Música

Ópera de Gilberto Gil, Paulo Coelho e Aldo Brizzi estreia durante a COP30

Ao Correio, Brizzi contou sobre estreia na COP30, em Belém, e propõe reflexão poética sobre a Amazônia e o clima

Belém será palco de uma estreia que promete marcar a história da ópera brasileira e o debate ambiental. Durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), a capital paraense receberá a I-Juca Pirama, ópera com composição de Gilberto Gil e Aldo Brizzi e libreto de Paulo Coelho. O espetáculo será apresentado nos dias 10, 11 e 12 de novembro, no Theatro da Paz, e encerra o XXIV Festival de Ópera do Theatro da Paz.

Ao Correio, o compositor e maestro Aldo Brizzi diz que a criação nasceu da vontade de unir arte e consciência ecológica em um mesmo gesto poético. “A ópera fala do espírito da fauna e da flora brasileira. É uma reflexão sobre o ser que vive na floresta amazônica e sua ligação profunda com o planeta Terra. Queríamos uma obra que dissesse tudo sem ser panfletária, que fosse poética, simbólica e tocasse pela beleza”.

Inspirada no clássico poema Juca Pirama, de Gonçalves Dias, a obra ganha uma nova leitura que une ancestralidade indígena, espiritualidade e crítica ambiental. Com 75 minutos de duração, a montagem é interpretada pelo Núcleo de Ópera da Bahia, o Coro Carlos Gomes de Belém, a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz e um grupo indígena do povo Huni Kui, do Acre.

Brizzi destaca que o ponto de partida foi uma ideia de Paulo Coelho, que sugeriu revisitar o poema de Gonçalves Dias em duas épocas, a antiga e a contemporânea. “Trabalhamos no libreto juntos. Há trechos originais do poema e novos textos que atualizam a história, conectando o passado indígena com os dilemas do presente, como o desmatamento e as queimadas”, afirma.

Gilberto Gil, parceiro de Brizzi em outros projetos, compôs a trilha ao lado do maestro e cantará na apresentação. “Escrevemos a música a quatro mãos, inventando melodias, harmonias e ritmos que unem a tradição lírica à energia da música brasileira”, conta Brizzi. No espetáculo, Gilberto Gil aparece em vídeo no prólogo, interpreta o Croá, o contador de histórias dos povos originários, e canta América infeliz, composição inédita inspirada em versos de Os Timbiras, também de Gonçalves Dias e também canta junto a ópera. 

A encenação, assinada por Brizzi, é feita pelo povo Huni kuin, grupo indigena do Acre, e Aldo aposta na simplicidade visual para amplificar a força simbólica da obra. “O cenário é formado por um tule translúcido, atrás do qual surgem projeções, indígenas e os próprios Gil e Paulo. O verde da floresta se transforma em vermelho quando o fogo consome tudo, até que surge um espelho que reflete e multiplica as imagens. É uma metáfora visual da destruição e da esperança”, descreve o maestro.

Os figurinos ecossustentáveis foram criados pelo artista e xamã Tukano Bu’ú Kennedy, produzidos por artesãos e coletivos indígenas da Amazônia com fibras e pigmentos naturais. A ópera, cantada em português, mescla canto lírico, música popular, dança, projeções e rituais indígenas e propõe um diálogo entre arte, ancestralidade e consciência ambiental.

Para Paulo Coelho, a estreia durante a COP30 é simbólica. “A obra vai revolucionar a ópera brasileira, com um trabalho magnífico de Aldo Brizzi e Gilberto Gil”, diz escritor. A renda obtida na apresentação de estréia será revertida em benefício para o povo indígena da Vila Dom Bosco, no Alto Rio Tiquié (AM), contribuindo para a preservação das línguas e saberes ancestrais da região.

*Estagiário sob a supervisão de Nahima Maciel.

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