ASTRONOMIA

Cometa 3I/Atlas é um novo tipo de objeto interestelar, afirmam cientistas

O cometa 3I/ATLAS, o terceiro visitante de outro sistema estelar, tem características nunca vistas antes que intrigam cientistas, segundo novo estudo apresentado nesta segunda-feira (8/9)

Um novo estudo sobre o 3I/Atlas, o terceiro visitante interestelar identificado pela astronomia moderna no Sistema Solar, aumenta ainda mais o enigma sobre o cometa. O paper, disponibilizado por 16 cientistas para revisão dos colegas nesta segunda-feira (8/9), indica que o corpo celeste carrega características nunca vistas antes que apontam para uma origem e composição únicas, desafiando o que se sabia sobre objetos vindos de outras estrelas.

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Entre 17 de julho e 28 de agosto, astrônomos usaram alguns dos instrumentos mais potentes do mundo, como o Very Large Telescope (VLT), no Chile, e telescópios na Espanha e na Hungria, para observar como a poeira do cometa reflete a luz solar. Esse tipo de análise, chamada polarimetria, funciona como uma lupa indireta sobre a composição da superfície e da atmosfera em torno do núcleo.

Os resultados surpreenderam: o 3I/Atlas mostrou um comportamento de luz sem precedentes e não se parece com nada com os cientistas já tenham estudado de perto. Ele apresenta um ramo de polarização negativa profundo e estreito, que atinge um valor mínimo de -2,7%, um padrão que não aparece em nenhum cometa ou asteroide do nosso sistema. Nem mesmo o 2I/Borisov, descoberto em 2019 e até agora o principal representante dessa classe de visitantes interestelares, apresentou algo parecido.

Divulgação/International Gemini Observatory - Telescópio Gemini Sul registra novas imagens do cometa 3I/ATLAS, o terceiro objeto interestelar observado no nosso Sistema Solar

A profundidade extrema desse ramo negativo sugere a presença de uma mistura exótica de materiais: gelo e poeira escura, com partículas grandes e altamente porosas. É como se a poeira que o envolve contasse a história de um corpo gelado, moldado em condições muito diferentes das encontradas em nosso Sistema Solar.

As medições também revelaram que o ângulo de inversão do 3I/Atlas, de 17°, é particularmente pequeno em comparação com a maioria dos cometas que conhecemos. No entanto, sua curva polarimétrica em ângulos de fase muito pequenos se assemelha às de objetos transnetunianos, como Huya, Ixion e Varuna, que vivem além da órbita de Netuno e preservam materiais primordiais.

Essa similaridade, combinada com outras evidências espectroscópicas, sugere que o 3I/Atlas é um objeto que, de alguma forma, compartilha características com esses distantes vizinhos gelados. Essa conexão inesperada levanta a possibilidade de que o cometa, embora vindo de um sistema estelar diferente, tenha se formado em um ambiente frio e rico em gelo, similar ao cinturão de Kuiper do nosso próprio Sistema Solar.

Para os cientistas, ainda há muito a descobrir. As observações feitas até agora se concentram em ângulos de fase limitados. O verdadeiro teste virá após o periélio, quando o cometa passar mais perto do Sol e novos dados puderem confirmar se sua poeira se comporta da mesma forma em outras condições. Até lá, o 3I/Atlas permanece como um enigma cósmico.

Mais Lidas