Cinema

Animação 'Elio' e o terror 'Extermínio' chegam aos cinemas com desafios extremos

Em dois longas, com propostas muito diversas, a animação Elio e ainda o terror Extermínio: A evolução, jovens têm que se desdobrar para manter esperanças entre situações de desafio extremo

Extermínio: A evolução: o personagem de 12 anos, numa caçada quase humana  -  (crédito: Sony Pictures/Divulgação)
Extermínio: A evolução: o personagem de 12 anos, numa caçada quase humana - (crédito: Sony Pictures/Divulgação)

Ancorada na singularidade de um personagem, inseguro mas determinado, a animação Elio coloca em curso a excelência da Disney-Pixar. Foram três diretores para comandar o universo de exímia criatividade: Domee Shi (Red: Crescer é uma fera); Adrian Molina, codiretor de Viva: a vida é uma festa! (2017) e Madeline Sharafian, estreante na direção. Da fusão de tantos talentos brota Elio, que, mesmo cravejado de melancolia (a partir de uma tragédia em família), tem à mão a gana de dar a volta por cima.

Numa jornada em que, inicialmente, se vê a reboque da tia Olga, Elio — aficionado por pistas de alienígenas — terá que alcançar o Manual dos Usuários Universais, a fim de desenvolver qualidades complexas exigidas por um cotidiano, em nada, comum. É a partir de respostas para missão espacial da  sonda espacial Voyager (de 1977), em que ecoam respostas para a humanidade, que Elio engatinhará numa missão para salvar uma sociedade intergalática batizada de Comuniverso. Nisso, estarão em jogo sonhos e frustrações não apenas de Elio, mas ainda de sua tia (fervorosa astronauta empolgada pela oportunidade de integrar uma missão espacial). Um trio eclético de roteiristas costurou a trama: Julia Cho (de Red), Mark Hammer (de Apenas duas noites) e Mike Jones (do imenso sucesso Soul).

Numa circunstância muito inesperada, Elio passa a ser visto como um líder da Terra, numa mentira que ele sustenta para obter uma realização pessoal. Uma colorida viagem de autodescoberta levará Elio vai superar a sensação de solidão e ele passará a ser levado a sério, fator impossibilitado a muitas crianças. Com uma resolução gráfica muito simplória para o maligno Lorde Grigon, o filme, que traz algo de herança do clássico E.T. (1981), busca a impressão de uma delicadeza, tornando menos agressivo o visual.

Muita carga da solução para conflitos sofisticado deriva do fator fofurice, com situações, no filme, que repassam a sensação de aconchego, uma necessidade latente no protagonista. Num domínio de plano nada bélico, sustentado por sabedoria, e um colorido radiante, Elio, numa explosão visual permeada por um 3D que agrega, tem no enredo conceitos muito presentes de aceitação e novidades, tudo bem ao gosto dos jovens e dos pequenos. Tratando de erro, solidão e perdão, o longa-metragem extrapola, em muito, a jornada de exploração do espaço interestelar.

 

Universo de emoções

As vozes nacionais de Elio são interpretadas pela atriz Juliana Paiva, que estreia na dublagem como Olga Sólis, e pelos dubladores Zeca Rodrigues (Lorde Grigon), Marcio Marconato (Embaixador Helix), e Júlia Ribas (Embaixadora Questa). Eles conversaram com o Correio sobre a mensagem do filme e sobre o processo de dar a voz aos personagens do longa.

Como foi a experiência de dublar o filme? O que mais te chamou atenção na história?

Júlia — Foi muito delicioso, mas primeiro fiquei empolgada e sem ar, pensando: ‘Nossa, eu vou dublar a Pixar’. E o que mais chamou a atenção foi a mensagem: você pode ir atrás de uma família, de amigos, de um lugar para chamar de seu, mas se você precisar, pode sempre retornar para casa. Eu achei lindo, mostra que você não está sozinho, você pode até se sentir assim, mas se precisar de alguém, você vai encontrar, seja no outro lado do universo ou na sua própria casa.

