O cheiro de queimada e as cinzas espalhadas pelo chão ainda dominam a esquina das quadras 704/705 Norte, onde restam os destroços da imensa gameleira, que há mais de 40 anos fazia parte da paisagem e da história da Asa Norte. Moradores suspeitam de incêndio criminoso, já que, segundo eles, algumas pessoas se incomodavam com a presença da árvore. O caso é investigado.
O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), por meio do Grupamento de Proteção Ambiental (GPRAM), voltou a atuar nessa segunda-feira (13/10) após o surgimento de novos focos de incêndio no tronco, realizando o resfriamento da área para evitar que o fogo se espalhasse. Segundo a corporação, cerca de 15 mil litros de água foram utilizados para conter os pontos quentes e, até o momento, a informação é de que a perícia do caso deve levar cerca de 30 dias para ficar pronta. O alerta é para que ninguém se aproxime do local até que o tronco esteja completamente resfriado.
O fogo começou por volta das 20h de domingo (12/10), e assustou comerciantes e pedestres da região, preocupados com o avanço das chamas. Uma cabine telefônica decorativa, no estilo inglês e instalada próxima à árvore, foi parcialmente danificada pelo calor.
Comoção
A comoção entre os moradores é grande. O gaúcho Gilney de Sousa, 56 anos, mora em Brasília desde a década de 1970 e lembra da época em que a região ainda era tomada por mato. "É uma dor muito grande no peito. Eu não sei por qual motivo fizeram. Dizem que foi um ser humano, mas de humano essa pessoa não tem nada", disse, emocionado. Ele teme que o mesmo aconteça com a "irmã gêmea" da gameleira, na 406 Norte.
Moradora da região há 20 anos, Zilda Souza, 55, acompanhou o incêndio com tristeza. Ela lembra que participou de um abraço coletivo na árvore, por volta de 2016, quando vizinhos se mobilizaram para impedir sua derrubada. "É como se tivessem tirado meu coração", lamentou. A pequena Isabele Souza, 7 anos, filha de Zilda, chorava ao ver o tronco queimando. "Já estou com saudade", disse.
A vizinha Aparecida Rodrigues, 41, mora há uma década na quadra e reforça o valor afetivo do local. "Muita gente vinha aqui descansar, conversar, brincar. Era parte da nossa rotina", conta.
A árvore da 704/705 Norte é de espécie fícus elástica, e é conhecida como "gameleira". Ela chama atenção pelo seu tamanho e exuberância. As raízes da gameleira costumam crescer em busca de água e nutrientes, e por vezes, destroem ruas e calçadas — por esse motivo, geram controvérsias.
Memória
Símbolo da região, a gameleira da 704/705 Norte foi plantada há mais de quatro décadas e, ao longo do tempo, passou por podas e polêmicas. Em 2013, chegou a ser ameaçada de derrubada, sob a justificativa de riscos à segurança de pedestres e moradores. A mobilização nas redes sociais, no entanto, fez a Novacap recuar da decisão. Desde então, a árvore seguia como ponto de referência e afeto coletivo na Asa Norte.
Em 2024, porém, a gameleira próxima à W3 Norte foi podada pela companhia, que, à época, informou que o risco da queda de galhos afetava a rotina de pedestres e motoristas que passavam pela área.
Procurada pelo Correio, a Novacap, até o fechamento desta reportagem, não se manifestou. O espaço segue aberto.
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