Economia verde

Em 2024, Ceasa girou R$ 2,15 bilhões e mais de 300 toneladas de alimentos

Responsável por gerar cerca de 2 mil empregos diretos e outros 5 mil indiretos, em 2024, a central teve um aumento de 4,74% em relação ao ano anterior. Conheça histórias de personagens que madrugam para atender o brasiliense

 23/01/2025 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Movimento no CEASA.  -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
23/01/2025 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Movimento no CEASA. - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

A partir das 3h da madrugada, enquanto grande parte dos brasilienses ainda dorme, um dos principais motores da economia verde da capital começa a funcionar: a Central de Abastecimento (Ceasa), localizada no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Responsável por gerar cerca de 2 mil empregos diretos e outros 5 mil indiretos, em 2024, a central movimentou R$ 2,15 bilhões, um aumento de 4,74% em relação ao ano anterior, quando o volume chegou a R$ 2,05 bilhões.

A central começa a atender os consumidores a partir das 4h30, sempre de segunda a sábado. O local reúne vendedores e compradores em busca de produtos frescos e de alta qualidade. Para se ter uma ideia, em 2024, foram movimentadas 338.943,53 toneladas de alimentos, uma média diária de 941,51 toneladas.

Às segundas e quintas-feiras, impulsionadas pela liberação da área conhecida como Mercado Livre do Produtor, os dias são mais movimentados. O local abriga 500 produtores cadastrados — divididos entre fixos, flutuantes e de entrega direta. Além disso, 17 organizações participam do Mercado da Agricultura Familiar, que ocorre aos sábados. São 176 empresários fixos ocupando boxes, e 214 atuam como varejistas, fortalecendo a diversidade de negócios e ampliando o alcance da Ceasa.

Em meio ao frenesi de funcionários transportando caixas repletas de frutas e verduras e, ao constante vaivém de caminhões e veículos, a Ceasa é um microcosmo urbano pulsante no coração do DF, quase uma pequena cidade. Antes mesmo de o sol aparecer, a reportagem presenciou o intenso movimento no local. A abertura aos compradores ocorre às 4h30, mas quem trabalha lá conta que as atividades começam bem mais cedo.

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O produtor rural Altamiro Ramos, de 64 anos, é um dos que madrugam no Ceasa. Todos os dias, ele vem do município de Flores de Goiás (GO), a 236km da capital, a fim de garantir as vendas. Ele começou essa trajetória há 16 anos, como uma extensão do que já fazia em sua terra natal: cultivar e comercializar produtos agrícolas. "Às vezes, chego aqui umas 3h. Meus companheiros ajudam a aprontar a mercadoria, e a gente transporta tudo para o Ceasa", explica, com orgulho.

O trabalho, no entanto, não é isento de desafios. Segundo Altamir, a concorrência desleal é um problema crescente na Ceasa. "Pago aluguel de quase R$ 500, mas muitos produtores vendem direto no estacionamento sem pagar imposto. Isso acaba afetando nossas vendas", desabafa. Ele sugere uma fiscalização mais rigorosa desse tipo de prática. Segundo a Ceasa, a equipe de mercado e de fiscais de piso terceirizados exercem atuam para coibir essa atividade principalmente em dias de Mercado Livre do Produtor, às segundas, quintas e sábados  

Do campo à mesa

Percorrer a Ceasa é como folhear um álbum de histórias de vida, no qual cada rosto revela a jornada de quem, com suor e dedicação, tira da terra o próprio sustento. A produtora Ester Carvalho, 25, por exemplo, mantém viva a tradição familiar de comercializar folhagens. De Brazlândia, a família dela tem raízes profundas na agricultura e, há cerca de sete anos, abastece o mercado local com produtos frescos, como alface, couve, cheiro-verde e acelga. "Fomos criados nesse meio. É o que sabemos fazer. Precisávamos de dinheiro, então, viemos para cá", conta Ester.

Mesmo durante a entrevista, a jovem vendedora não parava de atender clientes interessados em seus produtos. A cada venda, um sorriso iluminava seu rosto, demonstrando o orgulho por oferecer itens de qualidade. "Escolhemos bem as folhas, as mais bonitas, e atendemos pedidos feitos com antecedência. É muito satisfatório ver nossos produtos fazerem a diferença", comenta.

O carinho dos produtores gera um ciclo virtuoso, no qual produtos de qualidade resultam em vendas mais altas, beneficiando tanto produtores quanto consumidores finais. O empresário José Belisario, 54, faz do Ceasa uma parada obrigatória em sua rotina há 22 anos. Proprietário do Restaurante Fogão, em Sobradinho, ele visita o mercado quatro vezes por semana. "A variedade, o preço e a qualidade são os principais atrativos deste lugar. As mercadorias vêm em grandes quantidades, ideal para o nosso tipo de negócio", explica José, que compra desde batatas e cebolas até frutas e hortaliças.

José enxerga a Ceasa como uma peça central na engrenagem que abastece supermercados, mercearias e estabelecimentos gastronômicos do Distrito Federal. "Não existe Brasília sem a Ceasa. Talvez as pessoas nem tenham noção da importância para a cidade", afirma.

