Novos vínculos

Lares de idosos no DF se organizam para fim de ano especial

Instituições de Longa Permanência contam com doações da comunidade, para promover ceias solidárias e campanhas de apadrinhamento que garantam os presentes

 Instituições de Longa Permanência oferecem ceias solidárias       -  (crédito: Bruna Gaston CB/DA Press)
Instituições de Longa Permanência oferecem ceias solidárias - (crédito: Bruna Gaston CB/DA Press)

Manuela Sá*

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Para quem acumula décadas de histórias, as lembranças são tecidas pelas pessoas que passaram e deixaram marcas. No fim do ano, essas memórias costumam aflorar e despertar o espírito de solidariedade. É quando famílias se reúnem, partilham refeições e trocam presentes. Nos lares de idosos, não é diferente. Apesar de as companhias mudarem com o tempo, os vínculos se reinventam e, em dezembro, as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) se mobilizam para promover ceias solidárias e campanhas de apadrinhamento para garantir momentos especiais aos moradores.

No Núcleo Bandeirante, o Lar dos Velhinhos Maria Madalena, fundado em 1980 e sem fins lucrativos, realiza anualmente campanhas de apadrinhamento e arrecadação de itens para a ceia. Cada morador escolhe três presentes, disponíveis para consulta no site da instituição. Os doadores entregam as contribuições no local, e a troca ocorre no dia 25 de dezembro, durante a ceia de Natal.  

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Entre os nomes da lista está a pernambucana Maria do Socorro dos Santos, 62 anos, conhecida como Marilu. Seus pedidos são uma sandália de velcro, um perfume floral e um batom marrom. Marilu lembra com afeto de quando aproveitava o fim de ano em Olinda. "No réveillon, passava a noite nas barracas com minhas amigas, requebrava até o chão. Hoje, não posso mais por causa do quadril", conta. Mesmo assim, está animada para o Natal e o ano-novo. "Qual pernambucana não gosta de uma festa?", brinca. 

Aposentada pelo Benefício de Prestação Continuada (BPC), ela trabalhou durante anos como diarista. Antes de se mudar para a instituição, vivia com a irmã mais velha até sofrer uma queda e machucar a lombar. "Para o ano que vem, desejo sarar do meu machucado e reconquistar minha independência", diz. 

A coordenadora de captação de recursos do lar, Lilian Carvalho, 32, explica que, dos 92 idosos que moram na instituição, no máximo, 10% passam o fim de ano com familiares. O lar é mantido por um convênio com a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), mas o repasse não cobre todos os gastos, tornando essencial a mobilização da comunidade. "É graças aos voluntários e doadores que conseguimos manter tudo de pé", afirma Lilian.

Cerca de 60 voluntários atuam ao longo do ano no Lar dos Velhinhos Maria Madalena. Uma delas é a assistente social Sergiane de Freitas Costa, 42. Para ela, fim de ano é uma época sensível por estar associada a encontros familiares: "É crucial a presença de pessoas mostrando aos idosos que eles não estão sozinhos. Isso evita sensação de abandono e pensamentos tristes, como a depressão. Nosso papel é fazer com que eles tenham a sensação de pertencimento".

Interação

O psicólogo Leonardo Tavares da Silva, 44, reforça a importância das relações em qualquer fase da vida. "O ser humano é social. Nos constituímos nas relações. O isolamento é prejudicial, gera queda de estímulos e compromete a saúde", fala. Para evitar a sensação de isolamento, em dezembro, o lar recebe visitas de grupos culturais, contação de histórias, feira natalina, apresentações com animais de estimação, idas ao shopping e visita à Caixa Cultural. 

Em Sobradinho, o Lar São José do Candango também realiza campanhas de apadrinhamento e arrecadação de alimentos para as ceias tanto de Natal quanto de ano-novo. No Instagram da instituição, é possível acessar as listas de pedidos. Com uma mesa forrada de toalha vermelha, enfeites temáticos e músicas natalinas, os 50 idosos se reúnem para celebrar. "Muitas datas especiais passam batido ao longo do ano. Tentamos dar a oportunidade para que os idosos consigam aproveitar o Natal e o ano-novo", conta a diretora Marcia Gibson, 49.

A mesma mobilização ocorre no Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes, também em Sobradinho, onde a lista de pedidos fica disponível presencialmente na instituição e por telefone. Por lá, a chegada do Natal enche de alegria moradores como Angelina Pereira Barbosa, 73. "Aqui, a ceia é feita como em casa de família: jantamos no dia 24 e, no dia seguinte, comemos o que sobrou. A organização e a atenção dos funcionários faz com que a data seja repleta de carinho e cuidado", diz. 

Angelina chegou a Brasília devido a uma coincidência. Há 27 anos, viu um anúncio de emprego para cuidar de uma adolescente que acabara de sair do hospital e descobriu que se tratava da filha de um de seus irmãos adotivos. Trabalhou com a família até que varizes graves, artrose no joelho e uma hérnia umbilical a impediram de continuar. Foi quando se mudou para o lar, onde encontrou carinho e afeto. "Eu dizia que preferia ir para um cemitério do que para um lar de idosos", lembra. Hoje, ela nutre laços com moradores e funcionários. "Eu digo para elas que são minhas filhas de coração, e os filhos delas, meus netos", conta.  

