
O diretor Marco dos Anjos teve a ideia de um espetáculo inteiramente integrado a recursos assistivos quando dirigiu um espaço teatral dedicado à infância e juventude no Rio de Janeiro. Ali, se deu conta de que não bastava colocar intérprete de Libras, legenda ou audiodescrição para que as crianças acompanhassem os espetáculos em uma experiência de imersão. Era preciso pensar em um meio de permitir às crianças que não enxergam ou não ouvem fruírem inteiramente a peça sem que precisassem concentrar a atenção em um ou outro recurso.
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Assim nasceu Da janela, em cartaz neste sábado (5/7) e no domingo (6/7) no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). “A proposta veio com a ideia de como fazer que essa experiência teatral se desse ao mesmo tempo para crianças ouvintes, videntes, surdas, de baixa visão ou cegas”, explica o diretor. “O desafio era inserir os recursos como experiência de criação para que a criança tivesse uma experiência teatral, poética, viva.”
Da janela conta a história de Malu, Cadu e Nina, habitantes de uma vila que se comunicam por uma janela. Nina é surda, mas isso está longe de impedir a comunicação entre eles. “O espetáculo conta a história da amizade de três crianças que surge a partir das suas diferenças, elas conseguem se comunicar a partir disso. São indiferentes às barreiras de comunicação”, conta Anjos.
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A dramaturgia foi pensada para integrar os recursos de acessibilidade. O diretor convidou a atriz Mariana Siciliano, que é surda e faz parte do elenco, para ajudar na criação de um espaço cênico totalmente inclusivo e integrado. “É um lugar novo e delicado”, admite Anjos. “Primeiro, ensaiamos sem o elemento do som, porque no teatro, a gente usa o som como o início de muitos processos. E identificamos que tudo era muito visual para pessoas surdas.”
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Uma intérprete de Libras foi convidada com a missão de contar a história a partir da ótica de uma das personagens, a dona Jerusa, que implica com as crianças, mas adora todas elas. A ideia era que a intérprete não traduzisse os diálogos, mas contasse a história. “Um dos diferenciais é que a gente comunica em Libras, a gente não traduz libras”, avisa o diretor. “E os personagens se comunicam com o corpo, com Libras e em português”. Vanessa Bruno, consultora em acessibilidade que é cega, também foi convidada a participar do projeto. “Ela provocou que o espetáculo poderia estar comunicando com as palavras. E, desde a primeira entrada, a peça tem descrição poética, enquanto o elenco vai narrando o que está acontecendo enquanto está acontecendo”, explica o diretor.
Serviço
Da Janela
Amanhã, às 11h e às 16h, e domingo, às 11h, no Teatro do Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (SCES Trecho 02 Lote 22). Em cartaz até 13 de julho. Ingresso: R$ 30 e R$ 15 (meia). Classificação indicativa livre
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