
O governo federal, por meio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, planeja lançar em outubro o programa Município Mais Seguro, voltado para o aprimoramento da segurança pública municipal e o fortalecimento das Guardas Municipais (GMs).
O lançamento ocorre em meio a uma crise na segurança pública brasileira, marcada por altos índices de letalidade policial, assassinatos de agentes e outras Mortes Violentas Intencionais (MVI). No ano passado, a taxa nacional de MVI atingiu 20,8 por 100 mil habitantes, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025.
O programa tem como objetivo a gestão integrada e a prevenção da violência e da criminalidade em territórios vulneráveis. A prioridade do plano federal será o financiamento para a aquisição e implementação de câmeras corporais nas Guardas Municipais, tecnologia considerada uma ferramenta eficaz para ampliar a transparência, reforçar a legitimidade e aumentar a responsabilização das ações policiais.
A iniciativa federal acompanha a expansão recente das atribuições das Guardas Municipais. O Supremo Tribunal Federal (STF) validou que as GMs podem atuar no policiamento ostensivo e comunitário. Em abril, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, apresentou um novo texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, que prevê a inclusão das guardas municipais no rol de órgãos de segurança pública estabelecidos pela Constituição.
PEC da Segurança
A PEC proposta também pretende conferir status constitucional ao Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), instituído por lei em 2018, e à União, a competência para estabelecer diretrizes gerais para a política de segurança. O financiamento é uma peça central, sendo que a PEC propõe a constitucionalização do Fundo Nacional de Segurança Pública e Política Penitenciária (FNSP), vedando o contingenciamento de seus recursos.
Nesse contexto, o programa Município Mais Seguro prevê capacitações integradas para as Guardas Municipais em áreas como Polícia Comunitária, Uso Diferenciado da Força e atuação das Patrulhas Maria da Penha.
O plano também inclui a autorização excepcional de transferência direta de recursos do FNSP para fundos específicos dos estados e do Distrito Federal, destinados a manutenção de serviços, investimentos em inteligência e aquisição de equipamentos permanentes, com o objetivo de acelerar a cooperação federativa.
Procurados, o Conselho Nacional de Secretários de Segurança Pública, a Federação Nacional de Sindicatos dos Guardas Municipais e o Conselho Nacional das Guardas Municipais não responderam aos questionamentos da reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.
Letalidade policial
A política de segurança pública no Brasil, em geral, é marcada por um persistente e elevado padrão de letalidade policial, que se concentra de forma seletiva em segmentos específicos: jovens, negros e moradores de periferias, segundo o levantamento do Anuário Brasileiro da Segurança Pública 2025. Em 2024, 79% das vítimas de MVI no país eram negras e 48,5% tinham até 29 anos.
As decisões judiciais têm reforçado a importância de que as forças de segurança obedeçam à Lei 13.060/2014, que regulamenta o uso de instrumentos de menor potencial ofensivo por agentes de segurança pública em todo o país, e respeitem os princípios internacionais de direitos humanos no que se refere ao uso proporcional e diferenciado da força. O Supremo reafirmou que a avaliação do nível adequado de força cabe às próprias forças de segurança, com controle exercido a posteriori, e não de forma antecipada.
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A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, específica para o Rio de Janeiro, serviu como um "laboratório" para a temática da segurança pública no país. O julgamento buscou examinar a adequação do arcabouço institucional fluminense aos parâmetros constitucionais e aos tratados internacionais. Como parte dessa medida, ficou determinado que o estado equipasse as viaturas e os uniformes dos agentes de segurança com sistemas de GPS, áudio e vídeo.
Em resposta às alegações de que decisões judiciais teriam limitado a ação policial, o STF ressaltou que as medidas cautelares tinham como objetivo assegurar a legalidade e a transparência da atuação estatal. Segundo dados do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), durante o período em que vigorava a decisão do ministro Edson Fachin — que definiu diretrizes para as incursões —, as polícias cariocas realizaram cerca de 4,6 mil operações em comunidades.
*Estagiário sob a supervisão de Rafaela Gonçalves
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