São Paulo* — O uso de tecnologias digitais para antecipar desastres ambientais, otimizar o planejamento urbano e apoiar políticas de sustentabilidade foi destaque na palestra promovida pelo Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) na quarta-feira (1º/10), durante o Arena Future Talks, na Futurecom 2025. Pesquisadores mostraram como os chamados gêmeos digitais e as torres de monitoramento ambiental já estão sendo aplicados em cidades e biomas estratégicos.
A professora Cristiane Pimentel, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), explicou que os gêmeos digitais — réplicas virtuais de sistemas ou ambientes reais — permitem testar cenários, prever riscos e reduzir custos. “Quando integramos sensorização e Inteligência Artificial, conseguimos analisar grandes volumes de dados com mais precisão e tomar decisões mais assertivas”, disse.
Cristiane citou exemplos em andamento no Brasil, como o uso de gêmeos digitais em barragens de Minas Gerais, após os desastres ambientais, e em cidades como Porto Alegre, São Paulo, Curitiba e Fortaleza. Os projetos variam entre simulações para prever enchentes, gestão de drenagem fluvial e mobilidade urbana.
Segundo ela, o potencial vai além da escala local. “Já existem iniciativas globais, como o gêmeo digital do planeta Terra, desenvolvido com apoio da Nasa, que simulam cenários climáticos e energéticos para orientar políticas públicas.”
Na sequência, o professor Renato Borges, da Universidade de Brasília (UnB), apresentou pesquisas voltadas ao monitoramento ambiental em biomas-chave, como Amazônia e Cerrado. As chamadas torres de fluxo, que ultrapassam a copa das árvores e reúnem sensores em diferentes níveis, medem com precisão variáveis como emissão e fixação de carbono.
Esses dados, combinados com imagens de satélite e técnicas de big data, são fundamentais para validar práticas sustentáveis. “As torres funcionam como tentáculos dentro dos biomas. Elas nos permitem comparar como ecossistemas preservados processam naturalmente o carbono e, a partir daí, avaliar os impactos das ações humanas”, explicou Borges.
O pesquisador lembrou que o Programa LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), já mantém torres em operação há 30 anos, com uma das maiores séries históricas de dados de florestas tropicais do mundo. Essas informações, segundo ele, vêm subsidiando pesquisas internacionais e políticas públicas no Brasil.
Para os especialistas, a combinação entre gêmeos digitais e monitoramento ambiental inaugura uma nova etapa no enfrentamento das mudanças climáticas. “A validação da informação é o que garante o sucesso. É isso que transforma o modelo em algo confiável, capaz de apoiar cidades inteligentes e estratégias globais de sustentabilidade”, concluiu Cristiane Pimentel.
*A repórter viajou a convite do IEEE
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