União e solidariedade

Quem vê essa rede de histórias marcantes percebe um campo fértil, não só para a comercialização de frutas e verduras. Nos corredores da Ceasa, entre a frenética movimentação, floresce um outro tipo de cultivo: o das amizades. Alda Lima, 70, proprietária de um sacolão no Paranoá, frequenta o local há 10 anos, com a finalidade de abastecer seu empreendimento. Mas o que ela também gosta é de prosear com a amiga e comerciante Aurene do Nascimento, 57.

Ambas concordam que a Ceasa não é importante apenas aos negócios, mas também à vida social dos trabalhadores. "Aqui, todo mundo se conhece, troca ideias e se ajuda. Já fiz amizade com muitos clientes e outros vendedores. Aqui tem esse clima de união", comenta Aurene.

Além da amizade, elas destacam como o ambiente do mercado é propício a histórias de solidariedade. Alda se lembra de uma ocasião na qual um fornecedor ajudou a transportar mercadorias até o Paranoá em um momento de emergência. "Isso não tem preço. Aqui, um sempre dá um jeito de ajudar o outro", afirma, sorridente.

Além de proporcionarem momentos especiais de conexão e comunidade, as visitas garantem alimentos frescos ao estabelecimento de Alda. "Antes, era muito difícil encontrar fornecedores de qualidade e com preços acessíveis. Quando descobri a Ceasa, percebi que podia resolver tudo em um só lugar. Isso mudou completamente a dinâmica do meu sacolão", explica.

Coração da economia verde

Para cuidar de toda a engrenagem dessa produção, a administração da Ceasa busca modernizar e ampliar sua infraestrutura. Estão previstas reformas na rede elétrica, nos telhados, no pavilhão B8 e nos banheiros, além da construção de três novos sanitários. Essas iniciativas visam garantir maior eficiência, conforto e capacidade operacional.

Iniciativas sustentáveis também se sobressaem. Os três pavilhões mais recentes contam com sistemas de captação de água da chuva, a qual é tratada e reaproveitada. Além disso, o Programa Desperdício Zero recolhe alimentos descartados e os dão novos destinos, seja o consumo humano, compostagem ou alimentação animal. Já o Banco de Alimentos da Ceasa-DF distribui doações a cerca de 250 instituições cadastradas, ampliando o impacto social e ambiental do trabalho realizado nas centrais de abastecimento.

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira

Ceasa em Números

Volume total
comercializado em 2024:

338.943,53 toneladas

Média diária de comercialização:

941,51 toneladas

Dias de maior movimento: 
Segundas e
quintas-feiras

(coincide com o Mercado
Livre do Produtor)

Horário de
funcionamento: 

Segunda a sábado,
a partir das 4h30

Produtores cadastrados: 500

Fixos:400

Flutuantes: 80

Entrega direta: 20

Organizações
do Mercado da
Agricultura Familiar

(sábados): 17

Comerciantes (sábados): 390

Varejistas: 214

Empresários ocupantes
de box: 176

Três perguntas para

Riezo Almeida , economista

Como a economia verde pode impulsionar o desenvolvimento econômico e social de uma região como o DF?

A economia verde tem potencial para ser um motor de desenvolvimento econômico e social no Distrito Federal, uma região com características geográficas, políticas e socioeconômicas específicas. Ao integrar práticas sustentáveis e promover inovações em setores estratégicos, é possível fomentar um crescimento que alia progresso econômico e responsabilidade ambiental. Para isso, é fundamental investir em sistemas de inovação que estimulem a criatividade e o uso eficiente dos recursos, com destaque para a atuação de atores-chave, como a Emater-DF, a Ceasa e o mercado agrícola. 

Quais são os principais desafios econômicos para implementar práticas sustentáveis em grandes centros de comercialização como a Ceasa?

Um dos principais desafios está relacionado ao custo inicial elevado para adotar tecnologias sustentáveis. Investimentos em sistemas de reciclagem, fontes de energia renovável e logística reversa podem ser significativos, o que muitas vezes dificulta a viabilidade financeira. A complexidade dos processos logísticos e a diversidade de atores envolvidos também tornam o desafio ainda maior, exigindo estratégias que conciliem sustentabilidade com eficiência econômica.

Como o investimento em infraestrutura sustentável pode atrair novos negócios para a Ceasa e outras instituições semelhantes?

Investir em infraestrutura sustentável pode transformar a Ceasa em um polo ainda mais atrativo para novos negócios, com benefícios econômicos, ambientais e sociais. Um exemplo seria a criação de outro centro similar em outro ponto do DF, ampliando o alcance das práticas sustentáveis. A certificação sustentável, como o selo verde, é um fator estratégico nesse contexto. Produtos com essa certificação são altamente valorizados por consumidores e empresas, devido aos padrões rigorosos que garantem qualidade e sustentabilidade ao longo da cadeia produtiva.

Carlos Silva
Giovanna Sfalsin*
postado em 26/01/2025 04:00
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