
Marechal Deodoro (AL) — Como escreveu Euclides da Cunha em Os Sertões, o "Sertanejo é, antes de tudo, um forte". A publicação de 1902 tem reflexos esportivos no principal rally da América do Sul. A 33ª edição chegou ao fim, ontem, premiando guerreiros e guerreiras após uma semana de disputas e mais 2.749 km percorridos entre cinco estados.
A largada para o Rally dos Sertões foi dada em 27 de julho, em Goiânia, e subiu o mapa, passando por Minas Gerais, Bahia e Pernambuco antes de chegar a Alagoas. A apoteose de todos os competidores tomou conta da Praia do Francês, ainda que sob chuva incessante no Litoral Sul alagoano. O mau tempo, inclusive, foi protagonista nos últimos dias, interrompendo as duas últimas etapas, por questões de segurança. Portanto, o que eram para ser oito trajetos foram cortados para seis.
São muitas histórias entre os 258 inscritos na edição de 2025. Porém, algumas se destacam, como a do espanhol campeão da categoria moto na Praia do Francês. O batismo do ponto turístico remete ao período colonial, quando serviu como porto para navios piratas, inicialmente franceses, cujo objetivo era a exploração de pau-brasil. Muito tempo passou e uma das costas mais badaladas do Nordeste viveu para ver um espanhol fincar a bandeira em um território que no passado seria inóspito.
Tosha Schareina nasceu em Valencia, em 6 de março de 1995. Neste ano, estreou no Rally dos Sertões com toda pompa, devido ao vice-campeonato no Rally do Dakar, o mais relevante do planeta, conhecido pelas provas desafiadoras que atravessam desertos. O espanhol de 30 anos, da equipe Monster Energy Honda Team, levou a experiência para o Brasil. Não à toa, liderou cinco seis etapas disputadas.
"Muito contente de estar aqui, minha primeira vez no Sertões, começando com vitória. Agradeço a quem nos apoiou. O Sertões é muito extenso, muito duro, mas o Dakar é um deserto, mais aberto, mas cada um tem dificuldades. Gostei muito. Nos vemos em 2026", discursou.
A história da categoria carros pode ser começar assim: irmãos, irmãos, negócios à parte. A 33ª edição do Sertões mostrou como não há alívio entre os concorrentes, nem mesmo para aqueles que compartilham laços sanguíneos. Campeão da categoria carros Marcos Baumgart precisou dar o troco no "brother" Cristian Baumgart para subir ao lugar mais alto do pódio pela segunda vez, repetindo a campanha de 2020.
A bordo da Toyota Hilux da equipe X Rally Team, Cristian Baumgart foi o líder da primeira etapa, após a largada em Goiânia, em 27 de julho. No segundo trecho, entre os municípios mineiros de Unaí e Januária, o irmão Marcos aumentou o ritmo ao lado do navegador Kleber Cincea e assumiu a ponta da categoria.
"Ganhar o bicampeonato é muito bom, mesmo, fico feliz. Infelizmente, meu irmão saiu da prova. Se eu não tivesse vencido, acredito que ele estaria aqui. Tive problema no freio, achei que já era, que ficaria com o segundo lugar. Sempre corremos juntos, eu no carro e ele em outro, sempre com uma rivalidade saudável, um tirando a zona de conforto do outro para acelerar mais", destaca Marcos.
Uma das características para moldar um campeão do desafiador Rally dos Sertões é o poder de adaptação. Não basta ter habilidade ou contar com um bom carro. Vitorioso na categoria de Veículo Utilitário de Tarefa (UTV), José Hélio Rodrigues precisou ser camaleão e usar experiência em outro naipe da competição para subir ao lugar mais alto do pódio.
Zé Hélio foi pentacampeão das motos em 1999, 2003, 2007, 2008 e 2009. Conhecido como o Rei do Sertão, mergulhou no novo desafio em 2014, pilotando o UTV side-by-side Polaris RZR XP 1000. No ano passado, ficou no quase ao ficar com o vice. Ontem, ao lado de Ramon Sacilotti, a bordo do Can Am MaverickR, foi coroado. "Experiência não se compra, se conquista. Faz 30 anos que ganhei a primeira especial dos Sertões, em 1995. Não estou aqui para fazer parte do show do rally, mas faço parte do esporte, competindo", celebrou.
A dupla liderou a disputa dos UTVs de ponta a ponta, dede a largada em Goiânia, em 27 de julho, até a sexta etapa. Há uma curiosidade sobre Zé Hélio. Estreante no Rally dos Sertões em 1995 nas motos, usou um documento falso para se inscrever naquela edição, pois tinha 16 anos e, teoricamente, não poderia competir.
O Rally dos Sertões 2025 se despede com números especiais. Após a terceira etapa, entre Januária (MG) e Bom Jesus da Lapa (BA), a disputa comemorou a marca de 300 trechos, além de mais de 200 mil km rodados, o equivalente a cinco voltas ao mundo. Nas 32 edições anteriores, 123 cidades, das cinco regiões do Brasil, abriram as fronteiras para o Rally dos Sertões. No ano passado, o Distrito Federal foi palco da largada e da chegada.
*O repórter viajou a convite do Rally dos Sertões Petrobras
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