
Procurar o que dizer faz parte da inquietude artística. A curiosidade pelo novo, em busca do movimento que falta, é o que torna grandes artistas — de fato — grandes. Atiçando essa tentativa de se conectar com suas próprias extensões, o renomado rapper BK’ lançou, nesta terça-feira (28/1), o álbum Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer, que aplaude a riqueza da música brasileira em um retrato claro sobre pluralidade cultural e pontes construídas ao longo do caminho. O disco conta com 16 faixas e samples de canções dos icônicos Djavan e Milton Nascimento, além do grupo Fat Family. Em poucas horas, o projeto já ultrapassou mais de 1 milhão de plays no Spotify.
Imaginar um conceito e traçar uma linha em cima de tal ideia é um claro desafio. No início, esse foi o principal objetivo do artista carioca para o projeto. “Escolher momentos da vida, lembrar de muitos outros. E, a partir disso, construir o que quero falar e trazer, aliando esses elementos a estéticas e sonoridades”, ressaltou o rapper. Em entrevista ao Correio, BK’ afirmou que, logo após o show na Apoteose, no Rio de Janeiro, os pensamentos sobre o disco já vieram à tona.
Durante as sessões de estúdio, os caminhos até o resultado final foram se mostrando. Cerca de 70 beats foram produzidos até que o rapper chegasse ao lugar que queria. Entretanto, a sonoridade apresentada no disco não foi a idealizada de imediato. “Isso faz parte, às vezes o trabalho vai te dando direções e você precisa acompanhar. As pessoas que estavam comigo davam ideias, outros chegavam e agregavam com mais. Foi um processo bem corrido até chegarmos na hora de escrever”, comentou.
Os amigos, que ele tanto passou tempo dentro do estúdio, contribuíram bastante para que o DLRE se tornasse o que é. O duo de DJs Deekapz, Kolo, Paulo DK, Kizzy e Ruxn, Sango e Aidan Carroll, Theo Zagrae, JXNV$ e Nansy Silvvz são alguns dos nomes que assinam as produções das faixas, assim como FYE, principal aposta do selo de BK’, Gigantes, que também fez parte do álbum.
Raízes brasileiras
Ao lançar o quinto disco da carreira, naturalmente, no meio do caminho, muitos rumos se repetem, enquanto outros permanecem iguais. Entre um projeto e outro, a parte mais difícil é a hora do “papo”, como descreve o rapper. É o momento em que ele para pra escrever e pensar no que realmente quer colocar para fora. É neste instante de dualidade que lida com os próprios sentimentos e como serão externados para o público. “As pessoas me conhecem muito pelas minhas letras. A gente sempre tem muita coisa pra falar, mas, geralmente, essas coisas estão em um lugar nosso que não queremos mexer”, acrescentou.
O que tinha no coração e nos pensamentos, bom, foi o que levaram BK’ a esse lugar quase que divino no cenário do rap nacional. Amores, dores, alegrias e tristezas. Além, é claro, do seu rap característico e das prontas indagações que sempre teve costume de fazer sobre o mundo ao seu redor. Somado a esses componentes, as raízes brasileiras entram como o ingrediente principal dessa receita especial que somente ele é capaz de preparar. “Quem me apresentou a música do nosso país foi a minha mãe. Está neste lugar, também, da nostalgia. Sou brasileiro, vivo aqui, são canções que a gente cresce ouvindo”, revelou BK’.
Criar tendências, dar nome e melodias aos ídolos do Brasil é a forma que o artista encontrou de valorizar suas raízes e se conectar com o que havia de melhor dentro de si mesmo. “Engrandecer nossa música e nossos mestres. Tentar fazer algo que seja, realmente, interessante e exalte a cultura brasileira”, finalizou. Dessa forma, BK’ mistura rap, samba e o que de melhor existe a nível nacional. Pretinho da Serrinha e Evinha também estão presentes no disco no leque de homenagens.
O melhor da geração?
Entre as participações especiais, Borges, MC Maneirinho, Luedji Luna e Jenni Rocha são algumas das atrações que marcam a chegada do DRLE. No domingo (26/1), BK’ também lançou o curta-metragem homônimo ao álbum, filmando na Etiópia e desenvolvido em parceria com o estúdio criativo AKQA Coala.Lab. De acordo com ele, o projeto alcançou as expectativas esperadas e confessou estar ansioso para a recepção do público como nunca antes.
Feliz com tudo o que tem vivido, o rapper carioca, cada vez mais, se consolida como um dos maiores nomes do rap na sua geração. Na genialidade das letras e na certeza de que o legado tem sido construído, deixar algo que realmente valha a pena é o que continua fazendo com que ele permaneça em movimento, sendo um espelho para aqueles que estão vindo. “Não é só pela fama, é sobre inspirar pessoas e trocar vivências. Quem é o melhor? Froid, Djonga ou BK’, não importa. Entregamos coisas pra isso, estar nesse debate é especial. O que vale é a busca por um mundo melhor”.