
Diligências da Polícia Federal, nesta terça-feira, atingiram integrantes do Judiciário e do Legislativo. No Rio de Janeiro, agentes da corporação prenderam o desembargador do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) Macário Júdice Neto, na segunda fase da Operação Unha e Carne, que investiga o vazamento de informações da Operação Zargun. Já em Brasília e no Pará, foram cumpridos mandados de busca e apreensão contra o deputado federal Antônio Doido (MDB-PA), por suspeita de corrupção e desvio de recursos públicos.
O desembargador Júdice Neto é relator do processo que envolve o deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, acusado de ligação com o Comando Vermelho (CV). Em setembro, a Operação Zargun resultou na prisão do parlamentar.
Durante a ação desta terça-feira no Rio, a PF cumpriu um mandado de prisão preventiva e 10 de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no Rio de Janeiro e no Espírito Santo. Júdice Neto foi detido em casa, em um condomínio de luxo localizado na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade.
Na primeira fase da operação, a PF prendeu o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União), também acusado de vazar informações. Ele foi solto em seguida e atualmente está afastado da presidência da Casa, sendo monitorado por tornozeleira eletrônica. TH Joias, por sua vez, foi preso em setembro por tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro. Ele também é acusado de negociar equipamentos, como drones e armas, com o crime organizado.
Na decisão em que determinou a prisão de Bacellar, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, havia cobrado informações do desembargador Júdice Neto, mas, nesta terça-feira, o magistrado também determinou a prisão do relator.
Macário Júdice Neto já havia sido afastado do cargo em 2005, por suspeita de participação em um esquema que o ligava à máfia dos caça-níqueis, mas foi absolvido em 2015. Ele também respondia a acusações de venda de sentença, quando atuava na Justiça Federal no Espírito Santo. Mesmo tendo sido considerado inocente, permaneceu afastado por conta de processos administrativos.
A prisão de Bacellar, no começo deste mês, permitiu que a PF acessasse o seu telefone celular e encontrasse mensagens trocadas entre ele e o desembargador.
De acordo com as investigações, o presidente da Alerj e TH Joias eram muito próximos, e há indícios de vazamento de informações sigilosas.
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O chefe de gabinete de Bacellar, Rui Bulhões, foi um dos alvos de busca e apreensão. Na casa dele, a PF apreendeu três aparelhos celulares, que passaram por análise. Após sair da sede da corporação, ele pediu exoneração do cargo ao presidente em exercício da Alerj, Guilherme Delaroli (PL). Marcos André Riscado de Brito e o procurador-geral Robson Tadeu de Castro Maciel Júnior também pediram exoneração. Eles não são alvos da investigação, mas tinham vínculos com Bacellar.
Em nota, a defesa de Júdice Neto afirmou que Moraes foi "induzido ao erro" ao decretar a prisão do cliente. Também sustentou que não teve acesso à decisão que decretou a prisão do desembargador.
"Sua Excelência Alexandre de Moraes foi induzido a erro ao determinar a medida extrema. Ressalta, ainda, que não foi disponibilizada cópia da decisão que decretou sua prisão, obstando o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa. A defesa apresentará os devidos esclarecimentos nos autos e requererá a sua imediata soltura", enfatiza a nota.
Celulares pela janela
Também nesta terça-feira, a Polícia Federal apreendeu aparelhos celulares na área externa do apartamento funcional do deputado federal Antônio Doido (MDB-PA). Os policiais foram ao local para cumprir um mandado de busca e apreensão na operação que apura suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo agentes públicos e privados. Segundo os investigadores, os aparelhos foram arremessados pela janela, no momento da ação policial.
A diligência fez parte da investigação de um suposto esquema de fraudes em processos licitatórios, com desvio de recursos públicos, em que os valores obtidos irregularmente teriam sido utilizados para o pagamento de vantagens indevidas e para a ocultação de patrimônio.
Ao todo, foram cumpridos 31 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo STF, no Distrito Federal e no Pará.
Em janeiro, um assessor ligado ao gabinete do deputado foi preso em flagrante com cerca de R$ 1 milhão em dinheiro vivo, em Belém. Ele era secretário parlamentar de Antônio Doido, que na época, não se manifestou sobre a prisão. Em agosto, o ministro Flávio Dino, do STF, determinou a abertura de um inquérito para apurar a suspeita de desvio de recursos provenientes de contratos públicos do governo do Pará.
Um dos contratos sob análise estaria relacionado a obras vinculadas à realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorreu em novembro, em Belém. O caso tramitava na Justiça Eleitoral do estado, mas foi remetido ao STF por envolver um parlamentar, que tem foro privilegiado.
Segundo a Polícia Federal, duas empresas investigadas estariam registradas em nome da esposa do deputado e de um homem que não teve a identidade revelada, apontado como gerente de uma fazenda de propriedade do parlamentar. Para os agentes, ambos atuavam em nome do deputado. Um dos contratos refere-se a uma licitação para obras no Canal do Bengui, que fica em Belém, estimado em R$ 142 milhões.
O Correio entrou em contato com o gabinete do deputado Antônio Doido, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

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