
Apesar de se tratar de uma cidade jovem, Brasília, de 65 anos, vem escrevendo a própria história antes mesmo da inauguração da capital federal. Restaurantes que surgiram concomitantemente com a cidade, e continuam em funcionamento até hoje, fizeram e fazem parte ativamente da construção de uma identidade brasiliense.
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Esse é o caso do Roma, que está de portas abertas desde 1964. "É muito gratificante perceber que, em uma única mesa, podemos encontrar três, às vezes até quatro gerações reunidas. Muitos clientes mais antigos frequentavam o restaurante na juventude e, ao longo dos anos, transmitiram essa tradição aos filhos e netos", destaca Angela Pitel, proprietária do restaurante.
Prestes a celebrar 60 anos, o Beirute divide história com a capital federal. "Nosso legado é mostrar que Brasília é uma cidade acolhedora, vibrante e mesmo muito jovem tem histórias memoráveis vivenciadas nas nossas tradicionais mesas de madeira", afirma Francisco Emílio, filho do conhecido Chiquinho.
Até os restaurantes que chegaram à cidade mais recentemente, como o Dom Francisco, são responsáveis por memórias afetivas do público brasiliense. "Ver diferentes gerações voltarem à nossa mesa é a maior prova do nosso propósito. Crescemos junto com as famílias da cidade, fazendo parte de suas conquistas, tradições e celebrações. Nosso legado é esse: ser um lugar de memória e afeto, onde Brasília se encontra para viver bons momentos — ontem, hoje e sempre", garante Giuliana Ansiliero, filha do chef Francisco.
"O Roma nasceu de um sonho"
"Assim como Brasília, o Roma nasceu de um sonho", define Angela Pitel sobre o restaurante que herdou do pai, Simon Pitel. O belga adquiriu o espaço da 511 Sul antes mesmo da inauguração da cidade, em 1964: "Ele era um imigrante que chegou à capital em formação e enxergou ali a oportunidade de construir suas raízes e prosperar. Assim como tantas famílias de imigrantes, trouxe consigo a esperança de um recomeço e a confiança de que seu trabalho renderia frutos".
Para Angela, o apoio e a dedicação de toda a família foram fundamentais para que o projeto prosperasse. "Com o passar dos anos, as gerações seguintes também se encantaram pelo que foi construído, nutrindo um profundo respeito e orgulho por essa trajetória. Esse sentimento fez com que mantivéssemos vivo o compromisso de continuar essa história de tradição, crescendo e evoluindo junto com a cidade", afirma a proprietária.
Há décadas, o carro-chefe da casa se mantém o mesmo: filé à parmegiana, preparado com filé mignon à milanesa, uma generosa camada de queijo derretido e o tradicional molho de tomate caseiro do restaurante. Atualmente, o Roma trabalha com o serviço de rodízio do prato, por R$ 94,50.
Além da carne, os acompanhamentos arroz, batatas fritas, purê de batatas, espaguete, talharim e nhoque são servidos à vontade. Para harmonizar com o prato, Angela sugere o vinho tinto da casa (R$ 22,90 — taça).
"Acredito que, assim como Brasília, que é uma cidade que acolhe tão bem todos que passam por aqui, o Roma também oferece esse sentimento de acolhimento e aconchego, tão desejado por quem busca não apenas uma boa refeição, mas também procura colecionar boas histórias para compartilhar", finaliza a proprietária.
História afetiva da cidade
A história de um dos bares mais tradicionais da cidade também se confunde com a criação de Brasília. Prestes a completar 60 anos de portas abertas, o Beirute surgiu em 1966, logo após a chegada dos árabes Youssef Sarkis Maaraouri e Youssef Sarkis Kaawai à capital. A loja na esquina da 109 Sul foi adquirida pela dupla e, cerca de quatro anos depois, foi comprada pelos irmãos Bartô, falecido em 2001, e Chico, então garçons da casa.
