
Quando o assunto é futuro das profissões, duas tendências importantes surgem: a digitalização e a sustentabilidade. A conclusão é do estudo Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras, feito com base na revisão de publicações e entrevistas com especialistas pelo Itaú Educação e Trabalho (IET), em parceria com a Fundação Roberto Marinho (FRM), Fundação Arymax, Fundação Telefônica Vivo e pela aliança Global Opportunity Youth Network (GOYN SP). O tema foi abordado no evento Trampos do Futuro, promovido em fevereiro pelo IET em São Paulo.
De acordo com a pesquisa, a crescente digitalização da economia leva à substituição de postos de trabalhos e à flexibilização das relações, abrindo espaço para a busca por alternativas informais e para a criação de novas oportunidades em áreas estratégicas, como tecnologia da informação (TI), saúde e educação. Por isso, é fundamental se atentar às transformações digitais e delimitar meios de adaptação e aproveitamento das novas tendências, como investir em formações interdisciplinares e no desenvolvimento de habilidades relacionais, defende João Alegria, secretário-geral da FRM.
"Tudo muda de forma veloz, não dá para se sustentar em um ponto seguro, porque amanhã pode surgir uma novidade inesperada. Isso cria uma insegurança muito grande, pois a todo momento você está sendo desafiado a se reinventar ou se questiona se seu emprego ainda faz sentido ou vai acabar. Então, você precisa aprender novas competências para lidar com esse universo de influência digital acelerada", pontua Alegria.
Além das transformações tecnológicas, a economia verde é outro campo promissor no futuro do trabalho. Segundo a pesquisa, o crescimento de oportunidades em energia, turismo e agricultura sustentável é motivado pela mudança em padrões demográficos e de consumo, ainda com influência das atividades industriais, a digitalização e a preocupação ambiental. Somado a isso, faz-se presente a discussão sobre inclusão produtiva, que envolve questões sociais na transição para a sustentabilidade.
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"A maneira como produzimos e circulamos bens gera um impacto enorme no mundo do trabalho: formações tradicionais, fluxos e processos. Então, há uma interdependência entre meio ambiente e o meio profissional. Com isso, a gente precisa considerar que o âmbito coletivo é mais importante do que o individual, pensando na colaboração entre empresas e profissionais, para garantir uma vida produtiva e sustentável", afirma João Alegria.
Economia criativa
O mercado de trabalho da Economia da Cultura e das Indústrias Criativas (Ecic) engloba os setores de tecnologia, arte, cultura e inovações, gerando riquezas por meio da criação de novas propostas e formatos. De acordo com um estudo do Itaú Cultural de 2024, a economia criativa fechou 2023, último período analisado, com cerca de 8 milhões de trabalhadores, o que representa crescimento significativo em comparação com o ano anterior.
Entre as categorias ocupacionais, as áreas que mais cresceram foram: design (29%), música (24%), desenvolvimento de software e jogos digitais (18%). Somente em 2023, os setores culturais e criativos acumularam a criação de 577 mil postos de trabalho. Outros dados também mostram que, na média entre 2012 e 2020, a Ecic atingiu participação de 2,63% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
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João Vitor Caires, fundador e diretor-executivo do Instituto Kondzilla, que amplia oportunidades profissionais e de desenvolvimento humano para jovens periféricos, percebe o potencial desse setor, principalmente, junto aos jovens, porque "o entretenimento, o audiovisual e a música não estão necessariamente atreladas a trabalho, mas se relacionam com o lazer e a identidade". O profissional acredita que o mercado criativo está ganhando mais espaço por meio de um novo olhar sobre suas possibilidades, e defende recursos para fomentar a criatividade e a inovação.
"A economia criativa no Brasil sempre foi grande, mas eu acho que, agora, estamos olhando para isso mais como um mercado de trabalho do que apenas um setor de menor importância. Quando o país investe nisso, há um ganho social e econômico grande, porque ela remete à identidade nacional e mobiliza empregos. Então, para um jovem se capacitar nesse mercado, ele deve buscar experiências educativas e outras oportunidades de aperfeiçoamento, pois sua formação é multifacetada", diz.
