Uma máscara desenvolvida por pesquisadoras da Universidade de Brasília (UnB), com nanotecnologia à base de quitosana, uma substância extraída de cascas de crustáceos, venceu o Prêmio Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Sistema Único de Saúde (SUS). Criada durante a pandemia da covid-19, a tecnologia se destacou pela capacidade de neutralizar vírus e bactérias, ampliando a proteção dos profissionais de saúde e contribuindo para a segurança no ambiente hospitalar.
O reconhecimento foi na categoria de artigo científico publicado em revista indexada, a partir do estudo que descreve o desenvolvimento e a caracterização da máscara, batizada de “Vesta”. As pesquisadoras Marcella Lemos e Graziella Joanitti explicaram sobre o projeto em entrevista ao programa CB.Poder — parceria entre a TV Brasília e o Correio Braziliense — nesta segunda-feira (29/12).
Segundo Marcella Lemos, a iniciativa surgiu em um momento crítico, marcado pela escassez de equipamentos de proteção individual (EPIs). “Na ocasião da pandemia, havia uma necessidade urgente de EPIs, porque estava faltando. Fomos solicitados a desenvolver alguma tecnologia que pudesse contribuir com aquele contexto”, explicou. A partir dessa demanda, foi criado o Projeto Vida, grupo que deu origem à máscara. “Era um momento de valorização da vida, e foi ali que construímos a ideia da Vesta, uma máscara semifacial com nanotecnologia e uma camada intermediária com atividade virucida e bactericida”.
Além da filtragem, a tecnologia foi pensada para reduzir riscos durante a retirada do equipamento. “Existia um perigo grande no momento da desparamentação dos profissionais de saúde. Unimos a necessidade do momento, o desejo de contribuir e o nosso conhecimento para produzir algo realmente relevante para a sociedade”, destacou Marcella.
Graziella Joanitti ressaltou que o prêmio representa um reconhecimento importante do esforço coletivo e da agilidade da pesquisa. “Foi um processo muito especial. O produto começou a ser desenvolvido em 2020 e, em apenas dois anos, conseguimos, junto com uma empresa parceira, avançar no registro na Anvisa e iniciar a comercialização”, explicou. A pesquisadora destacou que o objetivo é ampliar o acesso ao equipamento no SUS. “Ela já pode ser adquirida comercialmente, mas a nossa intenção é expandir ainda mais o uso, principalmente entre os profissionais de saúde.”
De acordo com as pesquisadoras, o diferencial da máscara está na camada de quitosana, um composto bioativo natural, não tóxico e biocompatível. “Essa camada atrai e neutraliza os vírus, impedindo que eles se multipliquem”, explicou Marcella Lemos. Testes laboratoriais demonstraram que a proteção não se restringe à covid-19. “Ela também foi testada contra o H1N1, o vírus da gripe, e apresenta ação contra bactérias”, completou.
Graziella Joanitti explicou que o trabalho está alinhado com a proposta do Laboratório de Compostos Bioativos e Nanotecnologia (LCBNano), da UnB. “Nosso foco sempre foi valorizar a biodiversidade brasileira e estudar como esses compostos podem gerar produtos para a saúde, cosméticos e suplementação alimentar, especialmente a partir de espécies do Cerrado”, disse. Segundo ela, a nanotecnologia permite potencializar esses compostos. “Na escala nanométrica, os materiais ganham novas propriedades, aumentando a estabilidade e a eficiência”.
Assista o programa completo:
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
Saiba Mais
