
Reforma das instituições e recomposição do equilíbrio entre os Poderes são urgências para que o Brasil volte a crescer, avaliou o pesquisador associado do Insper Marcos Mendes, durante participação no debate Desafios 2026: democracia, desenvolvimento e justiça social no Brasil contemporâneo, realizado nesta quarta-feira (10/12) pelo Correio Braziliense.
“O conflito entre os Três Poderes está se agravando. Precisamos restabelecer o equilíbrio e a capacidade de negociação entre Executivo, Legislativo e Judiciário”, afirmou. O evento reúne especialistas, autoridades, lideranças empresariais e representantes da sociedade civil para discutir caminhos que permitam ao país construir uma trajetória mais sólida, inclusiva e sustentável.
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Mendes apresentou uma análise histórica do modelo de desenvolvimento brasileiro e de como a desigualdade, o peso das elites, a expansão dos subsídios e o desequilíbrio entre os Poderes contribuíram para o que considera um sistema esgotado. “O Brasil sempre foi um país muito desigual, e essa desigualdade jogou um papel importante na nossa transição”, afirmou.
Com a volta da democracia, disse o pesquisador, a população passou a demandar políticas de redução da pobreza e assistência social. “A gente deu voz à grande massa da população, que passou a reivindicar políticas de melhoria, de assistência social e transferência de renda.”
No entanto, segundo ele, a transição preservou privilégios. “Nós não rompemos com a grande influência que o topo da distribuição de renda tinha na definição de políticas públicas”, destacou, citando a manutenção de subsídios e benefícios direcionados a grupos de maior poder político e econômico.
Expansão de gastos
Para Mendes, a Constituição de 1988 consolidou um modelo de forte expansão de gastos e subsídios. “Criamos um Estado que distribui para todo mundo. Se o empresário pede, ele ganha; se outro grupo pede, também ganha”, destacou. O resultado, segundo ele, foi o avanço acelerado da despesa pública e da carga tributária. “A carga tributária cresceu muito e isso cria dificuldades para o crescimento econômico”.
O pesquisador aponta 2014 como o marco do esgotamento do modelo, quando o aumento contínuo dos gastos e a estagnação econômica passaram a impedir avanços. “Desde então, não saímos desse modelo. Ele se esgotou”, destacou.
Mendes também descreveu um processo crescente de desequilíbrio institucional. “O Congresso passou a invadir competências do Executivo, capturando boa parte do orçamento para emendas parlamentares”, disse. Ao mesmo tempo, “houve um enfraquecimento do poder do presidente, com restrições às medidas provisórias e aumento da derrubada de vetos”.
Segundo ele, o Poder Judiciário também ampliou sua influência. “O Supremo passou a invadir competências do Congresso, legislando sobre políticas públicas”, afirmou, citando casos de decisões recentes em temas como salário-maternidade e Benefício de Prestação Continuada (BPC).
“Autorização para a corrupção”
O pesquisador classificou como ponto de virada o desmonte das condenações da Operação Lava-Jato. “Criou-se uma autorização para a corrupção, com corruptos confessos sendo libertados e tendo penas anuladas”, criticou. Ele também citou “o uso político de abertura de processos e de sigilos, o que descredencia e desmoraliza a imagem pública do Supremo”.
No Congresso, disse ele, a corrupção associada às emendas parlamentares vem aumentando. Já no Executivo, o avanço de políticas de forte apelo populista e alto custo preocupa. “Vemos uma expansão de políticas não sustentáveis, de alto custo para a sociedade no médio prazo.”
O resultado, segundo Mendes, é um país com baixa coesão social e alta polarização. “O tecido social se esgarçou. O Brasil virou um ambiente em que vence quem tem mais força, quem faz mais lobby, quem consegue extrair mais recursos da sociedade”, afirmou.
Ele também criticou a perda de capacidade do país de transformar seus ativos naturais em crescimento econômico. “Somos incapazes de montar um modelo capaz de fazer com que esses ativos gerem renda e sustentem um novo modelo de desenvolvimento.”
Mendes ressaltou que o Brasil precisa voltar a discutir produtividade. “A produtividade no Brasil é negativa e decrescente há duas décadas, por causa de políticas que desestimulam a importação de tecnologia e o comércio”, destacou.
O pesquisador defendeu ainda que ciência, tecnologia e inovação sejam recolocadas no centro da estratégia nacional. “Ciência e tecnologia existem para produzir mais com menos insumos e menos trabalho. É isso que aumenta a produtividade.”

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