Reforma administrativa

Pedro Paulo critica teletrabalho no exterior

Relator do grupo de trabalho que traz mudanças na administração pública afirma que home office não pode ser privilégio

Relatada da proposta na Câmara, o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) diz que, sem regras claras, a reforma abre brechas para judicialização -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
Relatada da proposta na Câmara, o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) diz que, sem regras claras, a reforma abre brechas para judicialização - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

O teletrabalho no serviço público entrou no centro da disputa em torno da Reforma Administrativa para o relator Pedro Paulo (PSD-RJ), que defende a imposição de limites rígidos para conter distorções em órgãos públicos que, segundo ele, contam com até 80% do funcionamento em home office com pessoas trabalhando do exterior e de outros estados.

"É preciso disciplinar teletrabalho. Ele veio para melhorar a produtividade, não para virar privilégio de uma pequena elite do serviço público", afirmou ele ao Correio. "O mundo está discutindo restrições, abusos que foram cometidos, modelos de acompanhamento. O caso recente do Itaú mostrou, com dados, que o teletrabalho, em sua maioria, estava gerando baixa produtividade. No setor público, onde as métricas são mais frágeis, isso é ainda mais preocupante", reforçou.

Atualmente, 84,2 mil servidores federais atuam em home office — 40,8% em regime integral, 58,8% de forma híbrida e 0,3% até mesmo fora do país, segundo dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI). O modelo, que ganhou força na pandemia, é apontado por técnicos como ferramenta de eficiência, mas vem sendo alvo de críticas por falta de padronização, risco de abusos e impacto desigual entre carreiras.

De acordo com o texto em elaboração, cada órgão poderá manter, no máximo, 20% de seu quadro em regime remoto, restrito a um dia por semana por servidor. Exceções dependeriam de justificativa específica, como no caso de mães em situação atípica. O modelo, segundo Pedro Paulo, tem como referência regras aplicadas no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Uma vez por semana, não pode ser segunda ou sexta, e no máximo 20% da força de trabalho. É absolutamente razoável, porque diferente disso é moleza", disse.

Temor

Entre os servidores, o clima é de apreensão. Um técnico de nível superior de um órgão de Brasília, que pediu para não ser identificado, afirma que a padronização ignora realidades distintas. "Colocar um limite fixo de 20% sem olhar para as características de cada órgão é forçar um retorno desnecessário. No meu setor, por exemplo, todo o trabalho é digitalizado e os resultados são mensuráveis. Voltar ao presencial só aumentaria custos com manutenção e deslocamento, sem ganho real de produtividade", disse ao Correio.

O tema também levanta debates na esfera legal. Para a advogada Viviane Queiroz, especialista em Direito Público, a fixação de cotas rígidas pode esbarrar em questionamentos constitucionais. "A uniformização conflita com a autonomia organizacional e exige critérios objetivos de avaliação de desempenho, regras de exceção e mecanismos de fiscalização transparentes", avalia.

Ela destaca ainda a necessidade de regulamentar pontos práticos, como segurança da informação, responsabilidades por equipamentos, reembolso de despesas e critérios para concessão de exceções. "Sem normas claras, a reforma pode abrir espaço para arbitrariedades e judicialização", completou.

O Grupo de Trabalho que elaborou a reforma estruturou quatro eixos: Estratégia, governança e gestão; Transformação digital; Profissionalização; e Extinção de privilégios. A expectativa do relator é apresentar o texto nas próximas semanas, após concluir um "roadshow" com as bancadas.

 

 

 


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Por Wal Lima
postado em 07/10/2025 03:53
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