Música

'Até a última rima', de Jotapê, leva batalha de rima para álbum

Em entrevista exclusiva ao Correio, o cantor falou sobre a criação do álbum e o sucesso das batalhas de rima

Jotapê vai além das batalhas de rima -  (crédito: Divulgação)
Jotapê vai além das batalhas de rima - (crédito: Divulgação)

O mundo das Batalhas de Rimas está em uma crescente cada vez maior. Um mundo que, por muito tempo, foi marginalizado está a cada ano mais profissional, com o incentivo de organizações à cultura. O maior expoente das batalhas de rima hoje é o Jotape. O MC de Guarulhos surgiu nas batalhas e, recentemente, lançou um álbum com 14 faixas que misturam músicas de vivências, amor, ascensão entre outros temas. O álbum conta com mais de 9 milhões de reproduções. Ao Correio, Jotape contou um pouco sobre o projeto e a ascensão das batalhas de rima.

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular?

A produção com o Papatinho veio como premiação pelo título do interestadual da Batalha da Aldeia. Jota conta que não pensou de primeira em fazer o álbum: “Esse álbum só existe porque o Papato trouxe a ideia. Eu tinha várias músicas pensadas, mas foi ele quem falou: vamos criar algo do zero. No começo fiquei inseguro, mas ele me tirou da zona de conforto. Hoje digo que Até a última rima não é só meu, é nosso”. O processo, feito em um mês, uniu estúdio, criação conjunta e até convívio pessoal. “Enquanto a gente se conhecia de dia, trabalhava junto à noite. E tudo fluiu naturalmente.”

Conexões além da música

O resultado do trabalho é um disco que equilibra raízes e experimentações. Nas participações, Jotape fez questão de abrir espaço para amigos e talentos emergentes, como Gnão, seu amigo de infância, e Lezin, jovem artista em ascensão. “Eu não queria que meu álbum fosse só sobre grandes nomes. Quis trazer os meus, então chamei o meu melhor amigo de infância para trabalhar comigo (Gnão) e o Lezin, que é um cara que eu acredito muito no potencial, mas que estava em um momento difícil da vida. O Papato veio me falar dele e aí fluiu naturalmente. São dois meninos nos quais eu acreditei muito e que deram muito certo”, afirma.

Ao mesmo tempo, nomes de peso como Major RD se juntou ao projeto. “Eu já tinha uma convivência com o Major, em shows, e quando eu chamei ele pra fazer a música comigo ele deu a maior atenção, gravou a voz dele em dois dias e mostrou que ele realmente queria contribuir”, diz Jotape. Ele também contou com Lulu Santos. “A música com o Lulu Santos, já tava pronta, de qualquer jeito, ele já tinha liberado os direitos autorais, e um pouco antes de a gente lançar o disco, o Papato disse que ele queria entrar como feat. Eu fiquei muito feliz, admiro muito ele”, garante.

Jota também fez um feat com sua maior referência: Emicida. “Sempre achei que ia ter o Emicida em qualquer outro álbum, não no meu primeiro. Tive até medo de chamar, parecia algo impossível. Mas quando mandei mensagem, ele respondeu e a conexão foi imediata, a gente trocou algumas mensagens e o feat aconteceu. Para mim, essa música foi um sonho realizado.”

"Nunca vou me esquecer de onde eu vim"

Se a estreia discográfica aponta novos caminhos, ela não se desconecta de suas raízes, as batalhas de rima. O artista enxerga a atual profissionalização do movimento como um divisor de águas para toda uma geração. “É uma bênção. Hoje já tem MC vivendo só de batalha, sustentando família. Isso há sete anos seria impensável. O Nacional, que antes era o objetivo final, agora é só o começo. Estamos em outro patamar.”

Para ele, o paralelo é semelhante ao do futebol: enquanto gerações passadas rimavam em condições precárias, hoje os Mc’s têm acesso a técnicas, referências e até patrocínios de grandes marcas e organizações. “Não dá para comparar. Orochi, por exemplo, fez história no quintal de casa, com poucos recursos, com os Mc’s atuais. Hoje, a cena pede mais: métrica, flow, performance. Temos Mc’s mais técnicos, mas é natural também ter desafios de originalidade. É o preço da evolução.”

Mesmo imerso em sua carreira musical, Jotape afirma que jamais abandonará o lugar que o formou. “As batalhas são minha vida, minha essência. Eu nunca vou sair delas, nem que seja nos bastidores, apoiando, organizando, dando ideias. Não faz sentido negar de onde eu vim. Quero levar esse orgulho para os meus shows e para a cena como um todo.”

O lançamento de Até a última rima vem acompanhado de turnê no Brasil e até na Europa, e mostra a amplitude que o projeto já alcança em poucos meses. Mas Jotape não pretende parar: ele planeja novos singles para o fim do ano e trabalha em ideias para um segundo álbum. “Esse disco me despertou de uma forma que eu não esperava. Descobri que quero criar sempre, que tenho cabeça para projetos grandes. Não posso parar. Aos 22 anos, essa é a hora de fazer tudo”, reforça.

Mais do que um primeiro álbum, Até a última rima simboliza a maturidade de um artista e de uma geração. Em 15 dias, Jota embarca para uma turnê na Europa. Mais uma prova de que o freestyle das praças pode se transformar em discos, turnês e reconhecimento, sem perder a essência. Como define o próprio Jotape: “Se Deus me deu o dom do freestyle e da música, eu tenho que fazer tudo. E mostrar que é possível estar nos dois mundos ao mesmo tempo. Esse é o desafio que eu quero encarar.”

*Estagiário sob a supervisão de Nahima Maciel

  • Google Discover Icon
postado em 17/09/2025 18:23 / atualizado em 17/09/2025 18:29
x