
New Jersey (EUA) — Eram 8h19 de terça-feira (24/6). Enquanto escrevo, um ícone com sol e termômetro lado a lado surge na tela em um triângulo vermelho. A advertência na barra de ferramentas do notebook e no smartphone: alerta de calor extremo. A notificação é do governo dos Estados Unidos e se repete quantas vezes forem necessárias. Fazia 39°C naquele momento. A Copa do Mundo de Clubes da Fifa pega fogo e não estamos nos referindo à contagem regressiva para o início das oitavas de final.
O começo do verão no país-sede do novo torneio da Fifa castiga times e torcedores. O cenário na porta das arenas lembra muito mais entradas de parque de diversão na Disney, em Orlando, do que o acesso a um estádio de futebol. O uso de roupas leves é quase uma obrigação. Short, bermuda, camiseta, tênis ou chinelo e boné compõem o look. Ventiladores portáteis com pequenos jatos de água, também, além da garrafinha a tiracolo. Um gole atrás nos jogos diurnos e noturnos.
Os mais dolarizados pagam estacionamento, abrem o bagageiro e transformam a espera pela partida em esquenta com churrasco e bebidas. Algumas famílias levam piscinas portáteis para acalmar crianças antes de guardar a bagagem e passar pela catraca.
O Correio catalogou a temperatura nas 11 cidades anfitriãs dos jogos da Copa do Mundo de Clubes. A mínima bateu, em Seattle, no extremo oeste dos Estados Unidos, com 13°C. A máxima, em Philadelphia, com 37°C. "Na prática, a sensação é maior. Moro aqui há 13 anos. O governo dos EUA emite alertas porque, tal como o frio extremo, o calor mata", testemunha o mineiro Ricardo Stenio, morador do estado de Connecticut. No último sábado, ele foi ao MetLife Stadium torcer pelo Fluminense contra o Ulsan, da Coreia do Sul.
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Os termômetros apontam mais de 30°C em oito cidades. O clima está temporariamente ameno em Pasadena, na Califórnia; em Miami, na Flórida; e em Seattle, no estado de Washington. A temperatura média no torneio nos últimos dias ficou na casa dos 32°C. Adversário do Flamengo nas oitavas, o Bayern de Munique perdeu por 1 x 0 para o Benfica na última rodada da fase de grupos sob calor de 36°C, em Charlotte.
Os jogadores inscritos na Copa do Mundo de Clubes da Fifa são cobaias para a Copa de 2026. O calor extremo antecipa o debate climático para o torneio de seleções, de 11 de junho a 19 de julho. O clima é uma das pautas de reclamações na fase de grupos.
"Impossível. Está um calor infernal. Meus dedos doíam, até as unhas doíam, eu não conseguia parar nem começar. É inacreditável, mas como é igual para todos, não tem desculpa", desabafou Marcos Llorente, do Atlético de Madrid, após a partida contra o PSG.
Derrotado de virada pelo Flamengo na segunda rodada do Grupo D, o técnico italiano Enzo Maresca empurrou o resultado para o clima na sala de conferências do Lincoln Financial Field, na Philadelphia. "Eu sempre tento evitar desculpas, sempre tento ser honesto. Não se trata de desculpas, mas sim da realidade. É uma desculpa quando não está quente, e dizemos que está quente. Isso é uma desculpa. Mas se está quente, está quente. Mas estamos aqui tentando fazer o nosso melhor", afirmou.
Inovação
O Borussia Dortmund usou as redes sociais para manifestar o descontentamento na vitória contra o Mamelodi Sundowns da África do Sul. "Os nossos reservas assistiram ao primeiro tempo de dentro do vestiário para evitar o sol escaldante no TQL Stadium — nunca vimos isso antes, mas neste calor, faz todo o sentido", dizia a legenda no Instagram. Alguns acompanharam a etapa final protegidos por guarda-sol. Outros, no banco de reservas.
"Sempre pensamos em como podemos ajudar, minimizar a influência negativa. Estava muito, muito quente. Tínhamos bastões de resfriamento para refrescar os jogadores. Eles estavam esperando no vestiário com ar-condicionado. Não se trata apenas de tática, mas de minimizar a carga, minimizar o estresse. O estresse já é alto o suficiente", justificou o técnico croata Niko Kovac, auxiliado por um intérprete após o 4 x 3 contra o Mamelodi.
Na última segunda-feira, o Corpo de Bombeiros de Miami soltou comunicado nas redes sociais para que os torcedores de Inter Miami e Palmeiras tivessem cuidado com o calor extremo, e estabeleceu diretrizes de segurança para o duelo entre Chelsea e Espérance.
A Fifa tem seguido rigorosamente o protocolo de saúde. As diretrizes determinam pausas quando a temperatura de bulbo umido — um composto de fatores como clima e umidade — atinge 89,6°F, o equivalente a 32°C, justamente a média dos últimos dias nas cidades da Copa do Mundo de Clubes. As pausas são entre os minutos 30 e 75. A final olímpica de Pequim-2008 entre Nigéria e Argentina inaugurou o procedimento a 41,5°C.
A entidade máxima do futebol se manifestou em nota no último dia 18 sobre as críticas ao horário das partidas. "Os especialistas médicos da Fifa estão em contato constante com os clubes para cuidar da gestão do calor e aclimatização. A Fifa também estabeleceu oficiais médicos nas sedes para trabalhar em cooperação com as autoridades locais em questões de saúde, incluindo o enfrentamento ao calor", afirma o comunicado.
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