Hoje, aos 88 anos, Chiquinho, como foi carinhosamente apelidado, conta com a ajuda dos filhos Francisco Emílio e Marcelo Marinho para tocar o restaurante, agora com unidade também na 107 Norte. “O Beirute é fruto do encontro de culturas e gerações. Somos uma família nordestina que aprendeu com o trabalho a amar a culinária árabe e deu um toque brasileiro no tempero”, afirma Francisco.
“Crescemos junto com Brasília e o restaurante se tornou parte da nossa história familiar e da história afetiva da cidade”, acrescenta. “Receber diferentes gerações é emocionante — é como fazer parte das famílias da capital. O restaurante se tornou um lugar de memórias, encontros e celebrações”, diz.
Em entrevista dada ao Correio no ano passado, Chiquinho lembrou as presenças ilustres que já frequentaram o Beirute: “Muitos músicos vieram aqui. Entre eles, Renato Russo. Ele sentava na mesa 58 e lá tomava uma água, um suco, sempre compondo músicas. Naquela época, ele não era titular da música, mas quando surgiu, ficou conhecido”.
O carro-chefe da casa é o filé à parmegiana (R$ 184,60 — duas pessoas), guarnecido por arroz e fritas ou purê. “Ninguém passa pelo Beirute sem também provar um quibe, uma esfirra ou nossas pastinhas árabes”, destaca Francisco. Para acompanhar, a sugestão do proprietário é o tradicional chope Brahma, que, no happy hour, sai a R$ 6,99.
Memórias transformadas em sabores
Transformar memórias, viagens e descobertas pelo Brasil em pratos cheios de afeto — esse era o objetivo do chef Francisco Ansiliero quando abriu as portas do restaurante Dom Francisco há mais de 37 anos. “Crescemos com a cidade e com a nossa família, preservando os clássicos que marcaram gerações e explorando novos sabores do Cerrado e da Amazônia. Hoje, seguimos honrando esse legado — levando tradição e Brasil à mesa, todos os dias”, garante Giuliana Ansiliero, filha de Francisco.
Desde a inauguração da casa, três pratos acompanham a história do restaurante e conquistam gerações, segundo a também proprietária: bacalhau em lascas à portuguesa, picanha com farofa de ovos e costela de tambaqui na brasa. Entre eles, no entanto, o peixe sempre foi um símbolo da tradição familiar, aponta Giuliana.
“Preparado em lascas, como manda a receita clássica, nosso bacalhau ($ 199) é servido em porção generosa para duas pessoas — perfeito para compartilhar, como gostamos de celebrar a mesa por aqui. E nada combina melhor com esse prato do que um bom vinho verde, fresco e leve”, afirma. A sugestão da proprietária é a Torre de Menagem Escolha, Quintas de Melgaço (R$ 198).
Em maio, foi concedido em sessão no Plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) o título de cidadão honorário ao chef de cozinha Francisco Ansiliero. Na ocasião, o catarinense descreveu a honraria como algo “realmente saboroso, delicioso, concordando com meus sentimentos sobre a cidade”. “O restaurante acabou crescendo com Brasília, e eu junto”, complementou.
Encontro de gerações
Aberto desde a década de 1970, o Palhoça também é um clássico da gastronomia brasiliense. Um dos primeiros restaurantes de carne de sol da cidade, a casa, que começou como um quiosque, foi fundada em 1978 pelo casal Maria de Lurdes e Nilo Salvino Leite e pouco a pouco conquistou o coração dos moradores da capital ao trazer para o centro do país um pouco da cultura nordestina.
Reunindo diferentes gerações de famílias — clientes que frequentavam a casa há 40 anos, hoje almoçam no estabelecimento aos fins de semana com os filhos e netos —, o restaurante se mantém simples, priorizando servir ao público boa comida a um preço acessível. O carro-chefe do Palhoça é a própria carne de sol, servida com arroz, feijão, mandioca, paçoca e queijo de manteiga ou coalho.
O menu, porém, vai além e oferece outros pratos típicos nordestinos, como a buchada de cabrito e a galinha cabidela, dourada no molho ou frita.

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