Zeca — Dublar o vilão é sempre maravilhoso. O Grigon, fora dessa coisa gutural dele, de estar sempre muito nervoso e tenso,  é pai, e fica meio perdido com a criação do próprio filho. Então a gente assiste o filme desconhecendo o verdadeiro Grigon, até o final. Para mim, a mensagem é sobre se livrar dessa amarra que a gente precisa ter para sobreviver, para ser quem a gente é. O Grigon me trouxe isso.

Além da solidão, a história fala sobre a importância da amizade e principalmente sobre relações familiares, de diversos tipos e formatos. Qual impacto vocês acham que a trama vai ter nas crianças? O que vocês esperam que elas aprendam com o filme?

Juliana — O filme fala de identificação, de pertencimento e mostra diversas formações de família. A gente concluiu que estamos fazendo uma sessão de terapia em grupo, por ter feito esse projeto. E a mensagem da história não é só para crianças, mas para os pais também, para todo mundo sair refletindo e conversando. Uma cena que eu acho maravilhosa é quando várias partes do planeta se juntam para salvar o Elio e a Olga, que estão no meio dos asteroides. Você escuta pessoas de vários lugares do mundo, mostrando que se a gente junta as nossas forças, a gente consegue passar pelos desafios. E eu deixo a dica de assistir o filme em 3D, o universo está convidativo e acho que as crianças vão gostar muito disso, dos extraterrestres coloridos, cada um a sua forma, do seu jeito e todos se respeitando e criando uma comunidade onde a diversidade é abraçada.

Luta pela sobrevivência

Dos confins primitivos de um filme de terror habitado por legião de zumbis, surge um tratado humano sobre amor e morte. Surpreende ver como o britânico Danny Boyle consegue a artimanha, ao lado do roteirista Alex Garland, subverter cânone de um subgênero para um candidato a sucesso — o novo longa Extermínio: a evolução — que já tem continuação segura, para 2026, pelas mãos da cineasta Nia DaCosta (As Marvels). A dobradinha criativa vem do primeiro longa (Extermínio, feito em 2002). Houve, entretanto, uma continuação, em 2007, que descaracterizou os traços da saga conduzida por Boyle e Garland, parceiros ainda no exitoso Sunshine: alerta solar (2007).

É muito estranho compactuar com um filme de cenas violentas e asquerosas em que um menino de 12 anos seja encorajado a aniquilar seres (outrora, humanos). Quanto "mais matar", mais fácil tudo se tornará para Spike (Alfie Williams), que, segundo o pai dele (Jamie, papel de Aaron Taylor-Johnson), deve se lembrar de que os zumbis (que carregam o vírus da raiva) não têm mente ou alma.

Atirar no coração e na cabeça é o lema para a sobrevivência, e impedir a infecção generalizada de multiplicar ainda mais as vítimas. Medo e culpa habitam o cotidiano do jovem Spike que busca no brilho dos olhos de desconhecidos a possibilidade de não perpetuarem o chamado extermínio, condição que extrapola os limites da resguardada ilha em que mora, com a mãe adoecida, Isla (Jodie Comer, de Clube dos vândalos). Num mundo de ruínas, e com permanente tensão, cabe ao pai ensinar o filho a buscar recursos no continente. Não desviar o olhar, a cada aprendizado, vem com uma lição dolorosa. Extermínio: a evolução conjuga a sensibilidade do diretor de Quem quer ser um milionário? (2008) com a afiada redação do cineasta (e roteirista) de Aniquilação (2018), Guerra civil (2024) e Tempo de guerra (2025).

  •  Filme. Elio
    Filme. Elio Foto: Disney/Divulgação
  • Cena do filme Elio: missão espacial
    Cena do filme Elio: missão espacial Foto: Disney e Pixar
  • Marcio Marconato (Embaixador Helix), Juliana Paiva (Olga Sólis), Zeca Rodrigues (Lorde Grigon) e Júlia Ribas (Embaixadora Questa)
    Marcio Marconato (Embaixador Helix), Juliana Paiva (Olga Sólis), Zeca Rodrigues (Lorde Grigon) e Júlia Ribas (Embaixadora Questa) Foto: Divulgação/Disney/ISHIDA
postado em 19/06/2025 06:01
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