
Às vezes, a resposta para algumas perguntas são encontradas do lado de dentro. É olhando para si mesmo que muitos artistas alcançam o 'eu artístico'. Ao mergulhar na própria introspecção, o rapper paulista Fleezus descobriu na busca por autoconhecimento a chave para se desprender de antigas travas mentais. A partir disso, nasceu o mais recente trabalho, o álbum 'Crônicas'.
O projeto, lançado neste mês, conta com 14 faixas, marcadas pela intenção de ser mais ele mesmo, sem perder a lírica que o levou aos holofotes do rap nacional. Mais do que isso, queria sentir que estava pronto para ser o artista que sempre desejou. Com isso, abordou temas que, até então, não tinha tanta coragem de falar nas músicas. Dessa forma, o intuito do disco resultou em uma obra orgânica e recheada de sentimentos.
O trabalho, que ele considera uma extensão do projeto anterior, 'Off Mode', demonstra uma nova coerência sonora. "Consegui manter ali uma linha tanto de beat quanto de métrica," afirma Fleezus, destacando a importância de voltar para a base e falar um pouco mais dele mesmo e ser um artista sem amarras, ego ou vaidade. "Acredito que o álbum é mais sobre isso, é uma autoanálise. É aquele olhar-se no espelho, sabe? Você se olha no espelho e ali se enxerga verdadeiramente como você é", acrescenta.
Diante de boas perspectivas sobre o futuro, Fleezus vive um momento especial, não somente na arte, mas consigo mesmo. Para os fãs, o rapper anunciou o show de lançamento, na Casa Natura (SP), no dia 13 de novembro, com as participações do álbum e apresentado na mesma ordem das faixas do disco.
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Encontros e desafios
O artista refletiu sobre a dificuldade de transformar vivências pessoais em arte. Ele citou um conselho da cantora Marina Senna, que ouviu em um evento da Spotify, como inspiração central. "Para você ser um artista, você precisa bancar as próprias ideias e bater de frente com elas ao ponto de sustentá-las."
Segundo Fleezus, o maior desafio é justamente ter esse "passo de coragem". O rapper reconheceu que muitos artistas, incluindo ele mesmo, em outros momentos, ficam na superfície por "não se sentirem prontos" ou por receio da reação do público.
"O maior desafio é ter o ato de coragem. Acredito que para fazer um projeto como este, precisei ter coragem de bancar as minhas ideias", destaca. Sobre as referências musicais do álbum, Fleezus revelou uma imersão na Música Popular Brasileira (MPB), que, segundo ele, influencia o processo criativo por ser "tão rica". Ele também citou o trabalho do artista Nux, que mescla drill com um toque de jazz.
O álbum conta com participações de peso, como Febem e o ícone Criolo. A presença de Criolo, um artista que Fleezus escuta desde a época da escola, foi uma grata surpresa e totalmente orgânica. "Eu o convidei para ele escutar o projeto, para entender como é que estava ficando, e quando a gente foi ver, ele estava em três faixas do disco. Bagulho absurdo."
Evolução do rap nacional: novos espaços ocupados
Um dos pioneiros do grime brasileiro, Fleezus, hoje, aceita com responsabilidade e humildade o fato de ser um dos nomes mais relevantes dessa vertente do rap em nível nacional. "Fui só uma das pessoas que ajudou para que o grime se tornasse uma realidade no Brasil e que as pessoas consumissem," disse, acrescentando que o gênero cativou o público por ter muita energia e trazer o calor que a audiência gosta.
Falando sobre a cena do rap em geral, o artista vê com otimismo o fato de o gênero estar entrando e habitando lugares em que não era bem-vindo, como desfiles de moda e grandes eventos, e furando a bolha para atingir um público mais velho. Nomes como BK e FBC, para ele, são um dos grandes responsáveis por levar esse destaque tão importante ao cenário brasileiro.

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