
Debora Bloch, se pudesse, mataria Odete Roitman. A afirmação pode soar estranha vinda justamente da atriz que trouxe de volta a maior vilã de Vale Tudo, mas faz sentido quando se observa a nova versão da personagem. Quase quatro décadas após Beatriz Segall, Bloch recria Odete com humor e sensualidade, sem suavizar a crueldade da personagem.
Nos anos 1980, o país aguardava ansioso pelo momento em que a antagonista seria assassinada. Hoje, o público corre para assistir às suas maldades — e compartilhá-las nas redes sociais. A cada capítulo, frases mordazes se transformam em memes. “Odete representa um pensamento terrível. Não passo pano, ela tem de ser punida”, ressalta a atriz em entrevista à Folha de S. Paulo, lembrando que só na ficção é possível rir daquilo que, na vida real, seria intolerável.
O poder da personagem está justamente nesse contraste. Ela destila preconceito e elitismo sem pudor — chamou pobre de praga, desprezou o Brasil e, em cena recente, disse que Raquel, interpretada por Taís Araújo, deveria sair pelos fundos por ser negra. Ainda assim, o público vibra com suas tiradas e a colocou em pé de igualdade com a protagonista. Bloch, uma das atrizes mais exigidas do elenco, grava quase todos os dias da semana.
Parte do fascínio vem da forma como Odete subverte papéis. Aos 60 anos, é retratada como uma mulher independente, desejosa e nada disposta a pedir licença. Compra amantes vinte anos mais jovens, desafia homens de igual para igual e solta frases que parecem sintetizar séculos de desigualdade: “Não faço nada que os homens não fizeram com as mulheres por séculos”. Por isso, muitas espectadoras se sentem vingadas.
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O trabalho intenso de Bloch encontrou equilíbrio no texto de Manuela Dias, autora do remake, que optou por acrescentar humor às falas da vilã. A escolha impulsionou a audiência, antes morna, e transformou Vale Tudo em assunto diário nas redes. Mas, para a atriz, Odete não é apenas uma caricatura. É também um retrato de poder feminino tardio, de contradições e de tudo aquilo que incomoda quando refletido na sociedade.
Aos 62 anos, Bloch enxerga a personagem como um espelho invertido de si mesma. Militante política, apoiadora da taxação dos super-ricos e contrária à flexibilização ambiental, a atriz está a léguas da conservadora Roitman, conforme a Folha. Ainda assim, reconhece na vilã um papel histórico: ontem símbolo da elite predatória da redemocratização; hoje, reflexo de um Brasil em que “as Odetes reais saíram dos armários e perderam o pudor”.
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Entre vida e ficção, Debora Bloch sustenta um paradoxo: detesta a vilã, mas sabe que ela a colocou em um dos melhores momentos da carreira. “Odete aconteceu junto da minha maturidade como atriz. Estou igual pinto no lixo.”
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