do Podcast do Correio de ontem. Em conversa com as jornalistas Mariana Niederauer e Sibele Negromonte, ele falou sobre o lançamento do Bem Brasileiro, uma plataforma digital que reúne informações sobre o patrimônio imaterial reconhecido no país.

"Desde o início da nossa gestão, há uma preocupação em popularizar, difundir e divulgar o conhecimento e as informações sobre o patrimônio cultural brasileiro", afirmou. "O Iphan vem apostando em novas bases e plataformas, principalmente voltadas à educação patrimonial. O Bem Brasileiro é mais um passo para reunir essas informações, nesse caso específico, do patrimônio imaterial brasileiro."

Grass destacou que catalogar e divulgar essas informações é fundamental para fortalecer a identidade cultural do país. "Eu costumo dizer que a gente só preserva aquilo que conhece. A gente só ama aquilo que a gente conhece", declarou. "Esses bens, como a capoeira, o forró, o maracatu, o frevo, o carimbó, os ofícios das baianas do acarajé, o modo de fazer o queijo minas artesanal e, mais recentemente, o choro, tudo isso tem uma história, tem uma memória."

Segundo ele, o reconhecimento de um bem imaterial vem acompanhado de um compromisso de preservação. "Não é um título, um status, um selo que aquilo ganha. Há um compromisso do Estado brasileiro de preservá-lo", reforçou. "Os critérios incluem a trajetória histórica, o enraizamento nas comunidades e a apropriação das tradições pelos grupos e pessoas. Assim, consolidamos as estratégias para preservar cada um deles."

De acordo com Grass, o processo de reconhecimento dos bens culturais começa na própria sociedade. "Quem define o que é patrimônio não é o Iphan. Os pedidos para reconhecimento partem da sociedade e são concluídos no Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que é formado por representantes da sociedade", contou. "Temos quatro tipologias de bens culturais e materiais: formas de expressão, saberes, lugares e celebrações. E o Bem Brasileiro reúne tudo isso."

Sobre os critérios de escolha, Grass destacou a importância de manter o rigor técnico e o respeito à tradição. "A gente não pode banalizar a ideia de patrimônio e deixar que qualquer coisa seja considerada importante. A pesquisa, que é a fase de identificação e reconhecimento, vai, justamente, investigar qual é a profundidade desse bem, a importância dele para a formação da sociedade brasileira, como está representado nos territórios e quem são os detentores desse bem."

A plataforma, disponível no endereço bembrasileiro.iphan.gov.br, permite ao usuário explorar os registros por estado, categoria ou data. "A plataforma é bem fácil, inteligível e didática. É possível, por exemplo, pesquisar por estado e ver o que há de patrimônio cultural brasileiro registrado", explicou. 

"Se for viajar, pode acessar e descobrir quando e onde acontecem as festas e tradições locais. É uma forma de se conectar e vivenciar o patrimônio", completou.

Leandro Grass reforçou, ainda, o papel da educação patrimonial que, segundo ele, foi retomada desde o início do governo Lula. "A educação patrimonial é muito estratégica", observou. "Fizemos a entrega de livros em Planaltina, resultado de uma proposta do Iphan chamada Inventários Participativos. Patrimônio não é só o que o Iphan reconhece, mas, também, o que a comunidade diz que é importante para ela."

Ele destacou experiências recentes em escolas do Distrito Federal. "Estamos aplicando os Inventários Participativos em parceria com a Secretaria de Educação, com os professores em primeiro lugar. Os estudantes estão dizendo o que é patrimônio para eles. Temos uma publicação feita em Ceilândia, com a caixa d'água, o parque, a feira e as histórias da cidade contadas nesse livro."

O presidente do Iphan convidou professores e estudantes a conhecerem o Bem Brasileiro. "Tem muita coisa legal, com vídeos e conteúdos que podem ser usados em sala de aula. Nosso principal objetivo é alcançar o povo, para que entendam melhor, sejam parceiros dessa preservação e passem a respeitar mais esses patrimônios."

 

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