Theodoro Silva, 19, fez a formação "Escola de Criadores" no Instituto Kondzilla aos 17 anos e conta que a experiência foi fundamental para o crescimento pessoal e o ingresso no mercado formal de economia criativa. Hoje, ele é assistente de direção criativa no instituto e filmmaker vinculado a uma empresa. "A formação foi transformadora, conheci pessoas que me ajudaram a me preparar para o mercado de trabalho e marcaram minha trajetória. Eu não imaginava chegar até aqui se não fosse pela Escola", compartilha.
Também inserida nesse setor, Andreza Rocha é fundadora e líder do AfrOya Tech Hub, espaço afroculturista que fomenta lideranças negras no ecossistema de tecnologia e inovação. Para ela, os modelos tecnológicos tendem a ser aprimorados cada vez mais, percebendo como desafios a sua implementação da forma mais adequada e sustentável, uma vez que "não há uma 'bala de prata' que resolva todos os problemas."
Andreza também defende que a valorização de personalidades negras nesse ramo pode impulsionar os resultados: "Muitas coisas que estão relacionadas à nossa vida cidadã surgem a partir da tecnologia, então, quanto mais pessoas que representam a realidade brasileira, com pessoas negras liderando esse movimento, maior a possibilidade de criação de produtos, resolução de problemas e inclusão nas soluções", afirma.
Inclusão produtiva
O campo da economia verde leva em consideração aspectos relacionados ao meio ambiente, à sustentabilidade e à inclusão produtiva. Pesquisa de 2024 da Fundação Arymax, em conjunto com a B3 Social e os institutos Golden Tree e Itaúsa, que visam soluções sustentáveis para o ambiente e a sociedade, mostrou que uma transição para a sustentabilidade só é possível em conjunto com a inserção de populações vulneráveis no mundo do trabalho, o que é chamado de inclusão produtiva.
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Amanda Costa, 28 anos, fundou o Instituto Perifa Sustentável, organização sem fins lucrativos que promove ações educativas em periferias, e conta que a ideia do projeto surgiu pela vontade de democratizar a pauta ambiental entre jovens periféricos.
"O ambientalismo brasileiro sempre foi protagonizado por pessoas brancas, ricas e da academia, que não sabiam se comunicar com a realidade da população. Porém, falar de clima é falar da vida, de insegurança alimentar e moradia acessível; é sobre proteger as florestas, mas também as pessoas", explica. Para combater o racismo ambiental, por exemplo, definido por Amanda como discriminação racial na formulação de políticas públicas, ela acredita que é essencial "viver o território" e incluir os jovens nas discussões, a fim de preservar as condições de vida para as futuras gerações.
O Instituto Coca-Cola Brasil (ICCB) é outra instituição responsável pela inclusão produtiva de jovens, tendo como objetivo conectar 5 milhões deles a oportunidades de trabalho e geração de renda até 2030. O instituto oferece capacitações on-line para atuação no mercado, como preparação de currículo e para entrevista de emprego e conhecimento sobre modalidades de contrato e processos seletivos.
"Nós buscamos oportunidades de trabalho formal com proteção social, para que esse jovem, uma vez conectado ao mercado, possa se desenvolver e seguir sua trilha na vida adulta, de forma digna", destaca Daniela Redondo, diretora-executiva do instituto. Por isso, a instituição está investindo em inteligência da informação, filtrando dados sociodemográficos para obter impacto mais assertivo.
Giovanna Santos, 20, tem formação técnica em radiologia e está ingressando na faculdade de biomedicina. Ela foi uma das jovens impactadas pelo instituto e relata uma experiência enriquecedora para o meio profissional: "Graças a essa formação, cheguei a uma oportunidade na área que eu procuro."
*Estagiária sob a supervisão de Marina Rodrigues
*Júlia Giusti viajou a convite do Itaú Educação e Trabalho