Para este Natal, ela pediu perfume, hidratante, acessórios de cabelo e bijuteria. No dia a dia, participa das oficinas de artesanato e da horta comunitária. O processo de fazer as peças de papel machê funciona como descanso mental. Também gosta de usar o celular para ver Instagram, Facebook e jogos da memória. Seu desejo também é conseguir um telefone novo.  

O colega de lar, Samuel Gonçalves Dias, 68, é menos falante. Ele solta uma risada ao falar que seu nome é igual ao do poeta maranhense. De olhar tranquilo, ele descreve o Natal da instituição como um momento especial. "A gente sente que pensaram na gente. Fica um clima bom", comenta. Seu pedido de Natal é um perfume e um hidratante. 

Morador há mais tempo do lar, Manoel Quirino, 80, vive na instituição há 14 anos. Para ele, as festas de fim de ano despertam lembranças familiares. "Lembro quando a família era maior. Meus pais, meus irmãos. Eu sempre ia para Tocantins passar as festas com eles", diz. De presente, ele pediu um relógio, um sapato tamanho 41 e calça tamanho 46. Aos cuidados de quem torna tudo possível, Marilu, Angelina, Dias, Quirino e tantos outros moradores de lares de idosos aguardam mais um fim de ano marcado pelo amor ao próximo.

Confira como ajudar:

Lar dos Velhinhos Maria Madalena
https://www.lardosvelhinhosmariamadalena.org/natal
@lardosvelhinhosmariamadalena
Smpw Trecho 3 Q 1 Conjunto A S/N - Núcleo Bandeirante, Brasília - DF, 71735-090

Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes
http://www.lardosvelhinhos.org.br/comoajudar.html
@lardosvelhinhos
Rua Quadra 14, Area Especial 1, Sobradinho - Sobradinho, Brasília - DF, 73050-000

Lar São José do Candango
https://casadocandango.org.br/index.php/lar-sao-jose
@larsaojosebsb
Qd 14 Ae 17/18 - Sobradinho, Brasília - DF, 73050-000

No site da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), você encontra a lista de todas as instituições conveniadas: https://www.sedes.df.gov.br/idosos

 

*Estagiária sob supervisão de Tharsila Prates

 

Como ajudar

Lar dos Velhinhos Maria Madalena
https://www.lardosvelhinhosmariamadalena.org/natal
@lardosvelhinhosmariamadalena
Smpw Trecho 3 Q 1 Conjunto A S/N - Núcleo Bandeirante, Brasília - DF, 71735-090

Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes
http://www.lardosvelhinhos.org.br/comoajudar.html
@lardosvelhinhos
Rua Quadra 14, Area Especial 1, Sobradinho - Sobradinho, Brasília - DF, 73050-000

Lar São José do Candango
https://casadocandango.org.br/index.php/lar-sao-jose
@larsaojosebsb
Qd 14 Ae 17/18 - Sobradinho, Brasília - DF, 73050-000

No site da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), você encontra a lista de todas as instituições conveniadas: https://www.sedes.df.gov.br/idosos

  •  Manoel Quirino tem 80 anos e vive no Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes há 14
    Manoel Quirino tem 80 anos e vive no Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes há 14 Foto: Fotos: Bruna Gaston CB/DA Press
  •  Angelina Barbosa, 73, diz que no lar a ceia é feita como em casa de família
    Angelina Barbosa, 73, diz que no lar a ceia é feita como em casa de família Foto: Bruna Gaston CB/DA Press
  • Samuel Gonçalves Dias, 68 anos, não é de conversar muito, mas ri ao falar que seu nome é igual ao do poeta maranhense
    Samuel Gonçalves Dias, 68 anos, não é de conversar muito, mas ri ao falar que seu nome é igual ao do poeta maranhense Foto: Bruna Gaston CB/DA Press
  • A pernambucana Marilu, 62, do Lar Maria Madalena, pediu uma sandália de velcro, um perfume floral e um batom marrom
    A pernambucana Marilu, 62, do Lar Maria Madalena, pediu uma sandália de velcro, um perfume floral e um batom marrom Foto: Manuela Sá
  •  Decoração de Natal no Lar de Velhinhos Bezerra de Menezes, em Sobradinho
    Decoração de Natal no Lar de Velhinhos Bezerra de Menezes, em Sobradinho Foto: Bruna Gaston CB/DA Press
  •  03/12/2025 Bruna Gaston CB/DA Press. Lar de Velhinhos Bezerra de Menezes, Sobradinho.
    03/12/2025 Bruna Gaston CB/DA Press. Lar de Velhinhos Bezerra de Menezes, Sobradinho. Foto: Bruna Gaston CB/DA Press
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postado em 09/12/2025 05:00
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