Meio Ambiente

Lula: guerra é mais cara do que crise climática

Ao abrir a COP30, presidente crítica a EUA, China e Rússia, que gastam mais com o complexo industrial-militar do que com as mudanças ambientais. E adverte: momento é de lutar contra "os obscurantistas que rejeitam as evidências da ciência"

Presidente cobrou empenho de sua equipe para a aprovação de outra proposta ligada à segurança   -  (crédito: Ricardo Stuckert/PR)
Presidente cobrou empenho de sua equipe para a aprovação de outra proposta ligada à segurança - (crédito: Ricardo Stuckert/PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou um duro recado, ontem, na sessão da abertura da COP30, aos líderes mundiais que desdenham das mudanças climáticas. Em uma crítica aberta aos presidentes Donald Trump, Xi Jinping e Vladimir Putin, mas sem nomeá-los, lamentou que não estejam presentes e lembrou que Estados Unidos, China e Rússia gastam mais com o complexo industrial-militar do que investindo em medidas de enfrentamento aos efeitos extremos da natureza.

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"Parabéns por darem a todos nós essa lição de civilidade. Essa lição, eu diria, de grandeza humana", ironizou Lula, para arrematar: "Provando que se os homens que fazem guerra estivessem nesta COP, eles iriam perceber que é muito mais barato colocar US$ 1,3 trilhão, para a gente acabar com o problema climático, do que colocar US$ 2,7 trilhões para fazer guerra, como fizeram no ano passado".

A Conferência do Clima das Nações Unidas ocorre sem a presença dos presidentes dos três países que lideram a corrida armamentista no planeta. Levantamento do Stockholm International Peace Research Institute (Sipri), referente a 2024, mostra que os EUA investiram US$ 997 bilhões em gastos militares. Na sequência, vêm a China e a Rússia, que desembolsaram, respectivamente, US$ 314 bilhões e US$ 149 bilhões em armamentos.

Lula advertiu que "na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas, também, os progressos do multilateralismo. Eles controlam algoritmos, semeiam ódio, espalham medo, atacam as instituições, a ciência e as universidades. É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas. Sem o Acordo de Paris, o mundo estaria fadado ao aquecimento catastrófico de quase cinco graus até o fim do século. Estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada. No ritmo atual, ainda avançamos rumo a um aumento superior a um grau e meio na temperatura global. Romper essa barreira é um risco que não podemos correr".

Ao ressaltar a importância de seguir as metas do Acordo de Paris, o presidente destacou dois eventos extremos recentes. "A mudança do clima não é uma ameaça do futuro. É uma tragédia do presente. O furacão Melissa, que fustigou o Caribe, e o tornado que atingiu o Paraná deixaram vítimas e um rastro de destruição. O aumento da temperatura global espalha dor e sofrimento, especialmente entre as populações mais vulneráveis", ressaltou.

O presidente fez referência, ainda, às dificuldades enfrentadas para realizar a COP30 em Belém. "Seria mais fácil ter feito a COP numa cidade acabada, que não tivesse problema. Resolvemos aceitar o desafio de fazer a COP em um estado da Amazônia para provar que, quando se tem disposição política, vontade e compromisso com a verdade, a gente prova que não tem nada impossível para o homem", disse.

Multilateralismo 

Já o presidente da COP, embaixador André Corrêa do Lago defendeu a necessidade de ações imediatas contra as mudanças climáticas. "O que mudou imensamente sobre esse processo é a questão da urgência. Esse é o elemento adicional, que está tão presente e somos lembrados, com grande tristeza. Temos uma responsabilidade imensa", cobrou.

Segundo o embaixador, a saída para o enfrentamento às mudanças climáticas ainda é multilateralismo, que vem sendo confrontado por governos de direita, sobretudo de Trump. "A ciência, a educação e a cultura são o caminho que devemos seguir. Para o combate à mudança do clima, o multilateralismo é definitivamente o caminho", observou.

Como exemplo de iniciativas multilaterais bem sucedidas, Corrêa do Lago citou o Protocolo de Montreal, assinado em 1987, que baniu o uso de substâncias danosas à camada de ozônio — que está em recuperação e deve fechar entre 2040 e 2050 — em aerossóis e outros produtos; e o Acordo de Paris. Até 21 de novembro, as delegações vão debater as medidas de mitigação às mudanças do clima.

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postado em 11/11/2025 03:55
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